Advento, alegria e penitência
Edmar Peron
“Seguir com fidelidade o desenrolar do Ano Litúrgico” é um convite, hoje, para entrarmos no mistério do Advento, particularmente guiados pelos textos da liturgia. O Primeiro Domingo do Advento iniciou adequadamente o Ano Litúrgico, pois marcou o início desse intenso período de preparação que conduz à celebração do Natal do Senhor e às suas primeiras manifestações, particularmente a Epifania. Tal preparação é ao mesmo tempo litúrgica, espiritual e moral, pois requer verdadeira conversão do coração. A segunda leitura desse Domingo – Rm 13,11-14a – continua a ressoar como um convite apropriado à conversão: “Vocês conhecem o tempo, e já é hora de vocês acordarem: a nossa salvação está agora mais próxima do que quando começamos a acreditar. A noite vai avançada e o dia está próximo. Deixemos, portanto, as obras das trevas e vistamos as armas da luz. Vivamos honestamente como em pleno dia: não em orgias e bebedeiras, prostituição e libertinagem, brigas e ciúmes. Mas, vistam-se do Senhor Jesus Cristo” (Bíblia Pastoral). Essa palavra muito ajudou Santo Agostinho, em sua conversão, e tem o poder de, no tempo atual, mudar também as nossas vidas.
A penitência é empenho para ver acontecer uma regeneração espiritual. A vida espiritual é semelhante à terra seca, não cultivada, que precisa de máquinas e trabalho duro para ser semeada e dar frutos; somente com um trabalho árduo e incansável poderemos preparar um caminho para o Senhor, como encontramos na seguinte oração: “Despertai, ó Deus, os nossos corações, a fim de prepararmos os caminhos do vosso Filho, para que possamos, pelo seu advento, vos servir de coração purificado” (Liturgia das Horas, 2ª Semana do Advento, Quinta-feira).
Entretanto, a penitência não é somente um trabalho da pessoa, ela é, em primeiro lugar, um efeito da graça de Deus em nossas vidas. Mas, para que Deus realize em nós a sua obra salvadora, devemos remover os obstáculos que impedem a sua ação: “deixemos, portanto, as obras das trevas e vistamos as armas da luz”. E nós fazemos essa limpeza – “remover os obstáculos” – como pessoas livres; usando nossa liberdade de modo responsável abrimos caminho para que Deus tenha acesso à nossa vida. Nesse sentido, ouçamos o ensinamento de São Carlos Borromeu: “A Igreja deseja ardentemente fazer-nos compreender que o Cristo, assim como veio uma só vez a esse mundo, revestido de nossa carne, também está disposto a vir de novo, a qualquer momento, para habitar espiritualmente em nossos corações com a profusão de suas graças, se não opusermos resistência” (Liturgia das Horas, Ofício de Leituras, 1ª Semana do Advento, Segunda-feira).
Lembremo-nos, ainda, que o Advento não é um tempo penitencial da mesma maneira que o é a Quaresma. Ele é marcado pela alegria jubilosa: “um tempo de piedosa e alegre expectativa”; é a alegria de quem espera a pessoa amada, o tempo em que a Igreja espera a chegada do Esposo, e, como João Batista – na austeridade e na alegria – alegra-se ao ouvir a voz do esposo (cf. Jo 3,29).
Assim, para acolhermos sem obstáculos o “Verbo de Deus” – Jesus Cristo – que vem, dediquemo-nos com maior empenho à meditação da “Palavra de Deus”, ajudados por Maria, a serva do Senhor.