Dom Helder: Acusações e defesas
Márcio de Souza Porto *
Em 1970, um boletim interno, mimeografado, do Secretariado Regional Nordeste I da CNBB, presidido por Dom José de Medeiros Delgado, sob o título de ‘Dom Helder Camara: acusações e defesas’ fez um apanhado de notícias e artigos publicados nos grandes jornais do Brasil, a respeito de Dom Helder, desde maio daquele ano. Em relação às acusações, logo no início do boletim, vem assinalado que:
A imprensa brasileira vem desencadeando uma intensa campanha contra a pessoa de D. Helder Camara, Arcebispo de Olinda e Recife. Fatos comprobatórios estamos a encontrar diariamente nas páginas dos grandes jornais do país, numa prova concreta de que o Arcebispo estaria sendo tolhido nas suas manifestações. (1)
A primeira notícia reproduzida pelo citado boletim foi publicada no jornal “O Estado de São Paulo”, em 30 de maio de 1970 e é assinada por Gustavo Corção. O articulista ironiza a homenagem recebida por Dom Helder na Universidade de Louvain, na França, ao ser agraciado com o título de doutor honoris causa daquela instituição de ensino superior de origem católica. Em linguagem ríspida, Corção busca desqualificar todo e qualquer apoio recebido por Dom Helder em solo francês e diz textualmente:
Não há perigo. O Sr. Câmara não completou ainda a rede de viagens que sonhou, e ainda não percorreu todas as prostituídas Universidades ex-católicas que lhe trarão uma bandeja, para ser cuspido, o título de doutor “honoris causa”. (2)
Gustavo Corção sentia-se incomodado por Dom Helder ter sido recebido no “Palais des Sports”, sob aplausos de 15 mil pessoas, a convite do então bispo de Lyon, Dom Alexandre Renard, onde fizera conferência inclusive com a participação de representantes das Igrejas Reformada, Apostólica da Armênia, Ortodoxa Grega e Luterana. Dom Helder era combatido também por jornalistas franceses, como no caso de Jean Marc Kalfleche, do periódico Combat, em artigo reproduzido pelo “Estado de São Paulo” em 3 de julho de 1970. Na abertura do artigo, depois de dizer que seu intuito era reduzir Dom Helder às suas verdadeiras proporções, ataca fortemente o então Arcebispo de Olinda e Recife, dizendo:
Dom Helder Câmara desapontou um pouco seus admiradores franceses, com exceção daqueles que possuem a fé do carvoeiro, isto é uma fé simples e ingênua. O fato é que o Arcebispo de Recife mostra-se bastante diferente de sua caricatura fraudulenta divulgada pela boa imprensa. O que é esse rato de Igreja, pretensamente vermelho, que não canta a glória de S. Camilo Torres, nem o martírio dos índios assados no espeto? Dom Helder não consegue iludir com seu simplismo que só produz boas manchetes. (3)
O jornal “O Globo” de 11 de julho de 1970 reproduziu os principais momentos de uma conferência pronunciada por Gustavo Corção no Conselho Técnico da Conferência Nacional do Comércio em que afirmava que o Brasil estava em guerra. Numa guerra cujas fontes, origens e causas poderiam ser encontradas na França, no início da década de 1930. Sendo Paris o centro de uma disputa entre um humanismo e um desumanismo e que os meios de comunicação e publicidade estavam nas mãos daqueles que defendiam a guerra revolucionária, concluindo que não era de admirar a existência de uma propaganda tendenciosa de correntes que tentavam denegrir a imagem do governo brasileiro no exterior. Diz ainda que ao contrário do que se pensava não fora Dom Helder o primeiro a se levantar contra o Brasil no exterior, mas os provinciais dominicanos que publicaram na “Documentação Católica” uma carta lamentando o que estava acontecendo no país e ao mesmo tempo se solidarizando com os sacerdotes correligionários presos pelo Governo brasileiro.
