Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos
Na terça-feira, 8, o papa Francisco convocou a 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, que acontecerá em outubro de 2014 e terá como tema: “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”. De Roma, o cardeal dom Odilo Pedro Scherer, membro do Conselho Permanente da Secretaria do Sínodo, concedeu entrevista ao O SÃO PAULO e falou sobre a convocação que descreveu como “surpreendente”.
“Há desafios novos e outros permanentes. Hoje há uma instabilidade maior nos casamentos e muitos se desfazem depois de algum tempo; há o medo de assumir um compromisso ‘por toda a vida’, devido à cultura individualista, do provisório e do descartável”, afirmou dom Odilo.
Além de falar dos desafios para a família na atualidade e das relações da Nova Evangelização com a vida familiar, o Cardeal abordou a questão das “uniões de pessoas do mesmo sexo, que pretendem ter o reconhecimento de ‘casal’ e de família, inclusive com a adoção de filhos”.
Leia a íntegra
O SÃO PAULO – Como o senhor vê a convocação de uma Assembleia Extraordinária do Sínodo para 2014 com o tema: “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”?
Cardeal dom Odilo Pedro Scherer – Essa convocação foi surpreendente, pois não se previa até há pouco tempo. Há várias explicações para essa decisão do papa Francisco: os graves e urgentes desafios que a família vive desafiam a missão evangelizadora da Igreja; esses desafios precisam ser trabalhados na ótica da Nova Evangelização; e, finalmente, essa convocação revela a intenção do Papa de dar um caráter mais “sinodal” ao exercício do seu ministério.
O SÃO PAULO – Quais os novos desafios para a família na atualidade?
Dom Odilo – Há desafios novos e outros permanentes. Hoje há uma instabilidade maior nos casamentos e muitos se desfazem depois de algum tempo; há o medo de assumir um compromisso “por toda a vida”, devido à cultura individualista, do provisório e do descartável; mas há também uma verdadeira depreciação do casamento, pois muitos não se casam mais, nem no religioso, nem no civil. Mas há também a questão das uniões de pessoas do mesmo sexo, que pretendem ter o reconhecimento de “casal” e de família, inclusive com a adoção de filhos. E não se deve esquecer que a família é fortemente colocada sob pressão por questões econômicas, pela difusão de propostas “alternativas” à família por certa corrente ideológica contrária à família; e há os problemas decorrentes da pouca clareza sobre o papel dos pais na educação dos filhos e sobre o tipo de educação a ser dada. E permanecem grandes desafios o papel da família na transmissão da fé e dos valores ético-morais. A Igreja continua a depositar grande valor na família, mas sua visão sobre a pessoa humana e sobre a família vai muitas vezes contra a corrente da mentalidade contemporânea.
O SÃO PAULO – Como a Nova Evangelização está relacionada com a vida familiar?
Dom Odilo – A Igreja olha a família a partir da fé em Deus e em sintonia com o seu desígnio criador e salvador. Por isso, ela vê na família, antes de tudo, a realização de um desejo de Deus e não apenas uma criação da sociedade. Há questões de fundo, que a Igreja leva em conta: o que quis Deus ao criar o homem e a mulher e ao colocá-
los frente a frente, como recíprocos e complementares? Qual é o significado da
sexualidade, do amor humano, do casamento, da paternidade e da maternidade? Tudo isso não pode estar simplesmente sujeito a movimentos culturais e ideológicos, ou ao gosto dos indivíduos. A Nova Evangelização precisa ajudar a repropor, de maneira convincente, esperançosa e alegre o “Evangelho da família” ao mundo de hoje. E as famílias evangelizadas ajudarão a evangelizar outras famílias; a própria família é evangelizadora e a Igreja quer continuar a contar com ela para a transmissão da fé.
O SÃO PAULO – Após a convocação da Assembleia Extraordinária de 2014, o que se pode esperar da Assembleia Ordinária de 2015, também sobre o tema da família?
Dom Odilo – Antes de tudo, a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, em 2015, terá um tema mais alargado, com dois focos: família e pessoa humana. Serão tratadas as questões antropológicas, muito sérias, pois há uma grave “confusão antropológica” na cultura contemporânea. Enquanto isso, a Assembleia Extraordinária, em 2014, terá como foco os “desafios” familiares para a evangelização. Além disso, os participantes das duas assembleias serão diferentes; em 2014, serão sobretudo os presidentes das Conferências Episcopais; em 2015 a participação será mais ampla e variada de bispos e de outros membros da Igreja. Mas é certo que as duas assembleias serão complementares. Em 2014, será feita uma grande tomada de consciência da situação familiar em relação à evangelização; em 2015, haverá um discernimento eclesial e teológico sobre a família e outras questões antropológicas; e a assembleia poderá propor ao Papa oportunos encaminhamentos ou decisões.
Fonte: Arquidiocese de São Paulo