Amar a quem nos faz o mal
José Antonio Pagola
A chamada para amar é sedutora. Seguramente, muitos escutavam com agrado o convite de Jesus a viver numa atitude aberta de amizade e generosidade para com todos. O que menos se podiam esperar era ouvi-Lo falar de amor aos inimigos.
Só um louco lhes podia dizer com aquela convicção algo tão absurdo e impensável: “Amai os vossos inimigos, rezai pelos que vos perseguem, perdoai setenta vezes sete…” Sabe Jesus o que está dizendo? É isso o que quer Deus?
Os que O ouviam, escutavam-No escandalizados. Esquecia Jesus que o seu povo vive submetido a Roma? Esqueceu os estragos cometidos pelas suas legiões? Não conhece a exploração dos camponeses da Galileia, indefesos ante os abusos dos poderosos latifundiários? Como pode falar de perdão aos inimigos, se tudo os está convidando ao ódio e à vingança?
Jesus não lhes fala arbitrariamente. O Seu convite nasce da Sua experiência de Deus. O Pai de todos não é violento mas compassivo. Não procura a vingança nem conhece o ódio. O Seu amor é incondicional para com todos: “Ele faz sair o Seu sol sobre bons e maus, manda a chuva a justos e injustos”. Não discrimina ninguém. Não ama só àqueles que lhe são fiéis. O Seu amor está aberto a todos.
Este Deus que não exclui a ninguém do seu amor atrai-nos a viver como Ele. Esta é em síntese a chamada de Jesus. “Parecei-vos a Deus. Não sejais inimigos de ninguém, nem sequer de quem são vossos inimigos. Amai-os para que sejais dignos do vosso Pai do céu”.
Jesus não está a pensar em que os queiramos com o afecto e o carinho que sentimos pelos nossos seres mais queridos. Amar o inimigo é, simplesmente, não nos vingarmos, não fazer-lhe mal. Pensar, mais no que pode ser bom para ele. Tratá-lo como queríamos que nos tratassem a nós.
É possível amar o inimigo? Jesus não impõe uma lei universal. Convida os seus seguidores a parecer-nos com Deus para ir fazendo desaparecer o ódio e a inimizade entre os seus filhos. Só quem vive tratando de identificar-se com Jesus chega a amar a quem lhe quer mal.
Atraídos por Ele, aprendemos a não alimentar o ódio contra ninguém, a superar o ressentimento, a fazer o bem a todos. Jesus convida-nos a «rezar pelos que nos perseguem», seguramente, para ir transformando pouco a pouco o nosso coração. Amar a quem nos faz mal não é fácil, mas é o que melhor nos identifica com aquele que morreu rezando por quem O estava a crucificar: “Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem”.