Dom Helder era atacado por padres, bispos, deputados, jornalistas nacionais e estrangeiros e Arcebispos, como no caso de dom Vicente Scherer, de Porto Alegre que, em entrevista ao “Jornal do Brasil” de 30 de julho de 1970, diz que ele deveria usar o prestígio que possuía em alguns círculos europeus, para desmentir calúnias contra o Brasil e a Igreja brasileira. Dom Geraldo Proença Sigaud, então bispo de Diamantina (MG), declarou ao jornal “Estado de São Paulo”, em 05 de julho de 1970, antes de embarcar para Roma, que a realidade religiosa, política e social do Brasil se apresentava com uma imagem deformada na Europa, como resultado de uma campanha desenvolvida com este objetivo, acrescentando que a ideologia esquerdista dominava largos setores dos meios de informação, inclusive no campo católico. Após manter contatos na Santa Sé, Dom Geraldo dizia que seguiria para a Alemanha para proferir palestras na Baviera e em Wurtemberg, com o objetivo de alertar sobre a existência da campanha difamatória contra o Brasil, retificar o noticiário que se desenvolvia na Europa sobre o Brasil e refutar a imagem que Dom Helder havia espalhado sobre o País em cidades européias.
O “Correio do Ceará” (4) transcreveu artigo escrito por David Nasser construindo suspeitas sobre Dom Helder, indagando quem seria o financiador de suas viagens que denominava de “peregrinações do pior dos ódios”. O “Jornal do Brasil” de 31 de julho de 1970 trazia declarações do Deputado Federal Clovis Stenzel, da ARENA do Rio Grande do Sul, acusando o Arcebispo de Olinda e Recife de “conspurcar a imagem do nosso País e, mais do que isso, continua a dizer inverdades a respeito do que se passa em nossa Pátria”. (5)
Gustavo Corção, não satisfeito com os ataques desferidos contra Dom Helder Camara, escreveu no jornal “o Globo” de 9 de julho de 1970, um artigo no qual Dom Helder é identificado como partidário do terrorismo. Começa dizendo que o Brasil havia iniciado em 1969 uma luta cruel contra o desmantelamento da quadrilha de Marighella e o desmascaramento dos “maus religiosos” que desonravam a ordem dominicana. Aqueles que denominava de “agentes da guerra revolucionária” estavam a serviço de Havana, Pequim ou de Paris, realizando assaltos a bancos e seqüestros de embaixadores, conseguindo inquietar a opinião pública. Por outro lado, os rapazes assaltantes de bancos recebiam de Dom Helder, sem a menor hesitação, afeto e admiração, como ficava patente na entrevista dada por Dom Helder ao L’Express.
O Boletim do Regional Nordeste I reproduz, também, todas as defesas feitas em favor de Dom Helder na imprensa nacional e estrangeira, além de declarações pessoais do Arcebispo de Olinda e Recife, esclarecendo as acusações que lhe eram feitas de ser a favor da violência, sobre quem financiava as suas viagens, suas posições em face do marxismo e do socialismo. No final do documento, Dom Delgado fez publicar a “Voz de Um Bispo”, sobre Dom Helder Câmara, escrito pelo então Bispo de Crateús, Dom Antônio Batista Fragoso. Mais do que uma peça de defesa de Dom Helder, o escrito de Dom Fragoso é um desabafo contra a campanha de difamação da Igreja que se colocava ao lado dos pobres e oprimidos. Dom Fragoso identifica os difamadores, entre eles a 10ª Região Militar, que através de um informativo que se dizia “estritamente confidencial” sobre as atividades políticas, sociais e religiosas de Dom Helder, no final recomendava a divulgação a vários bispos, padres e instituições religiosas, com o único objetivo de desacreditá-lo moralmente dentro da Igreja, para que Dom Helder fosse mais facilmente preso, condenado e expatriado.
Para Moreira Alves (6), Dom Helder decidiu denunciar as torturas cometidas pelo regime militar contra presos políticos, após o assassinato, em 27 de maio de 1969, do padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto, o primeiro padre a perder a vida sob o terror da ditadura, seu assistente para o meio estudantil, pelo Comando de Caça aos Comunistas, em Recife. De acordo com o Boletim do Secretariado Arquidiocesano de Olinda e Recife – CNBB (7), o Padre Antônio Henrique Pereira Neto tinha 29 anos, era natural de Recife e tinha feito seus estudos eclesiásticos, nos Seminários de Olinda e de João Pessoa, na América do Norte e no Seminário Regional do Nordeste. Foi ordenado sacerdote, pelo Arcebispo Dom Helder Camara, aos 25 de dezembro de 1965, na Matriz de Nossa Senhora do Rosário da Torre, onde havia sido batizado.
