Centralidade do trabalho
Dom Demétrio Valentini
As assembléias da CNBB sempre se realizam nas proximidades do Dia do Trabalhador. Por coincidência, neste ano a assembléia se concluiu com o Primeiro de Maio.
Esta circunstância fez dos trabalhadores uma presença constante nas assembléias, contribuindo para que a realidade do trabalho ajudasse a trazer presente, na reunião dos bispos, a situação vivida pelo povo.
Desta vez, além da coincidência da data, havia outro motivo a urgir um pronunciamento da CNBB sobre o Dia do Trabalhador. As conseqüências da crise mundial têm repercussão direta nos trabalhadores. Eles se tornam, de novo, o termômetro para medir a problemática social, decorrente da crise de amplo espectro que o mundo está vivendo. Comprova-se o que “o trabalho é chave de toda questão social”, como já dizia João Paulo II, em sua encíclica Laborem Exercens.
É neste contexto de crise mundial que chega a palavra dos bispos dirigida especialmente às trabalhadoras e aos trabalhadores:
“Neste ano, o dia 1º de maio acontece no contexto da crise que assola o conjunto da economia mundial. A crise mostra a sua face mais cruel ao se deslocar do capital financeiro para o setor produtivo, dizimando milhares de postos de trabalho, na cidade e no campo. Os países e as populações pobres sofrem mais diretamente as conseqüências do atual modelo capitalista de desenvolvimento, incapaz de assegurar a dignidade humana, garantir os direitos sociais básicos e preservar a vida em nosso planeta.”
Esta situação de crise leva a CNBB a expressar sua solidariedade, e reafirmar seu compromisso com os trabalhadores:
“Ao celebrar o Dia do Trabalhador, a CNBB confirma seu compromisso em favor dos direitos sociais do povo e, em especial, dos direitos trabalhistas e dos esforços para consolidar as suas organizações. Expressa também a solidariedade com todos os desempregados, vítimas da crise ou dos que se aproveitam dela. Os princípios da Doutrina Social da Igreja – a dignidade da pessoa humana, a destinação universal dos bens da terra e a prioridade do trabalho sobre o capital – inspiram alternativas para uma nova ordem econômica, em vista de um mundo justo e solidário.”
Esta solidariedade da Igreja não se limita ao conforto que resulta da estima pessoal e do reconhecimento da importância dos trabalhadores. Ela toma a forma de firme posicionamento em favor de suas causas, e a convicção de que a saída da crise passa pelo atendimento da pauta de reivindicações dos trabalhadores, como afirma com ênfase a nota:
“Os tempos atuais, mesmo difíceis, representam oportunidades para as mudanças necessárias em direção a uma nova ordem econômica. Nesse contexto, a Igreja faz ressoar o clamor dos trabalhadores por vida e dignidade. As aspirações do povo trabalhador, por meio de suas organizações, indicam caminhos para a consolidação dos direitos, tais como: não às demissões, valorização das aposentadorias, queda nos juros, redução da jornada de trabalho sem redução dos salários, reforma agrária e fortalecimento da agricultura familiar e agro-ecológica, combate ao trabalho escravo e degradante, valorização dos movimentos de trabalhadores desempregados, incentivo às iniciativas de economia popular solidária, investimento nas políticas públicas de saúde, educação e moradia”.
Depois de dez dias de intensos trabalhos, os bispos concluem sua assembléia no Dia do Trabalhador. A mesma data é mais que mera coincidência. Lembra um compromisso histórico, entre Igreja e trabalhadores, que precisa ser levado adiante, no novo contexto de profundas transformações que atingem hoje o mundo do trabalho.