A quantas anda a violência contra a mulher?
Maria Clara Lucchetti Bingemer
O mês de maio, de Maria, das noivas e das mães, é sem dúvida e sempre identificado com a mulher. Mês das flores, do tempo belo e fresco, dos dias azuis e de sol acariciante, como não ligá-lo com essa que é a mais delicada obra do Criador, diante da qual Adão recém criado exclamou apaixonado: “Essa sim é osso de meus ossos e carne da minha carne”.
Infelizmente não andam muito favoráveis as estatísticas sobre a mulher. Cada dia abrimos o jornal e encontramos notícias tristíssimas: mulheres agredidas, verbal, física e psicologicamente, muitas vezes até a morte. Mães, esposas, namoradas, noivas, filhas, netas… não há limites para a violência que parece desencadear-se cada vez com mais fúria sobre a mulher.
Atualmente, o problema da violência contra a mulher é tão sério que é comparável com o problema da AIDS. Vai a dois, a quatro milhões de mulheres anualmente que são agredidas por seu companheiro, marido, noivo, ou amante. Entre 15 e 25 % dessas mulheres estão grávidas; o qual faz mais sério ainda o problema. As mulheres maltratadas constituem 20 % das mulheres que vão aos serviços de emergência com feridas.
Trata-se, porém de um tipo de violência não sempre fácil de definir ou reconhecer. Em termos gerais poderíamos designá-la como o uso deliberado da força para controlar ou manipular outro ser humano, mais frágil e indefeso. Trata-se do abuso psicológico, sexual ou físico habitual. Acontece entre pessoas muitas vezes relacionadas afetivamente, como são marido e mulher ou adultos contra os menores que vivem em uma mesma casa.
A violência não é somente o abuso físico, os golpes, ou as feridas. São ainda mais terríveis a violência psicológica e a sexual pelo trauma que causam, mais que a violência física, que deixa sinais que todo mundo pode ver. Há violência quando se ataca a integridade emocional ou espiritual de uma pessoa. Mas sempre a violência física, a mais evidente, é precedida por abuso psicológico, que é usado sistematicamente para degradar à vítima, para erodir e esmagar a auto-estima da mulher.
A violência psicológica se detecta com maior dificuldade. Quem sofreu violência física tem rastros visíveis e pode obter ajuda mais facilmente. Entretanto, à vítima que leva cicatrizes no psiquismo ou na alma tem muito mais dificuldade em obter compaixão e ajuda. À violência física precede, às vezes, anos de violência psicológica. A violência psicológica é desprezar a mulher, insultar de tal maneira, que chega um momento em que essa mulher maltratada psicologicamente, já acredita que merece esses golpes.
Há mulheres que se envergonham pelo que lhes acontece e que até se acreditam merecedoras dos abusos. Por isso preferem mantê-los em segredo e assim essa situação pode prolongar-se durante anos. A intimidação é também um abuso. “Se disser algo lhe mato.” Muitas mulheres não se atrevem a falar, pelas ameaças que seus maridos ou seus companheiros lançam contra elas.As ameaças através dos filhos, as ameaças de que lhe vão tirar ao filho, todos estes são abusos psicológicos que precedem o abuso físico. Todos estes abusos impedem que a mulher deixe o lar, esse lar violento. É que essa surra psicológica a que estão submetidas muitas mulheres, é mais horrorosa que o abuso físico. Os golpes doem e machucam, mas os abusos psicológicos, os insultos, os desprezos ficam cravados no coração.
Pudesse o mês de maio servir de tempo de reflexão e exame de consciência. De que adianta celebrar a beleza da mulher, cantar as curvas da garota de Ipanema se no segredo do lar, da alcova, ela padece insultos, abusos, violência de todo tipo? Mulher é gente. É diferente do homem. E há que amar essa diferença. É assim que se construirá verdadeiramente a humanidade.