Na tarde do dia 26 de maio, como sempre fazia, recebeu vários jovens, no Juvenato Dom Vital, onde permaneceu até pouco depois das 19 horas. Daí saindo, esteve no bairro do Dérbi, na casa da família de um estudante, reunido com outros jovens recifenses. Saindo do Dérbi, dois estudantes levaram-no em condução própria ao Bairro do Parnamirim, onde participou de uma reunião de pais e filhos. Daquele local saiu por volta de 22:30 horas. Uma família que saiu da casa da reunião um pouco depois observou que o padre Antônio Henrique conversava no largo do Parnamirim com algumas pessoas que estavam em uma caminhoneta e com as quais parecia estar partindo.
No dia seguinte, a polícia recebeu a denúncia de que havia uma pessoa morta, em lugar ermo da Cidade Universitária. Um pouco antes das 14 horas, as autoridades eclesiásticas foram avisadas do ocorrido, tendo sido identificado o corpo, definitivamente, no Necrotério Público. Desde que teve notícia do ocorrido, Dom Helder, acompanhado do Bispo Auxiliar, Dom José Lamartine, do Abade do Mosteiro de São Bento, dos Vigários Episcopais e de vários sacerdotes e leigos, dirigiram-se ao necrotério até a conclusão da autópsia.
O sacerdote foi amarrado, arrastado, recebeu três tiros na cabeça e torturas. Dom Basílio Penido, Abade do Mosteiro de São Bento, e médico, acompanhou toda a necropsia. Todos os golpes atingiram a cabeça e o pescoço.
Por volta das 20 horas do dia 27 de maio, o corpo foi conduzido para a Matriz do Espinheiro, onde houve concelebração às 21 horas, com a participação de quarenta sacerdotes e centenas de jovens. Na quarta-feira, dia 28 de maio, houve nova concelebração de quarenta sacerdotes com Dom Helder. O Arcebispo de Olinda e Recife garantiu aos grupos de jovens que não ficariam órfãos. Após as últimas orações dos funerais, na Igreja, o corpo foi conduzido, para o sepultamento por milhares de pessoas a pé. No cruzamento da rua Visconde de Irajá com a rua Visconde de Albuquerque, o cortejo foi interceptado por um pelotão da Polícia Militar. Houve um início de pânico, mas logo se restabeleceu a calma. O Pe. Isnaldo Fonseca dirigiu-se ao comandante que o atendeu e explicou não se tratar de qualquer ação contra o enterro. Porém, não seria permitida a condução de várias faixas com dizeres que denunciavam o bárbaro assassinato do pe. Antônio Henrique. Os policiais militares recolheram rapidamente todas as faixas que continham protestos contra o brutal assassinato do pe. Antônio Henrique Pereira Neto. O cortejo prosseguiu até a Matriz da Torre, onde houve uma parada. Neste templo, o Pe. Antônio Henrique fora batizado, havia feito a primeira comunhão e fora ordenado sacerdote. Dom Helder lembrou estes acontecimentos. O povo foi consultado se o corpo poderia ser conduzido dali para o cemitério da Várzea, em carro, pois ainda faltavam cerca de seis quilômetros para o local do enterramento. A multidão resolveu continuar a pé até o final, ocupando a Avenida Caxangá, passando pela Cidade Universitária até o cemitério. Foi como que um trajeto de reparação, cobrindo possivelmente a trilha do crime, pelo menos em parte. O corpo baixou á sepultura por volta das 13:30 Hs. Dom Helder proferiu algumas palavras e após alguns minutos de silêncio foi rezado um “Pai Nosso”, seguido do hino “Prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão”, da Campanha da Fraternidade.
Na entrada da Cidade Universitária, foi preso o deputado federal cassado, Osvaldo Lima Filho, que acompanhava o enterro e, na Avenida Caxangá, foi registrada também a prisão de um soldado do Corpo de Bombeiros, amigo da família do pe. Antônio Henrique, que ajudava a conduzir o caixão.
