Novo Bartolomeu de Las Casas
Egon Dionísio Heck
Zurich, histórica e calma, deu voz à alma de um grande lutador. O majestoso auditório da “Aula”, na Universidade, cuja unidade técnica é referência no mundo, acolheu D. Erwin, para homenagear as lutas dos que neste ano receberam o premio Nobel Alternativo. Na sua introdução, um decano da universidade, fez referência ao bispo D. Erwin como grande lutador pela causa dos povos da Amazônia, especial dos povos indígenas, como um novo Bartolomeu de Las Casas.
Descontraído e eloqüente, o bispo do Xingu e presidente do Cimi optou por uma dinâmica menos formal e convencional. Numa espécie de bate papo com um interlocutor, foi expondo seus pensamentos, sentimentos e lutas pela vida, a partir de sua fé e mística, sem temor, apesar das ameaças de morte. Ao discorrer sobre as agressões e violências contra os povos e a natureza, destacou a situação do povo Kaiowá Guarani, no Mato Grosso do Sul, que qualificou como a pior situação de um povo indígena que ele conheceu. Visitou algumas comunidades desse povo em março deste ano. Disse à ilustre platéia, de mais de 300 pessoas, que não era possível assistirmos no século 21 a continuidade de genocídios iniciados há mais de quinhentos anos, quando os primeiros europeus chegaram ao continente americano. Também narrou os principais embates hoje, como a questão da construção da hidrelétrica de Belo Monte. Fez menção das mentiras propagandeadas e escondidas nos discursos oficiais, orquestradas em favor das grandes empreiteiras, a quem, sobremaneira, interessam essas obras “faranônicas e apocalípticas”.
Foi longamente aplaudido. Com perspicácia e humor, com simplicidade profunda, D. Erwin trouxe uma importante contribuição para aqueles que estão buscando construir um outro mundo, que superem os atuais modelos econômicos e políticos que estão levando a humanidade ao precipício. Que o “bem viver” inunde o mundo, a partir dos Andes, chegando aos Alpes.