A fé desabrocha na caridade
Padre Geovane Saraiva*
A fé que professamos com todo seu conteúdo, não é senão, a pessoa de Jesus de Nazaré, Nosso Senhor Jesus Cristo, em toda sua obra de salvação, no seu total despojamento, na vida de íntima fidelidade ao Pai, tendo com ponto mais elevado, sua paixão morte e ressurreição, nas seguras palavras do Apóstolo Paulo: “Cristo, ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não tem mais poder sobre ele” (Rm 6,9).
É o mistério incomensurável da Páscoa, como luz que ilumina e dar sentido à vida humana, nas pessoas convictas e cheias de boa vontade, já na acolhida insondável da encarnação misteriosa do verbo, que ao entrar no mundo disse: “Eis-me aqui, ó Pai, para realizar a tua vontade” (Hb 10,7).
Dom Aloísio Lorscheider na sua reflexão, intitulada, “Linhas mestras do Concílio Ecumênico Vaticano II”, fala com muita propriedade e exímia sabedoria de lhe foi sempre peculiar, entre muitas coisas, que o Papa João XXIII não desejava que o Concílio fosse uma repetição dos Concílios Ecumênicos anteriores. Queria o Papa para os dias de hoje, uma releitura da doutrina já definida no passado. O Vaticano II, segundo o homem, que no meu modo de ver melhor o assimilou, teria de se preocupar fundamentalmente com o caminho necessário para o mundo de hoje abrir-se ao Evangelho: Como evangelizar o mundo de hoje? Como anunciar o Evangelho para o mundo de hoje e como vivê-lo neste nosso mundo?
O Cardeal Lorscheider, no seu belo e maravilhoso artigo, responde com duas palavras chaves, para que se possa compreender a pastoral e a eclesiologia do Vaticano II: Aggiornamento, como atualização, renovação, rejuvenescimento, numa Igreja despojada e servidora; Diálogo da Igreja consigo mesma, com as outras Igrejas e com as outras religiões e o mundo dos não crentes. E disse mais: diálogo é sinônimo de comunhão, participação e corresponsabilidade.
Aggiornamento é escutar, ir ao encontro, abri-se às justas (legítimas) exigências do mundo de hoje, em suas profundas mudanças de estruturas, de modos de ser (culturas), inserindo-se nele para ajudá-lo, sempre no respeito à sua autonomia relativa (secularização), num espírito de doação, de caridade total, de diaconia, a serviço dos anawim, os pobres de Javé (…).
Diálogo não é polêmica, controvérsia, discussão; é, sim, dar ao outro o testemunho de uma convicção íntima que se tem, oferecendo-lhe, ao mesmo tempo, a oportunidade de, por sua vez, dar o testemunho de sua convicção íntimo. É concretamente, sentar juntos e dizer como se entende o Evangelho para os dias de hoje. Que Evangelho anunciar ao mundo de hoje? E em que Igreja?
Entre as inúmeras chaves assinaladas por Dom Aloísio, disse o inesquecível patrimônio da Igreja e toda sociedade brasileira, que o ponto de partida do aggiornamento e do diálogo é o próprio Cristo. A Igreja espelhando-se em Cristo, procurando atualizar-se, renovar-se, rejuvenescer-se: ao Cristo vivo deve corresponder uma Igreja viva (cf. Paulo VI, Discurso da 2º sessão conciliar, 29 de setembro de 1963). Os princípios vitais da Igreja são a fé e a caridade: a fé sempre desabrochando na caridade (cf. Gl 5,6), no tríplice aspecto em que Cristo se revela como Profeta, Sacerdote e Rei.
O nosso querido Papa Francisco, que tem diante dos olhos, na mente e no coração o espírito do Concílio Vaticano II, naquilo que concretamente diz e faz, ao ordenar 10 sacerdotes da Diocese de Roma, neste domingo do Bom Pastor, 21 de abril de 2013, disse em sua homilia: “Peço-vos em nome de Cristo e da Igreja, por favor, não vos canseis de ser misericordiosos. Com o óleo santo dareis alívio aos doentes e também aos idosos: não tenhais vergonha de ter ternura com os idosos”.
No mesmo espírito, da fé que desabrocha em caridade, disse o Sumo Pontífice, numa mensagem digerida aos bispos Argentinos, aos 18 de abril de 2013, por ocasião da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Argentina: “Uma Igreja que não sai, mais cedo ou mais tarde adoece na atmosfera viciada de confinamento. Também é verdade que uma Igreja que sai, pode acontecer o mesmo quando uma pessoa vai para a rua: pode sofrer um acidente. Perante esta alternativa, quero lhes dizer francamente, que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma Igreja doente”.
Vida Pastoral, Julho-Agosto de 2005 (PP. 13-16);
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*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal.
Pároco de Santo Afonso