Caminhos da Missão
Dom Demétrio Valentini
Nesta semana a Diocese de Jales teve a honra de receber a visita do Arcebispo de Trichur, na Índia, Mons. Andrews Thazhath. Ele veio visitar os padres indianos que trabalham em nossa diocese. Aqui eles são quatro. Mas espalhados pelo mundo, passam de quarenta os padres da Arquidiocese de Trichur que se encontram em missão, em diversos países e em diversas circunstâncias.
Foram muito bonitas as celebrações feitas com a presença do Arcebispo, em S. José Operário e em Mira Estrela. A alegria brilhava no rosto de todos. O povo contente com a ilustre visita, e o arcebispo feliz de ver seus padres acolhidos pelo povo. Tomava forma a bonita utopia que sempre acompanha a missão da Igreja, de reunir a humanidade numa só família, “de todos os povos, línguas e nações”.
A visita do arcebispo indiano veio bem a propósito deste domingo das missões. Os dados estatísticos da Índia impressionam, e fazem pensar no tamanho do desafio missionário da Igreja naquele país de mais de um bilhão de habitantes, onde os cristãos, todos juntos, só chegam a 2,3% da população. Cifras que não espelham a importância da Igreja na Índia, pois os católicos, que não passam de 1,5% da população, são responsáveis por aproximadamente 30% das escolas, hospitais, orfanatos e outras obras sociais, promovidas em benefício de toda a população indiana.
Mas a Igreja na Índia, sobretudo no Estado do Kerala, no sul, onde a presença de cristãos é mais expressiva, chegando hoje a 19% da população, carrega uma história muito interessante, e reveladora de um dado muito importante para entendermos a propagação do Evangelho no mundo.
A Igreja na Índia foi fundada por S. Tomé, um dos doze apóstolos. A história comprova sua chegada no ano 52, e seu martírio em 72. Fundou sete Igrejas no Kerala, e marcou presença também em outras regiões da Índia.
A pergunta que intriga é saber como São Tomé foi parar tão longe, numa direção oposta à expansão inicial da Igreja, que tinha tomado o rumo do império romano. Ele, ao contrário, se embrenhou em direção à Ásia meridional, passando pelos atuais territórios da Arábia, do Iraque, do Irã, do Afeganistão, do Paquistão, indo parar no extremo sul da Índia. Pareceria que tivesse se desgarrado, e se perdido na imensidão da Ásia.
Mas, não! Como explicou Mons. Andrews, por lá havia, naquele tempo, uma forte presença de judeus, e de outros mercadores, ao longo de toda a costa ocidental da Índia. Assim se explica como S. Tomé chegou lá. Não foi sozinho. Aproveitou a estrada aberta por outros.
Daí brota uma importante constatação, de ordem missionária: o Evangelho precisa ser precedido de rotas humanas, por onde ele possa percorrer os caminhos do mundo. Não é por nada que João foi enviado à frente, “para preparar os caminhos do Senhor”. Pela dinâmica da encarnação, o Evangelho depende de fatores humanos.
Não se entende sua propagação pela Europa, sem o eficiente sistema viário implantado pelo império romano. A própria dispersão dos judeus, sua “diáspora” pelo mundo, serviu de veiculo para a propagação do Evangelho. É um tributo, que a Igreja precisa reconhecer aos judeus, e que poderá fortalecer a mútua estima e valorização.
Fato semelhante é atestado pelos Atos dos Apóstolos. Foi “pegando carona” com um etíope, administrador da Rainha de Candace, que o Diácono Felipe pregou o Evangelho, que foi levado para a Etiópia, onde suscitou a Igreja, que existe lá até hoje
A pergunta precisa ser feita de novo: que caronas o Evangelho pode pegar nos tempos de hoje, ou que novas rotas precisam ser abertas pelos missionários, para que o Evangelho possa chegar aos destinatários que o estão esperando?
Ao contrário de amaldiçoar a globalização, podemos descobrir nela preciosas oportunidades de propagar o Evangelho de Cristo. Contanto que nos demos conta de sua importância e de sua urgência.