No jornal “Diário de Pernambuco”, de 6 de julho de 1969, foi publicada a notícia de que o enfermeiro Ives José Siqueira, que trabalhava e residia em Parnamirim, em depoimento prestado à Secretaria de Segurança Pública, afirmou ter visto Rogério Matos do Nascimento, à noite, às vésperas do crime, dentro de uma Rural com um revólver na mão, juntamente com um comparsa. Embora a Comissão Judiciária, encarregada do Inquérito, nomeada pelo Governador de Pernambuco, já tivesse encerrado seus trabalhos, em razão da importância da testemunha, seus membros assistiram ao depoimento do enfermeiro durante uma hora.
Em 9 de julho de 1969, o Promotor de Justiça da 7a. Vara Criminal, Massilon Tenório Medeiros, denunciou Rogério Matos do nascimento, de 26 anos, ex-estudante e sem profissão, pelo assassinato do Pe. Antônio Henrique Pereira Neto.
Logo que circulou a trágica notícia do trucidamento do Pe. Antônio Henrique, Dom Helder recebeu inúmeras mensagens de solidariedade e de pesar, por telegramas e cartas do Brasil e de diversas partes do mundo, entre as quais a do Papa Paulo VI, do Secretário de Estado do Vaticano, da Presidência do CELAM, da CNBB, de Bispos, Arcebispos, sacerdotes, religiosas e leigos.
A imprensa de Paris divulgou, em 9 de junho de 1969, um apelo em favor do Brasil, com o seguinte texto:
O assassinato do Pe. Antônio Henrique Pereira Neto, assistente da Juventude Católica de Recife, revela brutalmente à opinião mundial a violência dos grupos ocultos que, pelo terror, procuram matar no povo brasileiro toda esperança de libertação. Bispos e padres são os últimos sob o regime militar e ‘católico’, em vigor a poder falar aos pobres. Um a um, estes últimos defensores são reduzidos ao silêncio. Proclamando nossa solidariedade com os 30 padres e leigos cujos nomes se encontram na mesma lista negra do Pe. Pereira Neto, assassinado; – Dom Helder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife, cuja casa já foi metralhada; – o Pe. Geraldo Bonfim, condenado no dia 15 de maio, a um ano de prisão pela Justiça Militar de Fortaleza; – os padres. Antonio Alberto Soligo e João Talpes, presos em São Paulo; – Mário Carvalho de Jesus, o advogado dos trabalhadores de São Paulo, preso de 25 de abril a 10 de maio último; – os padres franceses e americanos expulsos ou acusados nestes últimos meses; – e tantos outros bispos, padres e leigos expostos às ameaças dos terroristas ou à inquisição policial; – nós pedimos, com eles, justiça para todos os brasileiros privados de seus direitos políticos, expulsos das universidades, entregues sem defesa à exploração capitalista, privados das mais elementares garantias jurídicas, – O governo brasileiro dispõe de um poder absoluto; nós lhe dirigimos um apelo em nome dos princípios que ele se atribui a fim de que use deste poder não somente para impedir a periculosidade dos comandos que multiplicam impunemente os atentados, mas ainda para restabelecer o pleno exercício dos Direitos do Homem. Nós dirigimos um apelo, igualmente, à opinião francesa e internacional, a fim de que ela empreste sua voz ao grito abafado de um povo oprimido (8)
No documento, constavam as assinaturas de Jean et Odile Bassé; José de Broucker, des Informations Catholiques Internationales; Robert Buron; Michel de Certeau S. J.; Jacques Chantagner de Temps Présent; Marie-Dominique Chenu O.P.; Pasteur Jean Casali et Mme.; André Cruiziat de Vie Nouvelle; Vicent Cosmao O. P.; Jean Marie Domenach de la Revue Esprit; Pierre et Bernadette Drouet; Abbé Michel Duclercq; Edouard Gueydan S.J.; Aumôner National des Latino-Américains; René Rémond; Mme. Emmanuel Mounier; Pierre Haubtmann, Recteur de L’Institute Catholique de Paris; Henri Lê Duan, Président de L’A.C.O.; Pasteur Lochart, de Christianisme Sociale; Dr. Jean Merilhou; La Paroisse Universitaire; Elia Perroy; Hélène Prouet; Guy Riobé, évêque d’ Orléans et Président du Comité Episcopal Français pour l’Amerique Latine, Pére Congar e outras 400 assinaturas.
