Crescer na Fé, fazendo silêncio
Dom Edmar Peron
Permanece gravado em meu coração aquele momento em, tendo aparecido à sacada da Basílica de São Pedro, o novo Papa, Francisco, pediu à multidão que rezassem por ele: e fez-se um grande silêncio! Um silêncio cheio, pleno, ativo; um silêncio orante. A multidão fez silêncio!
Em minhas visitas às comunidades, fico impressionado como não se tem conseguido, ainda, fazer silêncio em nossas igrejas. E nós não somos uma multidão! Gostaria muito de entender porque isso acontece; porque nossas liturgias são tão barulhentas? Seria porque não temos outro lugar para encontrar os irmãos da Comunidade? Seria porque não estamos acostumados ao silêncio e, por isso, não saberíamos o que fazer naqueles instantes ou minutos? Seria porque não se sabe distinguir entre um show e uma missa? Ou os motivos seriam outros?
Contudo, retomando uma expressão da grande poetisa Adélia Prado, “a palavra foi inventada para ser calada. É só depois que se cala que a gente ouve. A beleza de uma celebração e de qualquer coisa, a beleza da arte, é puro silêncio e pura audição. Nós não encontramos mais em nossas igrejas o espaço do silêncio. Eu estou falando da minha experiência, queira Deus que não seja essa a experiência aqui. Parece que há um horror ao vazio. Não se pode parar um minuto. Não há silêncio. Não havendo silêncio, não há audição”.
Seguindo a consideração dela, parece-me que estamos, nesse caso, invertendo o ensinamento bíblico: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sam 3,10). A impressão é que o texto deveria ser mudado: “Ouve, Senhor, que teu servo fala” e, por consequência, no Pai-nosso, rezaríamos: “seja feita a nossa vontade, assim na terra como no céu”. Nesse caso, Deus deveria silenciar o seu diálogo trinitário a fim de nos ouvir. Mas não seria exatamente o contrário? Não somos justamente nós os que temos necessidade de silenciar, para ouvir o Senhor e deixar que sua Palavra e sua vontade se realizem em nossa vida? Assim fez Maria: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Assim fez José: “Ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara” (Mt 1,24).
Recebamos, pois, com atenção e de coração aberto, o ensinamento da Igreja, presente na Instrução Geral do Missal Romano:
– “Oportunamente, como parte da celebração deve-se observar o silêncio sagrado. […] Convém que já antes da própria celebração se conserve o silêncio na igreja, na sacristia, na secretaria e mesmo nos lugares mais próximos, para que todos se disponham devota e devidamente para realizarem os sagrados mistérios” (n. 45);
– “A Liturgia da Palavra deve ser celebrada de tal modo que favoreça a meditação […]. Integram-na breves momentos de silêncio, de acordo com a assembleia reunida, pelos quais, sob a ação do Espírito Santo, se acolhe no coração a Palavra de Deus e se prepara a resposta pela oração” (n. 56).
Perceberam a motivação? O silêncio é para celebrar “devota e devidamente os sagrados mistérios” e para que, ajudados pelo Espírito Santo, acolhamos a Palavra de Deus em nossos corações, qual terreno bom e produza frutos (cf. Parábola do semeador – Mt 13,4-23).
Então, vamos começar? Por exemplo: antes de começar a celebração, a equipe de canto, ajude a assembleia ensaiando com ela os refrãos dos cantos do dia; depois, pelo menos durante 5 minutos, se faça silêncio. Quem? Todas as pessoas: os cantores e os instrumentistas; os leitores, os ministros e os coroinhas; o diácono, o padre e o bispo… enfim, a assembleia inteira. Será exigente? Sim! Mas um caminho longo se faz dando o primeiro passo. Já pensaram que nenhum atleta vence a corrida se não treinar e não der o “primeiro passo”? E é preciso “treinar” fazer silêncio; treinar muito: em casa, na catequese, no grupo, na igreja. Vamos dar o primeiro passo e, então veremos nossas igrejas se transformarem em lugares de oração e, certamente, nossa fé crescerá dia após dia, até o dia em que acordaremos na presença de Deus, no Paraíso, quando diremos com sinceridade: “O nosso coração está em Deus”.