Adversários, mas não inimigos

Dom Anuar Battisti *

Neste pleito eleitoral cada candidato e seu partido fazem de tudo, até o que não podem, para conquistar e convencer o eleitor de que ele é o mais indicado para administrar a cidade.
Sempre são os melhores e mais preparados, nunca e em nenhum momento, são portadores de algum defeito que impeça a sua eleição. Pena que a perfeição só aparece neste curto período.

Depois, salve-se quem puder. Sabemos que são todos humanos, seres portadores de desejos maiores em colaborar, servir, ganhar status, buscar vantagens, servir o bem comum; enfim, é um emaranhado de sentimentos que, no andar da carruagem, nem sempre o que brilha é ouro.

Seja durante a campanha como depois, o que não pode faltar é a consciência de que todos, candidatos e eleitores, somos adversários políticos, pertencemos a este ou aquele partido, escolhemos este ou aquele candidato. Porém, jamais podemos participar deste dever de cidadania como inimigos.

Ter ou pertencer a um partido, lutar e defender um candidato, por melhor que seja, nunca dá o direito de conviver na sociedade como inimigos.

Pensamos diferentes, somos diferentes, mas o que conta é o bem comum. Tanto os eleitos como eleitores, passados por esta tempestade de ideias e ideais mirabolantes, deveriam lutar unicamente pelo respeito, pela convivência amigável, pela união e a dignidade de todos os cidadãos.

Mas infelizmente nem sempre é assim. Uma característica fundamental a ser considerada numa sociedade democrática é a diversidade, o pluralismo, as diferenças, que nunca devem ser afastadas e sim confrontadas.

O revanchismo, o revide, a exclusão, a discriminação são frutos da imaturidade política, infantilismo descabido, coisa de quem nunca soube perder. Saber perder e saber ganhar são dois aspectos fundamentais para a convivência pacífica.

Estamos longe ainda de entender que tudo passa, só o amor permanece. Quantas divisões entre nós por causa destes três meses de corrida atrás de votos. Principalmente nas cidades pequenas e nos bairros, quanta inimizade, quantas desavenças e intrigas que permanecem a vida toda.

O mais grave neste contexto político partidário, é a incapacidade de entender, por parte dos eleitos, que existem adversários políticos e não inimigos. A ignorância é tão grande quanto a incapacidade de conviver com o diferente.

Ser capaz de administrar uma cidade contando com todos, independentemente se pertence a este ou aquele partido, se votou neste ou naquele candidato.

Finalizado o pleito eleitoral, os eleitos deveriam ter a consciência de que só existe um único partido a defender: o bem comum de todos, não só dos que os elegeram. Temos um longo caminho a percorrer.

É triste saber que ainda vivemos numa sociedade de inimigos, e não de adversários. Imaginemos se dentro do campo de futebol se se confrontassem vinte quatro inimigos, ao invés de adversários.

Que Deus nos ajude a conviver numa sociedade de diferentes, para que se estabeleça um sistema verdadeiramente democrático.

*Arcebispo Metropolitano de Maringá (PR)
CNBB