Fórum Social Mundial: Sonhar outro mundo possível
Rafael López Villaseñor
O oitavo fórum social mundial (fsm) aconteceu em Belém (Brasil) de 27 de Janeiro a 1º de fevereiro de 2009, reunido em torno do problema da ecologia, contou com aproximadamente cem mil participantes, vindos dos cinco continentes do mundo, todos com o objetivo de construir o sonho da pluralidade de um “outro mundo possível” sem desmatamentos, sem guerras, sem fome, sem discriminação, sem preconceitos raciais, religiosos ou de gênero…
A formação de “outro mundo possível” supõe uma recriação de todos os valores entre os homens e as mulheres, que permita a transformação do velho sistema capitalista neoliberal de morte, que está em profunda crise, num novo sistema de vida, de solidariedade, de partilha. O “outro mundo possível” é a utopia e sonho de um lugar maravilhoso que ainda não tem lugar, mas que poderá ter lugar futuramente. As expectativas de uma situação melhor no futuro, ainda sem lugar, exercem uma função crítica ao presente existente. Lutar por “um outro mundo possível”, aponta para uma defasagem entre o real existente e o futuro desejável. Os sonhos e as utopias são o oxigênio e a esperança da vida humana.
A Construção de outro mundo será que é possível? Os movimentos populares políticos e religiosos afirmaram no fsm que é possível fazer acontecer um outro mundo, através da organização popular, da solidariedade, das lutas sociais, com suas diversas bandeiras de organização, que geraram novos projetos políticos, sociais, econômicos, raciais, ecológicos, etc. Uma sociedade, que gere vida para todos a partir da satisfação das necessidades básicas, como pão, terra, moradia, educação, saúde e uma vida mais digna sem qualquer tipo de preconceitos.
Ao longo da história foram surgindo muitas utopias, muitos sonhos, que tentaram criar e recriar um “outro mundo possível”, como “a terra sem males” dos Tupi Guarani, o socialismo, o comunismo, entre outros. Elas foram surgindo como um protesto contra a ordem opressora estabelecida. Porem, nem toda utopia é revolucionária, nem toda revolução é utópica e o triunfo de uma utopia pode ser a sua morte. Infelizmente os últimos anos estão marcados pela perda acentuada das grandes utopias, o fsm é uma das poucas bandeiras que ainda recria o sonho e a utopia do “outro mundo possível” pluralista e solidário.
As utopias concretas nascem em momento de crise, de transição, de agonia da história. Seu lugar de nascimento são as lutas, as rebeliões, as mortes, os fracassos, as vitórias, as lutas de classe. Revelam uma revolta contra o domínio dos fatos, uma recriação da esperança para todos. A história é o tempo da utopia, que alimenta e da vida à história, porem, devemos ter cuidado, porque muitas vezes as utopias acabaram se transformando em ideologias conservadoras opressoras, perdendo sua garra transformadora e recreativa.
A utopia e sonho de “outro mundo possível” deve estar unido ao profetismo, não podem existir por separado, porque a utopia separada do profetismo perde sua efetividade histórica com o perigo de virar escapismo idealista, que pode trazer apenas um consolo subjetivo individualista para o povo, no lugar de construir uma nova força renovadora e libertadora. Existe o perigo real em separar profetismo e utopias, desencarnando ambos, quer por reducionismo subjetivista, quer por reducionismo trascendentalista, em chave atemporal de eternidade, porém a eternidade deve estar ligada à temporalidade. Para lograr a harmonia entre profetismo, utopia e sonho é necessário situar-se no lugar social, político, econômico e religioso da história.
Diante da crise global mundial do capitalismo neoliberal baseada no consumo desmedido e na especulação, gerada pelos banqueiros capitalistas, os mais afetados são os mais fracos, os pobres, os excluídos. Crise que leva ao crescimento do desemprego, à diminuição dos salários, ao aumento dos pobres, das favelas, da fome. Parece que se vive num mundo de desesperança, onde muitas vezes o povo busca saídas mágicas, espiritualistas, por isso hoje mais que nunca é necessário sonhar, imaginar, criar e recriar utopias, apesar da realidade e das dificuldades vividas. A presente crise econômica deve nos levar a procurar um “outro mundo possível” no qual, os mais fracos e excluídos não paguem o preço alto da crise econômica global, gerada pelo capital especulativo do sistema opressor neoliberal. Trata-se de recriar uma justiça social, junto com à sustentabilidade ambiental do planeta.