A nova encíclica
Dom Aloísio Sinésio Bohn
O papa Bento XVI publicou uma nova carta encíclica para todas as pessoas de boa vontade, tendo como título: A Caridade na Verdade. Em Latim: “Caritas in Veritate”. A ocasião é o aniversario de 40 anos da encíclica social de Paulo VI: “O Progresso dos Povos” (Populorum Progressio). Não desejo aqui fazer uma síntese do documento. Desejo suscitar o interesse e a curiosidade, para que o povo leia o documento pontifício.
Quando iniciou a revolução industrial no século XIX, de um lado, os operários eram oprimidos nas fábricas e nas minas de carvão, sem respeito pela sua dignidade, sem organização sindical, com salários insuficientes para a manutenção da família. De outro lado, o marxismo incentivava a luta de classes, pregava a ditadura do proletariado, a supressão da liberdade individual, o fim da propriedade particular e prometia o paraíso na terra. Então, em 1892, o Papa Leão XIII publicou a primeira grande encíclica social, a “Rerum Novarum” (As coisas novas).
Os cristãos criaram consciência social, superou-se a luta de classes pela organização sindical, e pela negociação e o diálogo. Foi uma grande contribuição à Paz e ao progresso social dos povos.
Em março de 1967, Paulo VI ofereceu ao mundo a importante carta encíclica “Populorum Progressio” (O Progresso dos Povos). O ideal apontado é o desenvolvimento integral da pessoa toda e de todas as pessoas. Defende um humanismo aberto ao Absoluto, a liberdade, a civilização do amor. Cunhou a expressão: “O desenvolvimento é o novo nome da paz”.
Diante da explosão da interdependência mundial, já conhecida mundialmente por globalização e da crise financeira mundial, Bento XVI achou conveniente oferecer a doutrina social da Igreja, atualizando-a para os tempos de hoje.
Para quem sonhava com a eliminação das funções do Estado, pois o mercado global regula tudo, o Papa adverte: “Razões de sabedoria e prudência sugerem que não se proclame depressa demais o fim do Estado” (nº 41).
Para os profetas que olham a globalização como demoníaca, o Pontífice afirma: “A globalização ‘a priori’ não é boa nem má. Será aquilo que as pessoas fazem dela. Não devemos ser vítimas dela, mas protagonistas” (nº42).
Sabemos que Bento XVI está preocupado com o papel demolidor do relativismo, do indiferentismo religioso e do fanatismo. O fanatismo tende a impedir o direito de religião e de pregar a morte em nome de Deus, o que os líderes religiosos já condenaram como blasfêmia contra Deus. O indiferentismo e o ateísmo prático subtraem aos povos recursos espirituais e humanos. O relativismo, enquanto não aceita a verdade, acaba proclamando como verdade os próprios interesses egoístas.
João Paulo II dizia que a razão deve ser curada pelo amor. O Papa Bento diz que “o saber deve ser ‘temperado’ com o ‘sal’ da caridade. Pois a ação é cega sem o saber, e o saber é estéril sem o amor” (nº 30).
Esta bela e importante carta pontifícia deve fazer parte da leitura assídua dos que se preocupam com a paz e com a solidariedade entre os povos.