Vicariato do Povo da Rua mostra a jornalistas trabalho da Igreja na Cracolândia
“Todos dizem: ‘Tinha que ser feito alguma coisa’. E ter que fazer alguma coisa, não significa fazer qualquer coisa e não significa fazer a pior coisa”.
Com essa afirmação, o vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, padre Julio Lancellotti, abriu, na manhã de terça-feira (10), uma entrevista coletiva à imprensa, na Casa de Oração do Povo de Rua. Durante o encontro com a mídia, o vigário episcopal criticou os métodos adotados pelo poder público junto aos dependentes químicos da região conhecida como Cracolândia, no centro da capital, e apresentou resultados positivos de trabalhos da Igreja realizados com essa população.
Segundo ele, o uso da força e da violência não se justifica, pois é preciso“deixar claro” que “não é a bala de borracha, não é o cassetete, não é a perseguição […] que vão resolver o problema”.
O padre apresentou alguns ex-dependentes químicos que, com a ajuda de grupos da Igreja que possuem um trabalho atuante e antigo, decidiram sair da Cracolândia e buscar maneiras de se livrar do vício.
Como afirmou o arcebispo metropolitano de São Paulo, cardeal dom Odilo Pedro Scherer, em entrevista ao jornal “O São Paulo” (distribuída na coletiva de imprensa), “a Igreja tem seu método próprio, muito eficaz, para tratar com o problema e para recuperar os dependentes”.
Entre os depoimentos dados na coletiva, o que se viu foi muita emoção por parte de cada ex-usuário. O que eles sempre falavam, e que o padre Julio repetiu diversas vezes, foi a importância do amor, da atenção, do cuidado. Para Marina Silva Oliveira, 30, “o abraço do padre foi um refrigério para minha alma”.
Marina, que está há cerca de 15 dias sob os cuidados da Comunidade Missão Belém, conta que já tentou por quatro vezes se libertar do vício e se diz emocionada. “Não somos esse lixo que eles pensam, para quererem acabar com nossa vida”.
Padre Julio reiterou que o trabalho é difícil, pesado e exige esforço e, por isso, que os lugares de recuperação não podem se fechar aos casos reincidentes, como o de Marina, e devem estar abertos para acolher aqueles que buscam tratamento, mesmo que estes venham a ter recaídas.
Para finalizar, o vigário falou sobre a internação compulsória e disse que “compulsório deve ser o CAPs 24h (Centros de Atenção Psicossocial)”. Padre Júlio disse, ainda, que “gostaria que o poder público falasse onde está tendo atendimento, onde estão os consultórios de rua, treinamento constante dos agentes de saúde”.