Viver na presença de Deus
Padre Geovane Saraiva*
A festa da Transfiguração do Senhor nos leva a olhar para a Sagrada Escritura e nela, ver a presença do profeta Elias, grande mestre na escola da oração e da contemplação, que caminhou sempre na presença de Deus. Sua fé no único Deus – numa fé sólida e amadurecida na provação – impressionou muitíssimas gerações de homens e mulheres na história do povo de Deus.
Pela nossa fé vemos Jesus, o Filho de Deus, no Monte Tabor, manifestando aos seus amigos todo o seu esplendor. Ele revela a divindade que está dentro dele, antecipando, assim, a sua glória e a nossa glória futura. São João nos assegura: “Quando Cristo aparecer, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1Jo 3,2).
Jesus Cristo, na montanha sagrada, transfigurou-se, isto é, mudou de aparência. Os três apóstolos, Pedro, Tiago e João ficaram deslumbrados. Eles queriam que essa alegria ficasse sempre entre eles. Daí a proposta: Vamos construir três tendas, porque aqui é bom demais e a nossa vida será perpetuamente fascinante e maravilhosa (cf. Lc 9,33).
No alto da montanha, Jesus Cristo, antes da sua paixão, com Moisés e Elias revelou o esplendor de sua face, dizendo-nos que haveremos de nos transfigurar, uma vez que nosso destino se fundamenta na sua palavra: “Nós somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o Salvador, o Senhor, Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso” (Fl 3, 20-21).
“Uma voz do céu ressoa: Eis o meu Filho amado” (Lc 9, 35-36), que nos faz ouvir com fidelidade a sua palavra e buscar no seu corpo e sangue o alimento para nossa vida. E é precisamente pela força da palavra, do corpo e sangue de Cristo, que vamos andar na sonhada esperança de sermos semelhantes a ele, quando ele se manifestar em sua glória.
Que esta festa da transfiguração, celebrada pela Igreja no dia 06 de agosto, nos faça compreender sempre e cada vez mais o sentido da páscoa eterna, na certeza de que a partir deste mistério inefável, isto é, que significa o que não se pode expressar verbalmente, identificando algo de origem divina e que transcendente toda nossa realidade visível e palpável, indicando a nossa páscoa, quando também, iremos experimentar a eterna transfiguração.
Como seria maravilhoso ver os cristãos abraçarem e saborearem o silêncio e, mesmo a solidão, como condição imprescindível, no sentido de uma íntima e rica experiência contemplativa da presença de Deus, a exemplo do profeta Elias.
* Pe. Geovane Saraiva, padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza
Pároco de Santo Afonso