Quaresma: tempo de retornar ao abraço do Pai!
Dom Edmar Peron
Esses dias, enquanto dirigia, ouvi uma música que, parece-me, pode nos ajudar a entrar no mistério da Quaresma. Ela dizia: “O melhor lugar no mundo é dentro de um abraço. Tudo que a gente sofre, num abraço se dissolve. Tudo que se espera ou sonha, num abraço a gente encontra” (Jota Quest). Assim, como o filho pródigo, no tempo da Quaresma, desejamos reencontar a Deus, o Pai cheio de bondade, que Jesus nos revelou. Ele é o Pai que nos aguarda e que, vendo-nos voltar, “corre” ao nosso encontro e nos acolhe (Lc 15,20); não pergunta o que fizemos, mas, no abraço dele, “tudo o que a gente sofre (…) se dissolve”. É (re)encontro, é festa, é Páscoa!
Seguindo o ritmo do ano litúrgico, é dada para nós, de novo, a graça de entrar no Tempo da Quaresma, o qual tem por finalidade “preparar os fiéis para a celebração da Páscoa” (SC 109). A liturgia desse período quaresmal, com efeito, prepara para a celebração do mistério pascal os que se preparam para o batismo e todos os fiéis; aqueles, conduzindo-os às águas batismais, e esses, às águas da penitência, bebidas no Sacramento da Penitência e nas muitas atitudes penitenciais, necessárias à conversão. O Concílio nos recorda, ainda, que essa preparação para a Páscoa, buscando uma vida nova, se dá por uma escuta “mais” frequente da Palavra de Deus e pela entrega “à oração com mais insistência”. Palavra e Oração: eis o caminho que nos (re)conduzem ao abraço do Pai.
O Tempo da Quaresma vai da Quarta-feira de Cinzas até a tarde do dia em que celebramos a Missa da Ceia do Senhor (a Quinta-feira Santa, como a chamamos). Assim, quando a Semana Santa (que vai do Domingo de Ramos até quinta-feira à tarde) se inicia, ainda estamos no tempo da Quaresma.
Mas, como insiste a Palavra de Deus, o amor a Deus não é desvinculado do amor aos irmãos. Assim, no Brasil, a cada ano, no período quaresmal, desde 1964, a Igreja realiza uma Campanha da Fraternidade, desejosa de que os cristãos se comprometam cada vez mais na “busca do bem comum”, sejam educados “para a vida em fraternidade” e se renove “a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária” (Objetivos Permanentes da Campanha da Fraternidade). Neste ano, a realidade gritante que pede o comprometimento de nossas comunidades é o tráfico humano. Com o tema Fraternidade e Tráfico Humano, o lema desta Campanha é Para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5,1).
Aproveitemos desses sagrados dias da Quaresma para voltar ao “abraço” do Pai, estendendo “a mão” aos irmãos e às irmãs que sofrem: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração… e amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,3-31); dediquemo-nos ainda mais à escuta da Palavra de Deus e à Oração.