47ª Assembleia da CNBB
Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Está reunida em Itaici-Indaiatuba, SP, durante dez dias, a 47ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil. São 330 bispos participantes, incluídos os eméritos. Em todo o Brasil existem 430 bispos. Já são 272 dioceses em todo o Brasil. Participa também o Sr. Núncio Apostólico.
O tema central da AG é Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil: Desafios e Diretrizes. Temas prioritários: Iniciação à vida cristã, ano catequético, missão continental. Outros temas: conjuntura social e eclesial, missionários no Brasil, semana da Amazônia, Igreja e Pastoral Indígena. Assuntos permanentes: relatório do Presidente, Liturgia, Comissão de Doutrina, economia, Colégio Pio Brasileiro de Roma, acompanhamento das Diretrizes Gerais. Além de comunicações, comemorações, dia de retiro, declarações e notas.
Esta Assembléia acontece em momento histórico para o mundo inteiro. A economia mundial está numa das crises mais profundas, e isso repercute mais acentuadamente nos povos que sofrem as necessidades básicas para a sobrevivência. Dado que os condutores da economia estão mais preocupados com as perdas dos lucros do que com os dependentes do ganho do trabalho que não está ao alcance de todos, podemos ao menos imaginar as agruras, sofrimentos, fomes, saúde pouco ou nada assistida de quantas populações. Isso atinge as periferias de todos os países do mundo.
Nós bispos não temos receitas técnicas para a crise. Temos sim algo a dizer sobre a ética dos procedimentos, o bem comum com atenção aos mais necessitados.
Já se tornou lugar comum dizer que vivemos hoje não simplesmente uma época de mudança, mas uma mudança de época. Isso afeta todo o mundo religioso. Para a Igreja Católica, por exemplo, depois de longos séculos de posse tranqüila do espaço cultural e religioso, deparamos hoje com um cenário marcado pelo pluralismo cultural e religioso.
Após as perseguições religiosas iniciais, houve articulação entre fé e cultura, que constitui o cerne da cultura ocidental e cristã helênica, latina e, depois, germânica. Ela constitui o húmus do desenvolvimento eclesiológico da cristandade medieval, dentro do sistema feudal.
Com o advento da modernidade, os pressupostas da homogeneidade cultural e religiosa – a cultura cristã ocidental e o Estado cristão – foram corroídos. O Estado moderno se tornou ‘laico’, tal como reconhecemos hoje na maioria dos paises do Ocidente. A pretensão de universalidade sofre as conseqüências da globalização. A cultura ocidental perde a aura de referência para as demais. É um dado de fato da nossa realidade.
Os postulados da modernidade ocidental são a autonomia e liberdade individuais, a liberdade religiosa e o individualismo, como forma de construir-se a si mesmo. Esses postulados penetram hoje nos corações e nas mentes, sobretudo nas novas gerações. Pode-se dizer que esse seja o núcleo da nova cultura pós-moderna. Ela traz consigo a perda da memória histórica, leva ao enfraquecimento das relações de pertença. Ao limite chega-se à ‘crença sem pertença’. A nova religiosidade ‘sem memória’ está centrada no indivíduo e em sua realização pessoal. Tende a se esgotar numa religião terapêutica, pragmática, intramundana. Uma religião “a la carte”.
Assim o paradigma tradicional da transmissão da fé eclesial entra em crise. O desafio é deslanchar um processo criativo de recomposição do modo de crer, de construir a comunidade e de criar as relações de pertença eclesial na nova moldura histórico-cultural.
No documento de Aparecida, os bispos latino-americanos tomaram consciência do fato novo do pluralismo, quando afirmam que a pastoral de conservação já não é suficiente para os nossos tempos. É preciso uma pastoral missionária (cf. 370). Devemos apostar num novo paradigma de transmissão da fé eclesial.
Nossa Assembléia procura aprofundar esta análise e procura indicar para nossas comunidades eclesiais algumas diretrizes que ajudem a cumprir o mandato que Cristo Jesus conferiu à sua Igreja: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 19-20).