A insegurança de seguir Jesus
Tarcísio de Oliveira
O tema da Campanha da Fraternidade de 2009, “Fraternidade e Segurança Pública”, nos convida a uma reflexão, enquanto cristãos, sobre o nosso próprio modo de agir social. Quais serão nossos papeis e responsabilidades em relação à alta taxa de criminalidade e insegurança em que somos obrigados a conviver no Brasil? Não podemos no esquecer que Jesus, em sua vida pública, conviveu cada vez mais com uma situação de insegurança e que seu caminho teve como destino o assassinato através da violenta morte na cruz. A alternativa cristã para essa falta de segurança está, de acordo com o ensinamento de Cristo, interiormente na fé, e exteriormente no amor.
Embora Jesus fosse obrigado a conviver com uma forte cultura de injustiça social que caracterizava o império romano, ele sempre demonstrou uma forte segurança junto ao Pai em sua missão. Por esse motivo, antes de enfrentar a paixão, Jesus sintetiza essa dualidade aqui exposta através das seguintes palavras: “Agora meu coração está perturbado, e o que direi? Pai, salva-me desta hora? Não, pois eu vim exatamente para isto, para esta hora. Pai, glorifica o teu nome!” (Jo 17,27-28a). De fato, Jesus nunca indicou a seus seguidores facilidade em relação aos seus ensinamentos. A tarefa do cristão é ser peregrino em meio às adversidades: “Se alguém quiser ser meu seguidor, toma a tua cruz e siga-me” (Mc 8, 34). É bom lembrar que os primeiros seguidores dos ensinamentos de Jesus não eram denominados por cristãos, mas de “seguidores do caminho”. Isto implica uma positividade, uma ação e iniciativa perante a vida, pois ninguém entra por um caminho para estacionar no meio. O “seguidor do caminho” era visto por sua atitude, por seu testemunho (martyria) cristão.
A primeira Igreja, em que a grande maioria, como nós, não havia visto a Jesus, mas que diferentemente de nós, estava muito mais próxima de seu testemunho, foi a comunidade dos mártires. Estes conseguiram algo realmente surpreendente: fazer com que a cultura de seus perseguidores mudasse através de sua iniciativa, e a iniciativa do cristão é norteada pelo amor. Foi assim que eles venceram o império romano.
O amor cristão, como tudo aquilo que veio de Jesus, possui uma dinâmica própria e transformadora. Isso pode ser verificado no texto da Didaqué, conhecido como o primeiro catecismo dos cristãos. Nele podemos notar o pensamento da “ violência do amor” onde desenvolve-se o raciocínio já presente nos evangelhos de “oferecer a outra face”. Isto pode no chocar, pois como isso pode ser amor e, mais ainda, ser violento? A própria Didaqué nos diz: “não se deixe levar pelos impulsos instintivos”. Ora, a reação impulsiva a uma ofensa é xingar, o instinto perante a violência é agredir. Qualquer um é capaz de fazer isso. A novidade que Cristo nos traz é que, responder à violência com um gesto de amor é também ser violento. É a única forma que faz o outro pensar em sua atitude, de fazê-lo sentir remorso por sua brutalidade. Qual o papel que o perdão pode gerar nos relacionamentos humanos? Tudo isso não deixa de ser violência, até mesmo o perdão, pois faz o outro se sentir mal pelo que fez.
Esta é a lição que a antiga tradição nos mostra para combatermos a violência. E essa lição foi elaborada numa época em que ser cristão era um crime cuja pena era a morte. O desenvolvimento da violência do amor aconteceu em meio a perseguições, torturas e mortes, muitas vezes, horríveis. Porém, esses seguidores do caminho de Cristo possuíam a segurança, alimentada por uma forte fé em Deus, que não restava outro caminho, pois eles bem sabiam que Cristo é o “caminho a verdade e a vida; ninguém vem ao pai senão por mim” (Jo 14,6).
Desse modo, acredito, poderemos refletir sobre as nossas ações. Temos atitudes vingativas? Acrescentamos mais negatividade em nossas relações? A nossa língua está a serviço da paz ou da discórdia? Estamos, de fato, seguros de estarmos trilhando o caminho de Jesus que leva ao Pai?
A paz tão almejada decorre da compreensão desses princípios, como nos diz o próprio Jesus: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16,33).
julio
fev 24, 2009 @ 13:10:23
Beleza de texto :A insegurança de seguir Jesus .Seria bom que todos possamos refleti-lo , divulga-lo e vive-lo.