Novo começo – comentário de Pagola ao Evangelho
José Antonio Pagola
Aterrorizados pela execução de Jesus, os discípulos se refugiam em uma casa de conhecidos. Estão reunidos novamente, mas Jesus não está mais com eles. Na comunidade há um vazio que ninguém pode preencher. Está faltando Jesus. Não é possível ouvir as suas palavras de fogo. Eles não podem vê-lo a abençoar com ternura os infelizes. Quem é que eles vão seguir agora?
A noite está caindo em Jerusalém e também nos seus corações. Ninguém pode lhes consolar da sua tristeza. Aos poucos, o medo está tomando conta de todos, mas não tem Jesus para fortalecer o seu ânimo. A única coisa que lhes oferece alguma segurança é “fechar as portas”. Ninguém pensa em sair pelos caminhos anunciar o reino de Deus e curar a vida. Sem Jesus, como podem contagiar à sua Boa Nova?
O evangelista João descreve de forma insuperável a transformação que se produz nos discípulos, quando Jesus, cheio de vida, se apresente no meio deles. O Ressuscitado está de novo no centro da sua comunidade de seguidores. Assim será para sempre. Com ele tudo é possível: se libertar do medo, abrir as portas e colocar em marcha a evangelização.
Segundo o relato, a primeira coisa que Jesus infunde na sua comunidade é a sua paz. Nenhuma queixa por abandoná-lo, nem repreensão, nem reprovação. Só paz e alegria. Os discípulos sentem o seu espírito criativo. Tudo começa de novo. Impulsionados pelo seu Espírito, continuaram a colaborar ao longo dos séculos no mesmo projeto salvador que o Pai confiou a Jesus.
Hoje, o que a Igreja precisa não é apenas reformas religiosas e apelos à comunhão. Precisamos experimentar nas nossas comunidades um “novo começo” a partir da presença viva de Jesus no meio de nós. Só Ele tem que ocupar o centro da Igreja. Só Ele pode impulsionar a comunhão. Só Ele pode renovar os nossos corações.
Os nossos esforços e trabalhos não são suficientes. Só Jesus pode provocar a mudança de horizonte, a libertação do medo e os receios, o novo clima de paz e serenidade tão necessário para abrir as portas e ser capazes de compartilhar o Evangelho com os homens e as mulheres do nosso tempo.
Mas devemos aprender a acolher com fé a sua presença no meio de nós. Quando Jesus se apresenta de novo após oito dias, o narrador diz que ainda as portas continuam fechadas. Não é apenas Thomas quem deve aprender a acreditar com toda a confiança no Ressuscitado. Também os outros discípulos devem superar aos poucos as dúvidas e os medos que ainda os fazem viverem com as portas fechadas à evangelização.