Dom Helder Camara, a partir da década de 1970, passou a ser o Bispo da Igreja Católica mais conhecido do mundo, por seu engajamento social e enfrentamento do regime militar no Brasil. Nos anos 60, embora muito mais cauteloso que os membros da Juventude Universitária Católica (JUC), nunca deixou de apoiar seus militantes e de assumir posições reformadoras dentro do catolicismo, o que já o colocava à frente da maioria do clero brasileiro ainda bastante conservador. Os confrontos entre a Igreja e o Estado se acirraram, quando, em 1970, Dom Helder denunciou a tortura no Brasil, durante uma palestra em Paris (9). A represália da ditadura não tardou, e em 1972, em plena Semana Santa, o Pe. José Comblin, assistente de Dom Helder, Coordenador dos Estudos Teológicos do Instituto de Teologia de Recife (ITER), ao tentar desembarcar na capital pernambucana, foi impedido de fazê-lo, obrigado a seguir viagem até o Rio de Janeiro. Nesta capital passou todo o dia 24 de março de 1972 e, no final da tarde, foi embarcado para Bruxelas. Antes do embarque forçado, o Pe. Comblin foi comunicado de que havia um Decreto proibindo-o de desembarcar em qualquer parte do território nacional. Durante o interrogatório, os agentes do aparato repressor do Estado, mostraram-lhe uma carta que ele havia escrito a Dom Fragoso, na qual fazia referências à participação que tivera em um curso de Pastoral, no município de Crateús. O Secretário Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na época, Dom Ivo Lorscheiter, informado do que estava acontecendo no Galeão, ali permaneceu a tarde inteira, buscando em vão avistar-se com o Padre. As autoridades afirmavam que ninguém estava detido no Aeroporto, muito menos, um padre.
Dom Helder protestou, por escrito contra o banimento do Pe. Comblin, em Recife, no dia 28 de março de 1972, usando as seguintes palavras:
Quem não percebe que o episódio “Comblin” é um capítulo do que vem acontecendo em todo o país com a Igreja, na medida em que ela recusa a continuar servindo de suporte a estruturas de opressão e compromete-se, de modo pacífico, mas válido, com o Povo e a sua libertação? O que há de particularmente grave no caso “Comblin” é que ele é mais um testemunho da marginalização da classe pensante. Ai de quem ousar ter e exercer consciência crítica, ao menos no tocante ao Governo e seus planos.
Quanto ao Povo, se sabe que ele está banido dentro do próprio país, por mais que, em teoria, se proclame que a meta é o homem. E tudo isso se passa em vésperas da abertura das comemorações oficiais do sesquicentenário de nossa independência política. Patriotismo, amor ao Brasil não será a coragem cívica de lembrar que é básico para termos condições morais de festejar o 7 de setembro de 1972 a abolição pura e simples do Ato Institucional nº 5? (10)
Notas:
(1) Cf. Boletim do Secretariado Regional Nordeste I da CNBB. Mimeografado, s/d. 16 p. Arquivo da Sala de História Eclesiástica da Arquidiocese de Fortaleza (SHEAF).
(2) Idem. p. 2.
(3) Ibid,.
(4) Jornal Correio do Ceará, de 23 de julho de 1970.
(5) Cf. Boletim do Secretariado Regional Nordeste I da CNBB.
(6) ALVES, Márcio Moreira. Op. Cit. p. 185-186.
(7) Notícia Sobre o Bárbaro Trucidamento do Padre Antonio Henrique Pereira da Silva Neto, no Recife, a 27 de maio de 1969. Boletim do Secretariado Arquidiocesano de Olinda e Recife (PE). Assessoria de Opinião Pública. Datilografado em 18 de julho de 1969. 14 p. Arquivo da Sala de História Eclesiástica da Arquidiocese de Fortaleza.
(8) Ibid., p. 10.
(9) Ver SERBIN, Kenneth P. Padres, Celibato e conflito social: uma história da Igreja católica no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p 260 – 64.
(10)Comunicado da Arquidiocese de Olinda e Recife, datilografado e assinado por Dom Helder Camara, em 28 de março de 1972, em Recife. Acervo da Sala de História Eclesiástica da Arquidiocese de Fortaleza (SHEAF).
* Mestre em História Social – UFC. Doutorando em Sociologia – UFC
(Artigo publicado originalmente na Agência Adital)