Carta do Clero de Manaus/AM
Agência Adital
Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus. (Mt 5,10)
Considerando os últimos e violentos acontecimentos que têm ferido profundamente nosso povo e, particularmente, aqueles que atingiram diretamente diversos seguimentos de nossa Igreja Católica, (invasão de casas religiosas, seqüestros) que culminaram com o cruel e vil assassinato do missionário italiano, Ruggero Ruvoletto, o Padre Rogério, da Área Missionária Imaculado Coração de Maria, bairro de Santa Etelvina, nós membros do clero de Manaus, não podemos deixar de manifestar nossa palavra de indignação e repúdio diante deste conturbado quadro que envolve nosso povo, abandonado à própria sorte.
A repercussão do assassinato do Padre Rogério fez emergir em cada um de nós, como em toda a sociedade um sentimento de medo e insegurança, mas ao mesmo tempo uma reação de indignação que nos motiva a um compromisso pela paz. A discussão suscitada pela Campanha da Fraternidade de 2009 sobre a Segurança Pública deve ser mantida com vigor e eficácia. Segurança é uma política de Estado, não de governo, pautada na defesa da dignidade da pessoa com valorização e respeito à vida e à cidadania. Assistimos a um mega-investimento do erário público em estruturas, obras e publicidade e do outro lado os serviços essenciais à população, apresentam qualidade questionável. A fragilidade do aparato de segurança provoca cada vez mais o descrédito da população nas instituições responsáveis pelo seu bem-estar. O povo desconfia de quem deve proteger!
Não podemos continuar fazendo de conta que as coisas estão bem! As coisas não estão bem! As estatísticas não são necessárias neste momento de perceber que agressões, assaltos, assassinatos, seqüestros, conflitos violentos se espalharam em nossos bairros como uma epidemia fora do controle. Passados mais de sete dias do assassinato do Pe. Rogério, não temos outra resposta a não ser os desencontros noticiados pelos meios de comunicação. Queremos acreditar numa séria investigação dos fatos que nos apresentem uma resposta esclarecedora e verdadeira. Nos fazemos solidários com o povo de Santa Etelvina e o clamor deste povo ecoa em nossas vozes: “Queremos justiça!” Mas entendemos também, que justiça não é vingança. O Deus da vida é também o Deus da Misericórdia! Como membros da Igreja de Manaus, tornamos público o nosso perdão aos agressores. Nos fazemos solidários ao Pe. Sandro Sebastião e com as lideranças das comunidades da Área Missionária Imaculado Coração de Maria, para que continuem a caminhada de luta, fé e esperança que vinha sendo conduzida pelo irmão Pe. Rogério.
Por fim, conclamamos as organizações populares, as instituições e serviços comprometidos com a transformação social, as igrejas, os demais seguimentos da sociedade e as autoridades competentes para que inauguremos uma corrente de iniciativas que discutam, reflitam, debatam a questão da Segurança Pública. Que realizemos juntos um verdadeiro mutirão em favor da vida e da paz. Coloquemos na nossa pauta a necessidade de resgate da justiça social. Só a Justiça gera Paz!
Manaus, 26 de setembro de 2009.
O clero de Manaus, junto com seus bispos.