Testemunha que transforma
“O conhecimento também é poder.” – F. Bacon
Sem maiores pretensões, peguei o primeiro papel e o conceito de testemunha. Então perguntei às palavras o que poderiam revelar sobre o tema. E falaram com tamanha generosidade que pedi ao menos um tempo para sintetizá-las.
Primeiro veio a lembrança de que testemunhar equivale a tomar consciência. E a certeza, quase cruel porque não aceita desculpas, de que uma vez dado esse primeiro passo podemos nos esconder no fundo do mar ou fugir para o monte mais alto do planeta, e tudo será em vão, porque lá estará nada menos que ela, a nossa consciência, nos lembrando de que já tomamos… consciência.
Como fugir ao compromisso que ela implica? Não existe como fazer isso com legitimidade. Tomar consciência nos remete automaticamente à idéia de que não nos comprometer equivale à omissão. Portanto, repito, não existe uma saída aceitável quando testemunhamos o que deve ser transformado a não ser a ação transformadora.
E as palavras me propuseram ainda outra questão: como e quando agir? Em que tempo e com qual estratégia devemos transformar consciência em ação eficiente? Todo cuidado é pouco, porque a ingenuidade é a pior cartilha de que alguém pode se servir. De boas intenções… – diz a sabedoria que não vem dos livros.
Tudo estaria pronto, não fosse por um detalhe: sem o desejo de agir, tudo se transforma numa bela e vazia reflexão. Porque se testemunhar é tomar consciência, e isso pede atos concretos, há que se fugir da inércia. Mas sem o propósito de envolver-se, o resultado mais otimista será o vazio e a frustração, individual e coletiva.
Ser testemunha é assumir o controle, exercer com habilidade e determinação o poder de transformar. Ora, isso nos torna perigosamente fortes. Um exército capaz de mudar o que parecia imutavelmente estabelecido.
Rubens Marchioni