Sobre Padres Exorcistas
Fernando Altemeyer Jr.
Durante os vinte e oito anos do governo pastoral de Dom Paulo Evaristo Arns, hoje arcebispo emérito, houve um só padre com mandato: Frei Gilberto da Silva Gorgulho, frade dominicano (recentemente falecido). Mas sempre houve padres que se diziam exorcistas. Eu mesmo conheci dois: Um no Belenzinho (padre Miguel) e outro no bairro do Tatuapé (padre verbita alemão). Ainda havia outros ao redor da cidade de São Paulo fazendo as coisas no paralelo. O curioso é que estes e os atuais não seguem o ritual tal qual manda a igreja e muitas vezes não tem os requisitos para exercer tal função. É mais para aparecer na televisão do que para enfrentar o mal e ajudar terapeuticamente as pessoas.
“De holofotes, só mesmo o capeta é que gosta!”
Do ritual da Igreja Católica está bem escrito na página 6 que: “quem vai exercer o ministério de exorcista, não transforme a celebração em espetáculo, proíbe a divulgação dos meios de comunicação e exorta a consultar peritos em ciências médica e psiquiátrica que tenham senso das coisas espirituais”.
E ainda no Ritual de Exorcismos, página 17: “o ministério de exorcizar os atormentados é concedido por peculiar e expressa licença do Ordinário local que, normalmente, será o Bispo diocesano (CIC canon 1172). Essa licença só deve ser concedida a um sacerdote que se distinga pela piedade, ciência, prudência e integridade de vida e especificamente preparado para esta função.
E na mesma página 17: “.. o sacerdote tenha a necessária e máxima circunspecção e prudência.
Este Ritual Romano renovado por decreto do Concilio Vaticano II foi promulgado por autoridade do papa João Paulo II – Ritual de Exorcismos e outras súplicas – tradução portuguesa – São Paulo: Editora Paulus, 2a. edição, 2008., promulgado por Cardeal Geraldo Majella Agnelo e apresentação de Dom Manuel João Francisco, bispo de Chapecó e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia, da CNBB.
O que foi mostrado no programa da TV Globo é característico de histeria coletiva! Uma patologia psiquiátrica convencional e de tratamento terapêutico cientifico. Parecia ser mais sugestão dos clérigos em suas igrejas ou templos, transformados em espetáculo. Em vez de ajudar criaram mais doentes e doenças. Não houve nenhum exorcismo. Foi só espetáculo. Nos dois casos mais longos permitiu-se inclusive imagens da televisão o que é terminantemente proibido.
Resumindo: nenhum dos sacerdotes citados seguiu nenhuma norma do ritual que dizem conhecer e até ter feito curso em Roma.
Os padres não pediram avaliações prévias de peritos. Um deles usou uma língua estranha. Isto é muito estranho. Que os bispos permitam isto é mais estranho ainda. Seria bom que agora se pronunciassem depois que o caldo entornou. Lembro que não é preciso fazer curso nenhum no Vaticano para este ministério. O que precisa é bom senso e vida de fé profunda.
Não me pareceu que os padres Lauro e Vanilson sejam doutores em Teologia. Será que fizeram teologia? Quanto ao sacerdote do Rio de Janeiro chegou a divulgar o diário da mulher que se disse possuída, o que rigorosamente proibido. Rompeu com o sigilo. Isto é impressionante! Tudo se transformou em um verdadeiro circo. Do jeito que o diabo gosta! O patético ficou por conta de um borrifador de água benta para plantas: virou superstição em torno dos chamados objetos necessários para o exorcismo. Tornou-se paganismo barato. Fizeram parecer necessário tudo o que o ritual pede que se evite. A matéria foi popular. Já a catequese foi péssima e prestou um desserviço à evangelização e à lucidez teológica. Voltamos ao menos cem anos atrás. Um diálogo de surdos fazendo psicólogos e psiquiatras ficarem do outro lado quando o ritual é explícito em dizer que eles/elas são os primeiros a serem consultados e não os últimos nem os concorrentes. Nada deve ser feito antes de médicos, psiquiatras e cientistas das áreas humanas se pronunciarem. Como o povo anda doente da mente nas metrópoles com tantas violências e pressão, certamente irá crescer a demanda e os padres que gostam de aparecer terão nisto um prato cheio. Deus nos proteja.
Não podemos cair no grave erro do satanismo, que vê a presença do Maligno em toda parte e submete as pessoas à psicose do medo irracional. É claro que sabemos e cremos que o Maligno existe e faz pessoas sofrer. Mas livra-las do Mal é tarefa de todos e não de alguns e é algo muito santo e profundo, não show.
Agora todo mundo vai correr atrás do kit anti-capeta em lugar de orar mais, buscar ser irmão e ler a Palavra de Deus. Caímos no paganismo vulgar.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina o que devemos proceder com prudência e distinguir antes da celebração de qualquer exorcismo, se ele é de fato maligno ou uma doença.
O que é o mais importante na liturgia terapêutica da Igreja é que o rito do exorcismo “manifeste a fé da Igreja e ninguém possa considerá-lo uma ação mágica ou supersticiosa”. É exatamente o que não podia que foi mostrado e “vendido” para todos os que assistem ao Fantástico. Foi um fantástico show de superstição e estrelismos. Prudência dos padres foi zero. E a discrição pior que zero. Isso porque está escrito claramente na página 19 da introdução geral do Ritual: “Enquanto se faz o exorcismo, DE FORMA ALGUMA se dê espaço a QUALQUER meio de comunicação social e até, antes de fazer o exorcismo e depois de feito, o exorcista e os presentes NÃO DIVULGUEM A NOTICIA, OBSERVANDO A NECESSÁRIA DISCRIÇÃO.”
E na pagina 21 do rito, número 33: “Se for possível, o exorcismo seja feito num oratório ou em outro lugar adequado, SEPARADO DA MULTIDÃO, onde sobressaia a imagem do crucifixo. No local deve haver também uma imagem da Bem-aventurada Virgem Maria”.
Pergunto eu, com todos os meus pecados e pelejando contra o mal: Por que nada foi dito sobre a oração e o jejum dos três padres exorcistas? Só muito jejum do sacerdote pode torna-lo capaz de enfrentar o mal. E todos que foram às Igrejas fizeram jejum de quantas horas? E lhes foi pedido discrição e silêncio? Ou fazem propaganda para que haja sempre mais possessos e espetáculo?
Aqui está o Cânon 1172 — Ninguém pode legitimamente exorcizar os possessos, a não ser com licença especial e expressa do Ordinário do lugar. § 2. Esta licença somente seja concedida pelo Ordinário do lugar a um presbítero dotado de piedade, ciência, prudência e integridade de vida”.
Resumindo: É muito duro ser exorcista. Primeiro tem que ser santo. Falar mais do amor de Deus que da maldade do capeta. Isto raramente aparece na Rede Globo.
Ignês Foglia
nov 10, 2014 @ 19:39:50
Querido Fernando você sempre com sábias palavras e com profundo amor a igreja, defende a verdadeira caridade. PAZ E BEM !