O progresso dos povos
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
O Papa Bento XVI, na sua encíclica, a caridade na verdade, de 29 de junho de 2009, mostra a atualidade, depois de mais de quarenta anos, da mensagem da carta encíclica do Papa Paulo VI, acerca do progresso dos povos. São outros os termos em que se coloca hoje o problema do desenvolvimento. Contudo, permanece atual a mensagem ali construída e balizada pela caridade e pela verdade. Ora, as questões acerca do desenvolvimento não são apenas de caráter exclusivamente sociológicos.
A Populorum Progressio brotou como fruto maduro do magistério do Papa Paulo VI logo depois do acontecimento do Concílio Vaticano II, encerrado em dezembro de 1965 – que abriu um horizonte novo para a missão da Igreja em se considerando a sua presença no mundo, o teor e o tom de sua profecia. A tônica importante é aquela de que pertence à verdade da fé a convicção de que a Igreja, estando a serviço de Deus, serve o mundo em termos de amor e verdade. Compreende-se, portanto, que a Igreja Católica, em todo o seu ser e agir, quando anuncia, celebra e atua na caridade, o faz buscando a promoção e a realização do desenvolvimento integral do homem.
A Igreja não pode abrir mão desse seu papel público. Ela luta por essa liberdade, enfrentando perseguições ou proibições, incompreensões e limites inconsequentes a ela impostos. Nem mesmo só as atividades sócio-caritativas da Igreja podem esgotar o alcance de sua presença pública. Essa verdade se alia a outra de grande importância. Trata-se da compreensão do desenvolvimento humano em referência à totalidade da pessoa. Isto é, a consideração de todas as suas dimensões. Nessa perspectiva, pois, não pode riscar a referência à vida eterna, sob pena de o progresso humano, diz o Papa, ficar privado do respiro. As consequências são nefastas por fechar o homem dentro da história, sujeitando-o ao risco de reduzir-se ao incremento do ter.
Daí vem o comprometimento da capacidade imprescindível de se permanecer disponível para os bens mais altos, para iniciativas altruístas que a caridade universal solicita. O homem não se desenvolve apenas com suas próprias forças, assevera o Papa Bento XVI na carta encíclica. É uma ilusão pensar, como tem ocorrido ao longo da história, que a criação de instituições seja o suficiente para a garantia do desenvolvimento da humanidade. De fato, conclui o Papa, as instituições sozinhas não são suficientes, porque o desenvolvimento integral é primariamente vocação e exige um assumir livre e solidário da responsabilidade de cada um por todos.
A necessidade de Deus e a visão transcendente da pessoa compõem a compreensão ajustada do desenvolvimento, ultrapassando e alargando o horizonte que se alcança apenas com os dados sociológicos. Sem Deus, retoma o Papa, o desenvolvimento ou é negado ou fica confiado unicamente às mãos do homem, levando-o a cair na presunção da auto-salvação e na produção de um desenvolvimento desumanizado. O encontro com Deus,assim, se torna alavanca importante do desenvolvimento integral enquanto evita,sublinha Bento XVI, ver no outro sempre e apenas o outro, tornando-se capaz de ver nele a imagem divina, alcançando uma adequada compreensão dele e criando possibilidades de maturação de um amor que se torna cuidado do outro e pelo outro. Já na Populorum Progressio, o Papa Paulo VI focalizava que o progresso é, na sua origem e na sua essência, uma vocação. Entender o desenvolvimento como vocação, retoma o Papa Bento XVI, equivale a reconhecer que ele nasce de um apelo transcendente e que por si mesmo não pode, adequadamente, atribuir-se o significado último.
Este entendimento continua atual e, levado a sério, pode abrir horizontes novos para os gravíssimos impasses que estão configurando o cenário contemporâneo. Basta pensar a contradição inconsequente que se verifica quando se pensa a grandeza dos avanços tecnológicos e científicos e a incapacidade de superação das vergonhosas situações de exclusão social. É uma lógica que está presidindo o aumento dessa brecha que a inteligência humana por si só não está conseguindo resolver. Ora, a pessoa não pode ser reduzida à categoria de meio para o desenvolvimento. Há uma gravíssima responsabilidade imputada a cada pessoa no uso de sua liberdade à luz da consciência de sua vocação. O desenvolvimento é, na verdade, a busca de ser mais.
O que significa ser mais? O Papa Paulo VI já respondia que a característica do desenvolvimento autêntico é de que este deve ser integral. Isto é, promover todos os homens e o homem todo. É o desafio ao desenvolvimento da integralidade da humanidade. A reflexão precisa continuar. Bento XVI lembra a indicação do Papa Paulo VI: “o que conta é o homem, cada homem, cada grupo de homens até se chegar à humanidade inteira”. É o verdadeiro caminho para o progresso dos povos.
Octavio L. F. Leo
jul 22, 2009 @ 19:53:16
Nesta semana, vendo e ouvindo as notícias sobre os 40 anos da chegada do homem à Lua, me veio à memória a minha infancia e me lembrei exatamente o dia que Armstrong pisou o solo lunar. Brincava com meus primos e paramos para acompanhar numa das únicas Tvs da família, a da casa de meu tio. Parecia algo inacreditável, o homem ter chegado tão longe.
É bem verdade que após esse fato, tantas outras descobertas e evolução nesses 40 anos o homem se sobressaiu, mas por que também em tão pouco tempo, se destruiu tanto a humanidade e o planeta? Por que o homem se afasta tanto de seu semelhante, se contamina com o querer cada vez mais, destruindo através do suor e sangue de tantos, esses que habitam os países pobres na Africa e America Central por exemplo? E também aqui.
O homem ao pisar a Lua, talvez imaginasse naquele momento, um mundo melhor, sem divisões, como a imagem que viram da Terra no espaço, um grande aglomerado apenas de terras e mar, linda, exuberante.
A Lua foi conquistada, foi emocionante. Mas será muito mais, quando o homem conquistar novamente a Terra, conquistar o coração de sua própria humanidade.
Comecemos essa conquista maravilhosa por cada um de nós.