Seminário “Grandes obras e migrações”
Alexandre Nunes
No último dia 13 foi realizado no ITESP- Instituto Teológico de São Paulo, o seminário “Grandes Obras e Migrações” organizado pelo SPM – Serviço Pastoral dos Migrantes; CEM – Centro de Estudos Migratórios; CSEM – Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios; CETESP – Comissão de Estudantes de Teologia e Ciências da Religião de São Paulo e ITESP.
O seminário abordou a temática dos deslocamentos populacionais provocados por grandes obras de desenvolvimento – como barragens, usinas hidrelétricas e portos – sob o ponto de vista de pesquisadores, movimentos sociais, pastorais da Igreja e do governo.
Participaram do debate figuras ilustres como Dom Demétrio Valentini, Dr. Heinz Dieter Heidemann, Dom Antonio Possamai, Dom Luís Flávio Cappio, Talita de Souza Correia, Marilda aparecida de Menezes, Carlos Bernardo Vainer, Arsenio Oswaldo Sevá Filho e Luiz Dalla Costa.
Quem abriu os trabalhos foi o Presidente do SPM, bispo de Jales e Presidente da Cáritas Brasileira, D. Demétrio Valentini. Ele abordou temas como o Código Florestal, sustentabilidade e alertou que os legisladores não sabem diferenciar vertentes de córregos, riachos e rios. “Igualar 10 metros com ½ palmo d’água é ignorar a realidade”, afirmou.
Depois a palavra foi passada a D. Antonio Possamai, bispo emérito de Ji- Paraná e referência para as atuais lutas de preservação ambiental e justiça social da região.
Ele iniciou lembrando que a História da humanidade foi marcada por sucessivas migrações (mudanças climáticas, fome, guerras, perseguições, religião e agora grandes projetos).
Sobre a Amazônia, Dom Possamai explicou que os grandes projetos são decididos fora da Amazônia e ela sempre foi vista como lugar de tirar, extrair. Ele também mostrou que a visão do Regime Militar, época da grande migração à Amazônia era a de “terra sem gente para gente sem terra, ignorando os índios, quilombolas e nativos que não eram considerados humanos.
Sobre a Amazônia atualmente, ele afirmou que os responsáveis pelo seu desmatamento não são os pequenos produtores, mas sim os grandes madeireiros, fazendeiros e mineradores.
Quando abordou a construção das hidroelétricas na região, D. Possamai fez um questionamento: Por que a civilização moderna é insaciável por energia?
Dom Frei Luís Flávio Cappio, Bispo de Barra/BA, que realizou a peregrinação do São Franscisco, caminhando por um ano da nascente a foz e que fez duas greves de fome em protesto ao projeto da transposição do Rio São Francisco iniciou sua explanação lembrando que os migrantes nordestinos que vieram para São Paulo, tinham o intuito de melhorar suas condições de vida e isso o fez ir ao nordeste para conhecer a sua realidade e ali acabou conhecendo muito mais sobre o Rio São Francisco, que, segundo ele, é a garantia de subsistência da população. “O rio é o pai e a mãe de milhões de seres humanos, o povo se asperge, se benze no contato com a água de seu rio.
Projeto de morte do Rio São Francisco:
Conheceu este projeto com uma caminhada por suas margens entre 04 de outubro de 1993 e 04 de outubro de 1994, da nascente na Serra da Canastra a sua foz entre Alagoas e Sergipe. Ele percebeu que o projeto que, segundo o governo, era de levar água ao povo, na verdade é garantir a segurança hídrica dos grandes projetos agroindustriais. “Trata-se de uma obra socialmente injusta”, reclama.
Matéria publicada em www.provinciasaopaulo.com