A força do Evangelho

José Antonio Pagola

Mateus conclui o grande discurso de Jesus em uma montanha da Galiléia, com duas breves parábolas, narradas com mestria e fáceis de lembrar por todos. Sua mensagem é fundamental: seguir Jesus é “escutar as suas palavras” e “colocá-las em prática”. Se não fizermos assim o nosso cristianismo é um disparate. Não faz sentido nenhum.

O homem prudente edifica sua casa sobre a rocha sólida. Por isso, quando as chuvas torrenciais do inverno e a água desce das montanhas e assopram os fortes ventos do Mediterrâneo, a casa não afunda: “está edificada sobre a rocha”. Assim é a Igreja formada por crentes que se esforçam em escutar o evangelho e colocá-lo em prática.

O homem insensato, pelo contrário, edifica sua casa sobre a areia no fundo do vale. Portanto, quando chegam as chuvas, correm os rios e assopram os ventos, a casa cai e “é grande a sua queda”. Da mesma forma, o cristianismo se desmorona quando não é fundamentado na rocha do Evangelho escutado e praticado nas comunidades.

Na consciência moderna tem se produzido uma profunda mudança cultural que está colocando em crise o nascimento e a vivência da fé cristã. Está se tornando cada vez mais difícil despertar uma fé viva em Deus e em Jesus Cristo por meio da “doutrinação”. Apontemos duas causas fáceis de detectar.

Por um lado, há uma crise de autoridade, qualquer tipo de autoridade. Hoje em dia é difícil a Fé brotar da obediência a uma autoridade religiosa que se apresenta como possuidora da verdade. A palavra que a Igreja profere desde sua posição de autoridade sagrada não resulta hoje, por si mesma, nem crível nem atraente.

Além disso, ao invés de doutrina religiosa, as pessoas procuram uma experiência que lhes ajude a viver com sentido e esperança. Muitos homens e mulheres se distanciam quase instintivamente de qualquer iniciação à fé entendida como “processo de aprendizagem”.

Temos que acreditar muito mais na força transformadora do Evangelho. As palavras de Jesus têm mais poder do que nossas doutrinas. Sua Boa Nova é mais atraente do que todos os nossos sermões. Não é hora de formar grupos, criar espaços, possibilitar encontros em que as pessoas de hoje tenham a oportunidade de entrar em contacto direto com o Evangelho para escutar Jesus e descobrir juntos a Boa Nova?

Muitos dos que se sentem perdidos e vivem sem esperança poderiam descobrir com alegria que não estão sozinhos, que eles podem confiar em um Deus Pai e que podem viver com a esperança de Jesus. Isto é o que eles mais precisam.