O encontro da esperança
Marcelo Barros *
A humanidade inteira acolheu com esperança nos olhos a posse do novo presidente dos Estados Unidos, do qual, depende muito da paz do mundo e a estabilidade em nossos países pobres. Todo mundo sabe que Obama ou Bush pertencem a um mesmo sistema com sua história, seus condicionamentos e seus interesses que vão além da abertura de coração deste ou daquele presidente. Cada vez mais um número maior de pessoas se dá conta de que só a própria sociedade civil, organizada internacionalmente, terá forças para transformar este mundo cansado e corrompido. É o que, durante esta semana, mais de cem mil pessoas de 123 países do mundo estão fazendo, ao se encontrar para o 9º Fórum Social Mundial, desta vez em Belém, PA.
O tema geral do Fórum não poderia ser outro do que a Amazônia. Ali se encontrarão todos os povos e todas as raças da Pan Amazônia. Os desafios são imensos. No ano passado, de acordo com revistas internacionais, o Brasil vendeu somente no sul 2 milhões e 200 mil hectares de terra. Quanto terá vendido da Amazônia?
A crise econômica mundial e a violência da guerra na Palestina influirão muito nas discussões e debates que se fazem nos mais diversos planos para poder ter repercussões no plano local. O Fórum Social Mundial é um espaço de diálogo, o que muitos setores da sociedade não levam a sério. Para eles, só vale o poder das decisões oficiais. Ao contrário, a humanidade ligada aos movimentos da sociedade civil tem desenvolvido o conceito de democracia participativa, na qual todos têm direito a dar opinião e o mais importante não é fazer de imediato concretamente no atacado, mas de fato o que pensar e que caminho de vida tomar.
O tema da Agenda Latino-americana de 2009 começa como sempre com a carta do bispo Dom Pedro Casaldáliga, que diz: “Nossa Agenda nasceu e vem caminhando sempre à luz e sob o estímulo da Utopia. Uma Utopia indefinida nos seus contornos e em sua hora, (porque, justamente é aberta aos acontecimentos), mas irrenunciável a partir do nosso compromisso com o humanismo integral”.
A sociedade em que vivemos faz questão de assassinar os melhores projetos de esperança, mas quando o grupo dos ricos falha, eles se voltam para o G20, aliança dos mais pobres e presidentes que no começo achavam o fórum social sem importância, hoje, vão todos se encontrarão nesse fórum, inclusive Lula que nos primeiros anos preferiu ir ao fórum econômico de Davos, hoje totalmente esvaziado.
Dom Pedro Casaldáliga esclarece: “A Utopia continua, apesar de todos os pesares. Escandalosamente desatualizada nesta hora de pragmatismos, de produtividade a todo custo e de pós-modernidade escarmentada. (…) Essa Utopia está em construção, somos operários dela. proclamando-a e fazendo-a dom de Deus e nossa conquista. Assim, queremos “dar razão da nossa esperança” (1 Pd 3). Intentemos, então, viver com humildade e com paixão, uma esperança coerente, criativa, subversivamente transformadora”.
No fórum social de 2005, em Porto Alegre, muita gente participou de um debate entre José Saramago e Eduardo Galeano. O professor português defendia que a utopia não é real e só serve para enganar as pessoas. Galeano recordou uma cena de um de seus livros de contos indígenas, no qual um índio pergunta à Utopia: “Vejo você no horizonte e corro atrás de você, mas parece que cada passo que eu dou você se afasta dois para mais longe. Para que, então? E Ela respondeu:
– Para fazer você caminhar.
* Monge beneditino e escritor
Rinalda
jan 28, 2009 @ 20:05:11
Apesar das ínúmeras críticas feitas por vários setores da sociedade mundial, incluindo a nossa, contrários à realização do Fórum Social Mundial, ao argumento de que somente as decisões oficiais é que tem valor, me incluo entre aqueles que acreditam na importância do FSM para a transformação do mundo, pois é nesse espaço livre que participarão todos os grupos da sociedade civil engajados nesse mesmo propósito, esperançosos pela construção de um mundo solidário, justo e pacífico.