Dinheiro e Semana Santa – Terça-feira
Dom Demétrio Valentini
Terça-feira Santa – Dinheiro: amor ou traição?
A traição de Judas é capítulo indispensável da paixão de Cristo. É o que a liturgia coloca nesta terça-feira da Semana Santa. E, de novo, o dinheiro integra o cenário desta traição.
Diz o Evangelho que o Mestre estava perturbado diante da iminência da traição. Partilha esses sentimentos com seus discípulos. Pois o contexto era de intimidade, de amizade, de confiança: uma refeição. Tanto mais destoava a traição, pois vinha de um amigo, e usava as aparências da amizade para se perpetrar.
Observa o Evangelho que Judas pôde sair tranqüilo da sala, e partir para a traição, aparentando as boas intenções do seu ofício: como encarregado do dinheiro, todos pensavam que ele fosse “comprar o que precisavam para a festa, ou dar alguma coisa para os pobres”.
Para isto serve o dinheiro: para a festa da vida, e para ajudar os pobres.
Nada mais comovente do que ver a alegria dos pobres partilhando o pouco que possuem. As festas dos pobres são bonitas. Com seus parcos recursos, multiplicam a alegria da convivência, da acolhida mútua, da descontração, da alegria de viver. Parece o milagre da multiplicação dos pães: a carência de todos se transforma em surpreendente abundância, e resulta que todos se saciam, e ainda sobre alguma coisa.
Na casa do pobre sempre há lugar para mais um. Quando chega o visitante, é bem acolhido, é convidado à mesa, e ninguém se preocupa se a comida será suficiente.
Com um pouco de dinheiro dá para multiplicar o amor. Aí o dinheiro se transforma em vida e em alegria. Ele fica abençoado. Ele atinge sua finalidade.
O dinheiro que caía na bolsa de Judas deveria servir ao amor. O drama é que o dinheiro está tão perto da traição, quando passa a ser objeto de cobiça. Aí ele perde sentido, e leva para a perdição.
Viver a Páscoa é recolocar o dinheiro a serviço da vida e do amor.