A indignação está no ar! Mas não é suficiente
Jung Mo Sung
Após décadas do anúncio e contínuo reforço da ladainha de que “não há alternativa”, o mundo parece se encher de indignação; a tal ponto de que essa começa a se extravasar através de diversas formas. Algo deu errado nessa pregação.
A repetição constante da ideologia neoliberal – de que não há alternativa ao sistema de mercado capitalista e que o único caminho é o da “purificação” da economia com a expulsão do Estado e a liberdade total do mercado – deveria, supostamente, levar pessoas a aceitarem a realidade como ela é. Afinal, se não há alternativa, não há porque se revoltar. Ou melhor, revoltar-se contra o que não pode ser mudado é um ato infantil de quem ainda não amadureceu e não sabe ainda aceitar a vida como ela é.
É claro que, para os neoliberais convictos e outros grupos ideológicos e/ou religiosos “fatalistas”, o principal grupo dos “infantis” é o da esquerda (aqui incluído o cristianismo de libertação) que ainda teimam em afirmar que a vida e o mundo podem ser diferentes. Porém, felizmente, a vida é muito mais complexa e rica do que os neoliberais ou qualquer outra ideologia ou teologia que pensam conhecer “a” realidade e o “futuro da humanidade”. Assim, a vida sempre nos prega surpresas.
E uma das surpresas que aconteceu no centro do capitalismo nos últimos anos veio exatamente da direita: o “Tea Party”. Esse grupo é tão conservador e radical que não se opõe somente ao que eles chamam de “política socialista” do governo Obama, e à pessoa de Obama, mas também a uma visão mais “cosmopolita” ou moderna do capitalismo globalizado. Ironicamente, o Tea Party também afirma, com outras palavras, que “outro mundo é possível”; também está indignado com atual globalização capitalista.
Felizmente, entrou no cenário internacional, desde setembro último outro grupo de indignados: o dos “ocupem Wall Street”, que se espalhou pelas diversas partes do mundo e que podemos chamar aqui de “ocupem o mundo”. Esse movimento tem recebido muito apoio e cobertura, especialmente nos Estados Unidos onde a crise atingiu severamente as camadas baixas e médias.
Ainda é cedo para saber onde vai dar esse movimento ou até mesmo para compreender as novidades desse tipo de movimento em relação aos movimentos sociais e políticos do século XX. Com certeza, esse movimento não se parece com aqueles organizados ou liderados por partidos de esquerda ou sindicatos; também não é igual aos movimentos de contestação de 1968. Contudo, por mais novos e diferentes que sejam, esses movimentos de indignados vão precisar articular pautas, objetivos e estratégias de mudança social e política. Pois, se o protesto se mantiver somente no nível de exigência de reformas de caráter político-ético (mais apoio à população e não aos grandes bancos; menos corrupção etc.), está supondo que esse mesmo sistema capitalista é capaz de atender essas demandas e realmente “governar” para as necessidades e direitos da grande massa da população. Que no fundo, uma alternativa real não é possível ou não é necessária.
Alguns dos indignados mais radicais poderiam contra-argumentar dizendo que a alternativa radical é uma sociedade que não precise de estruturas econômicas, sociais e políticas alternativas; porque essa nova sociedade seria autogerida espontaneamente na fraternidade de todas as pessoas. Esse tipo de imaginação soa bastante belo e atraente, um horizonte que nos chama ao protesto e ação, mas por si só não nos possibilita construir uma outra sociedade.
Manifestação pública da indignação é o primeiro passo para afirmar publicamente a nossa humanidade que transcende às ideologias e sistemas totalitários. Mas, não é suficiente. O desafio é como a partir dessa indignação pensar e lutar por novas estruturas sociais e políticas que sejam mais parecidas –apesar de nunca serem iguais– às nossas imaginações de um mundo realmente livre. Pois como disse Paulo, “foi para a liberdade que Cristo nos libertou!”.
Ivan Tadeu
nov 01, 2011 @ 01:15:09
“Muitos católicos que professam a doutrina da Igreja mas estão dominados pelo espírito revolucionário são mais perigosos que os inimigos declarados, pois combatem a Cidade Santa dentro de seus próprios muros, e bem merecem o que deles disse o Papa Pio IX”:
“Embora os filhos do século sejam mais hábeis que os filhos da luz, seus ardis e… suas violências teriam, sem dúvida, menor êxito se um grande número, entre aqueles que se intitulam católicos, não lhes estendesse mão amiga. Sim, infelizmente, há os que parecem querer caminhar
de acordo com nossos inimigos, e se esforçam por estabelecer uma aliança entre a luz e as trevas, um acordo entre a justiça e a iniqüidade por meio dessas doutrinas que se chamam católicoliberais, as quais, apoiando-se sobre os mais perniciosos princípios, adulam o poder civil quando ele invade as coisas espirituais, e impulsionam as almas ao respeito, ou ao menos à tolerância das leis mais iníquas. Como se absolutamente não estivesse escrito que ninguém pode servir a dois
senhores.
São eles muito mais perigosos certamente e mais funestos do que os inimigos declarados, não só porque lhes secundam os esforços, talvez sem o perceberem, como também porque, mantendo-se no extremo limite das opiniões condenadas, tomam uma aparência de integridade e de doutrina irrepreensível, aliciando os imprudentes amigos de conciliações e enganando as pessoas honestas, que se revoltariam contra um erro declarado. Por isso, eles dividem os espíritos, rasgam a unidade e enfraquecem as forças que seria necessário reunir contra o inimigo.” (Papa Pio IX)