Natal: a festa é de todos
D. Odilo Pedro Scherer
O Natal comemora o nascimento de Jesus Cristo, a quem se refaz a origem do cristianismo. Por isso, é festa grande nas comunidades cristãs, com expressões religiosas e culturais exuberantes.
E a eles agrega-se a comunidade humana em geral pelo comércio aquecido, nas manifestações de calor humano e nas tradições populares, não necessariamente religiosas e cristãs. O Natal tornou-se festa para todos. E não é sem razão.
Os cristãos lembram no Natal que o Filho de Deus veio ao mundo e assumiu nossa humanidade, nascendo da Virgem Maria.
Por Ele, Deus manifestou sua bondade para com a humanidade e nos estendeu a mão, tornando-se próximo de nós, assumindo as feições e também as angústias e dores de cada ser humano. A todos trouxe alegria e indicou o caminho para a vida feliz e a realização plena dos anseios humanos.
Proclamamos que o Natal é obra de Deus -“Deus enviou ao mundo seu Filho” (Gálatas, 4,4)-, que deseja unir a si a humanidade: “Deus tanto amou o mundo, que lhe entregou seu Filho único”. Não veio para condenar, mas para salvar (cf. João, 3,16). Isso aparece também nas atitudes, na pregação e nas ações de Jesus, sempre à procura da “ovelha perdida”, pronto para aliviar as dores das pessoas.
O Natal traz motivos de alegria e de festa para toda a humanidade. O nascimento de Jesus manifestou que Deus ama com ternura e compaixão a todos; também aqueles que não creem, mas buscam luz e sentido para a vida.
E também os que se negam a pensar sequer na dimensão religiosa da existência: são igualmente amados por Deus, que por eles enviou seu Filho ao mundo. Pode-se rejeitar o amor de uma pessoa, mas não se pode impedir alguém de amar…
O Natal contagia e faz com que, por um momento, todos fiquem bons, lembrem do próximo, cumprimentem-se felizes, enviem mensagens de paz e deem presentes…
Multiplicam-se os apelos à superação da violência e à reconciliação; realizam-se ações solidárias incontáveis para aliviar os sofrimentos do próximo, mesmo sem saber quem ele é; intensificam-se gestões em prol da justiça nas relações sociais e internacionais; valoriza-se o que é belo e que toque a alma, amoleça o coração e faça o espírito sonhar…
O ser humano redescobre o que há de bom dentro dele. E como seria bom se fosse Natal todos os dias!
Será a nostalgia de um paraíso perdido ou sinal de um mundo desejado? Nada é mais condizente com o Natal, que a Igreja também comemora como dia da fraternidade universal. O Natal traz o anúncio de que Deus quer reunir a grande família humana num povo de irmãos, em que a solidariedade e o amor ao próximo sejam o modo normal de viver e conviver.
Mesmo assim, o Natal não muda as coisas como por encanto, com um toque de mágica, e o mundo continua a girar; é de se prever que ainda continuem a existir injustiças, guerras, violências, sofrimentos, desonestidades privadas e públicas… E, então, de nada valeu que o Filho de Deus tenha vindo ao mundo? Valeu!
Ele não veio na figura de um anjo de fogo, pronto a exterminar toda resistência, mas na forma de uma criança, de braços abertos, fraco com os fracos, pequeno com os pequenos. Não se substitui a nós, não tira nossas responsabilidades nem suprime nossa liberdade.
Faz-se próximo de nós, não estamos sozinhos no mundo, podemos contar com Ele. Experimentou nossa vida e valorizou tudo o que é nosso; fez-se “Emanuel, Deus no meio de nós”; está ao nosso lado, indica-nos o caminho por onde seguir e a verdade que ilumina o mistério da nossa existência. É motivo para desejar “Feliz Natal” a todos!
Artigo publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo