Carta aberta das Juventudes do Brasil
Por ocasião da morte do nosso assessor nacional, Pe. Gisley Azevedo Gomes, nós, as juventudes brasileiras que viveram e conviveram com ele, que amaram e foram amadas por ele, vimos através desta manifestar toda a nossa tristeza e indignação pelo seu martírio.
Somos jovens das Pastorais da Juventude, dos quilombos, das aldeias, das Comunidades Eclesiais de Base, dos Movimentos Juvenis, dos Movimentos Sociais, Igreja e Igrejas, Cristãos. Somos jovens de todas as Religiões que fazem deste Brasil uma nação de Fé.
“Pai nosso dos pobres marginalizados…”
Pai nosso dos marginalizados, dos excluídos por uma sociedade egoísta, Pai nosso dos milhares de jovens brasileiros/as vítimas da violência da falta de educação, saúde, da falta de políticas públicas pra juventude…
“Pai nosso dos mártires, dos torturados…”
A juventude não precisava de mais um mártir, queremos nossos/as líderes vivos/as. Pai nosso das Dorothys, dos Mauros, dos Oziel’s, dos Josés, das Marias, dos Gisleys, dos Silvas… Pai nosso dos/as que são martirizados todos os dias pela fome, pela violência, por tantos males que nos matam a cada segundo.
“Teu nome é santificado naqueles que morrem defendendo a vida, teu nome é glorificado quando a justiça é nossa medida…”
E é por querer justiça que viemos agora gritar aos quatro cantos deste país o quanto amamos um homem santo e um santo homem. É pelo teu nome ser santificado na vida e na morte de Margarida, Chico Mendes, Josimo, Ezequiel, Dorothy e tantos/as outros/as, que viemos gritar contra a injustiça que está se fazendo com o nosso amigo e nos indigna o fato de alguns brincarem com a nossa dor, denegrindo a imagem de alguém que tanto nos amou. Nós, a juventude brasileira, não suportamos isso e queremos reafirmar que não nos calaremos!
“Teu reino é de liberdade, de fraternidade, paz e comunhão…”
Se o teu reino é de liberdade, porque continuamos presos/as a um sistema opressor e egoísta? Paz… onde está a paz, se sua paz lhe foi tirada? Só não esquecemos do AMOR. Jamais esqueceremos do teu amor para conosco.
“Maldita toda violência que devora a vida pela repressão…”
Mas benditos sejam os que pela violência te ceifaram a vida. Temos certeza que eles não sabiam o que faziam. Fica pra nós tua frase do último email: “Agradeço pelo empenho de tantas vozes dispersas até agora! Vamos juntos/as gritar, girar o mundo. Chega de violência!” CHEGA DE VIOLÊNCIA!!!
“Queremos fazer tua vontade, és o verdadeiro Deus libertador…”
E muitas vezes, tantas vezes não conseguimos… Tua vontade é a vida, mas escolhemos a morte e infelizmente, nesta semana, escolheram por nós. Tanta tristeza e revolta que chega a parecer que nossa luta é em vão. Pra quê e porque defender uma juventude que mata, fere, destrói, que bagunça, não respeita ?? Nos fazemos esta pergunta agora e chegamos a seguinte conclusão: Ainda não lutamos suficiente, não transformamos a realidade juvenil e as suas atitudes. Agora chegou a nossa vez de cantar… Fazermos marchas, caminhadas, romarias, vigílias, soltar a voz e cantar, gritar. Defender, viver… escrever nossa história de vida e luz. Somos o sal, fermento e luz. Que brilhe em nossos corações a paz e a unidade… Chega de tantas guerras, das dores de tantos/as jovens… nas drogas, na violência, trabalho escravo, sem teto, sem terra, órfãos, sendo discriminados, queremos igualdade. Basta de jovens no caixão… caixão este que muitas vezes é o da desigualdade social, do pré conceito e tantos outros…
“Não vamos seguir as doutrinas corrompidas pelo poder opressor…”
Mesmo diante da tua vida ceifada inegavelmente por um menor, continuamos gritando que jogar esse mesmo menor numa cadeia com adultos não é a solução. Continuamos contra a redução da maioridade penal. Diante da tua morte gritamos que queremos a vida; e vida em plenitude. Afirmamos decididos/as: Não seguiremos as doutrinas de morte que corrompem a vida e estraçalham os/as jovens!
“Pedimos-te o pão da vida, o pão da segurança, o pão das multidões. O pão que trás a humanidade, que constrói a gente em vez de canhões…”
Pedimos-te o pão das políticas públicas para a juventude. Queremos educação, queremos um projeto popular para o Brasil que paute as razões do nosso viver. Pedimos o pão da coragem de gritar pela boca dos/as que sofrem a injustiça social, pela Negra Mariama que sofre a discriminação racial, pelo pobre que incomoda o latifundiário. Queremos justiça, mas justiça com amor. Jovens de todo o Brasil, mais uma vez é derramado sangue. Mais um Mártir surge para nos abraçar com grande aperto no coração e, pelo seu sangue derramado, pedimos que todos intensifiquem a luta contra a violência. Somos a Juventude do Brasil, dos quilombos e das aldeias, do campo e da cidade, da Amazônia, do Cerrado, do Semi-Árido, do Litoral, dos Pampas… de todos os recantos deste Brasil. Somos Jovens e queremos viver porque “O rosto de Deus é jovem também e o sonho mais lindo é ele quem tem. Deus não envelhece, tampouco morreu, continua vivo no povo que é seu. Se a juventude viesse a faltar, o rosto de Deus iria mudar”.
“Perdoa-nos quando por medo ficamos calados diante da morte. Perdoa e destrói o reino onde a corrupção é a lei mais forte. Protege-nos da crueldade do esquadrão da morte dos prevalecidos…”
Viemos também, por meio desta, gritar à juventude brasileira que nos perdoe porque demoramos tanto a começar a lutar que acabamos perdendo nosso amigo e irmão que nos incentivava para o combate. Viemos pedir perdão ao Gisley por tudo o que se está dizendo dele, nas mais variadas formas de nos enfraquecer. Foi calada mais uma voz a favor dos/as jovens na luta pela igualdade e pela justiça, mas esses/as mesmos/as jovens não se calarão. Perdoa-nos Gisley, porque não começamos a lutar mais cedo, talvez se tivéssemos você ainda estaria com a gente. Choramos a sua ausência, mas reforçamos a nossa luta contra a violência e contra o extermínio da juventude. Não são três balas de 38 que calam a voz dos/as que lutam pelos direitos dos/as jovens neste país, não são instituições e autoridades vendidas que abafarão as vozes dos/as que clamam por melhores condições para se viver. Não são as armas nucleares, nem as guerras, nem o tráfico de pessoas humanas, ninguém, nem nada pode calar a voz destes profetas e profetizas!
“PAI NOSSO REVOLUCIONÁRIO, PARCEIRO DOS POBRES, DEUS DOS OPRIMIDOS!”
“Entre dores e sofrimentos, ousamos, ao lado do padre Gisley, celebrar e cantar a vida. Obrigado, padre Gisley, por nos comunicar o ardor da vida, por nos convencer a construir a paz!”
OBRIGADO PE. GISLEY! SERÁS ETERNAMENTE O NOSSO ASSESSOR!!!
A Campanha está lançada! Prosseguimos em Marcha, contra a Violência e em Defesa da Vida!
Juventudes Brasileiras
Brasil, 19 de junho de 2009.