A paz emerge dos conflitos
No mundo atual, profundamente marcado pela ausência de paz, nos conflitos, guerras e derramamento de sangue, ouvimos gritos de dor e de sofrimento, num grande clamor de toda ordem e natureza. Jesus Nosso Senhor é aquele que se apresenta ao mundo, mostrando e revelando-nos o projeto do Pai, oferecendo generosamente uma resposta às pessoas desejosas de paz.
Ele está a nos dizer algo que tem que ser endireitado, a fim de que se cumpra seu anúncio, não num espaço de tempo não longe e distante, no final dos tempos, mas já aqui e agora. Catástrofe, destruição, estrelas e astros caírem dos céus não são elementos e acontecimentos conclusivos da história (cf. Mc 13, 24-32). O que realmente é necessário cair e descer, indo para chão é as estrelas e ostros catastróficos do nosso egoísmo e orgulho, com os frutos que nos torna insensíveis aos problemas dos irmãos famintos, do desempregado, daqueles que lutam por um pedaço de chão e pelos seus direitos mais elementares.
Animados pela fé, a partir de Jesus, que nos ensina a buscar a paz verdadeira e duradoura, ao se declarar pão da vida, cumprindo inteiramente a vontade do Pai, quando sacia e mata a fome da humanidade, no amor que tudo se transforma em dom e partilha, é que nos associamos às promessas divinas, a fim de prestarmos conta de todos os nossos compromissos de cristãos.
Eucaristia é dom, sacrifício, solidariedade e fonte de reconciliação. Aprendemos no catecismo que a missa é o sacrifício incruento, isto é, sem derramamento de sangue, oferecido por Nosso Senhor Jesus Cristo, mas através do ministro, do sacerdote. Quando celebramos a eucaristia, a Santa Missa, devemos ter a consciência clara de que se realiza o sacrifício de Jesus, que morreu na cruz, no calvário e que ressuscitou três dias depois.
“Graças” e “distribuição” são os elementos fundamentais na instituição da Eucaristia, a partir do Evangelho da multiplicação dos pães (cf. Jo 6, 1-12; Mc 6, 34-44; Mt 14, 13-21), porque nos revela o aspecto mais belo e maravilhoso de Jesus, preocupado com a criatura humana outrora, mesmo nos dias de hoje, de libertar de todo o mal. Jesus, na sua obediência ao desejo do Pai, matando a nossa fome, quer que ver-nos acordados e atentos, para que o nosso interior, totalmente livre, conduza à história pelo caminho correto, no grande desejo de Deus Pai, o da sociedade nova e transformada.
Concluo esta pequena reflexão, guardando no íntimo do coração a mensagem de otimismo e esperança, deixada por Dom Helder Câmara, o artesão da paz e cidadão planetário, o bispo brasileiro mais influente no Concílio Vaticano II, ao abrir um caminho de esperança e renovação, na sua opção de profeta, marcada pela coerência, em favor dos empobrecidos, num desejo de mudança: “Se não engano, nós, os homens da Igreja, deveríamos realizar dentro da Igreja as mudanças que exigimos da sociedade”.
Por isso mesmo nunca iremos nos cansar de falar do seu grande ardor e entusiasmo de místico, de um homem profundamente marcado pela graça de Deus, no seu trabalho bem articulado e amor acendrado pela Igreja pobre e servidora, consubstanciado aqui na sábia frase do Teólogo José Comblin: “Sou daqueles que tem a convicção de que os escritos de Dom Helder ainda serão fonte de inspiração na América Latina, daqui a mil anos”.