Carta Aberta ao próximo Presidente da República
Maria Clara Lucchetti Bingemer
Senhora ou senhor,
Esta carta é escrita antes do segundo turno das eleições presidenciais, quando os brasileiros irão escolher se desejam a senhora ou o senhor como primeiro/a mandatário/a do país. Queria pedir aos dois candidatos que disputarão esse segundo turno que, por favor, dessem atenção a algo que, a meu ver, é a prioridade número um do Brasil: a educação.
Em recente pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro, do Ibope, a educação aparece como a quarta área que, segundo os eleitores, merece receber mais atenção do próximo presidente da República. Perde apenas para a segurança pública, a saúde e o emprego.
A pesquisa revela ainda que a educação cresceu em importância na consciência do eleitor desde a última eleição de 2006. Na ocasião, ocupava o 7º lugar no ranking, passando agora para o 4º. Isso é extremamente revelador no que diz respeito ao amadurecimento do eleitorado brasileiro. Pois significa que o brasileiro passou a priorizar áreas de resultado a longo prazo e não mais imediatismos.
Recordo-me bem quando o presidente que agora se retira disse em um de seus discursos que sua prioridade número um era a erradicação da fome. E que ele ficaria feliz se graças a seu governo o brasileiro pudesse fazer três refeições ao dia. Creio que por amor à verdade temos que reconhecer que realmente hoje em dia o problema da fome no Brasil se encontra em muito melhor situação do que antes. O brasileiro está comendo mais e melhor e tendo mais acesso aos bens de consumo.
Porém, é forçoso constatar que isso não basta nem plenifica o que significa um verdadeiro desenvolvimento humano. Pelo contrário, um programa de governo que só vise essas necessidades básicas e imediatas do ser humano não toca em uma dimensão essencial: o espírito, a transcendência. Somos seres em contínua auto-transcendência, que têm tanta fome de pão como de liberdade, seres que sentem frio e sede, mas são capazes de suportar essas duas carências para ouvir a música de que mais gostam em um concerto ao ar livre.
Nesse sentido, a educação é imprescindível para fazer do ser humano alguém digno deste nome. Sem educação, sem a mente e o espírito abertos pelo ensino e capaz de pensar e tirar suas próprias conclusões, não adianta a barriga cheia e a televisão na sala. O ser humano não está cumprindo sua vocação na terra, não está fazendo jus ao fim para o qual foi criado.
A pesquisa do Ibope mostra que os entrevistados apontaram, entre as medidas que os próximos governantes devem priorizar na questão da educação pública no país, a melhora do salário do professor em primeiro lugar. Isso também denota um grande amadurecimento, pois ressalta que o maior investimento deve ser feito no capital humano, muito mais do que na construção de prédios onde funcionem escolas. Que escola será esta, mesmo que tenha ótimas instalações, se não tiver educadores apaixonados por sua missão, que desempenhem seu trabalho com amor e entusiasmo e, sobretudo, competência?
Os eleitores, lúcidos e realistas, mostram que só haverá um corpo docente assim qualificado e empenhado se o mesmo for convenientemente valorizado, decentemente remunerado e tiver oportunidades de aperfeiçoar-se sempre mais. Não basta, portanto, multiplicar as escolas e manter os docentes com salários aviltados, tendo que dividir-se e exaurir-se em múltiplos empregos para poder sobreviver. Eles devem receber o necessário para poder investir na própria carreira, estudar e manter-se atualizados.
Senhora e senhor candidatos que disputarão o segundo turno, o recado do eleitor, de acordo com essa pesquisa, é bem claro. É preciso apresentar propostas consistentes para a área da educação.
Entendam, por favor, o que o eleitor diz em suas respostas.
Já não basta pão e circo para fazer o povo feliz. O brasileiro já não se contenta em ter a boca e o estomago cheios para considerar-se plenamente cidadão. A capacidade desejante de nosso povo cresceu. Graças a Deus!
Não existe povo digno deste nome sem educação. A educação tornou-se no Brasil uma prioridade sempre mais importante, encostando e até ultrapassando áreas que sempre foram priorizadas na expectativa eleitoral, como a saúde e a segurança.
Parece, futuro/a presidente, que nosso povo entendeu finalmente que só com educação se transforma um país. Apenas um povo educado sabe conduzir os destinos de sua nação, escolher seus governantes, reivindicar suas necessidades mais importantes, investir coletivamente em seu futuro.
É a educação que transforma a massa manobrável e manipulável pelos caudilhos e demagogos em povo que tem ideais e projetos consistentes. Por isso esta carta, esta reflexão e este pedido: priorizem a educação em suas agendas. O Brasil lhes agradecerá e a história lhes fará justiça.