CEBs: fermento do Reino
Pe. Jaime Carlos Patias
Dois acontecimentos significativos marcarão a vida da Igreja no mês de julho: o Mutirão Latino-Americano e Caribenho de Comunicação (Porto Alegre, dias 12 a 17) e o 12º Intereclesial das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base (Porto Velho, dias 21 a 25). O Mutirão busca promover diálogos sobre processos de comunicação à luz da cultura solidária e o Intereclesial, escutando o grito da Amazônia, refletirá sobre ecologia e Missão. Ambos os eventos buscam caminhos para estabelecer uma sociedade mais justa e comprometida com a liberdade e a paz. As CEBs nasceram há dois mil anos com a Boa Notícia da Ressurreição de Jesus reacendendo em todos os corações a chama da esperança. É Deus que se comunica com a humanidade gerando transformação.
Os primeiros cristãos “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações” (At 2,42). Por isso, a casa aparece como espaço importante de encontro da família e da comunidade – Igreja. Os Evangelhos mostram Jesus e seus discípulos passando pelas casas. Os Atos dos Apóstolos falam de casas acolhedoras, a serviço da evangelização: a casa de Tabita, de Cornélio, de Lídia, de Priscila e Áquila… Também Paulo, hóspede de tantas casas, recordará a acolhida recebida nas igrejas reunidas nas casas: “Saúdem os irmãos de Laodicéia, como também Ninfas e a igreja que se reúne na casa dele” (Col 4,15).
Nas casas, os primeiros cristãos eram abastecidos na fé e encorajados a sair para a Missão. Não faltavam problemas e conflitos internos e externos, marcados sobretudo, pela perseguição do império romano descrita no livro do Apocalipse.
Com o passar do tempo, sobretudo a partir do século IV depois de Cristo, com o imperador Constantino, a Igreja que antes se reunia nas casas ou mesmo nas catacumbas, com a liberdade religiosa, cede lugar à Igreja dos grandes templos e das liturgias pomposas, afastada da vida e da realidade do povo. Surgem as estruturas paroquiais e diocesanas como resposta aos desafios postos ao longo da história.
Ao mesmo tempo não faltaram vozes proféticas como São Francisco de Assis, Santa Clara, Santo Antônio e tantos outros, determinados a reconstruir a Igreja. Este período irá até o século XX, com a convocação, do Papa João XXIII, para o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). “A Igreja está com cheiro de mofo. Precisamos abrir suas portas e janelas para que ela entre de ar novo no mundo”, dizia o Papa João preocupado em retomar a fidelidade ao projeto de Jesus. É aqui que renascem as CEBs, grupos de pessoas simples que voltam a se reunir para pensar juntos a sua realidade à luz da Palavra de Deus. As CEBs “converteram-se em centros de evangelização e em motores de libertação e desenvolvimento” (Puebla, 96). Hoje este valho e sempre novo modo de ser Igreja continua mais vivo e necessário do que nunca, justamente porque a Igreja ainda carrega o peso de suas estruturas caducas que já não favorecem a transmissão da fé.
Preocupada com a conversão pastoral e renovação missionária a Conferência de Aparecida, propõe fazer das paróquias “comunidades de comunidades” (cf. 309, 517 e 179) e transformá-las de comunidades de manutenção em “centros de irradiação missionária em seus próprios territórios” e “lugares de formação permanente”. Na busca de soluções, Aparecida reconhece a importância das CEBs, um modo de ser Igreja do passado, do presente e do futuro. O Mutirão de Comunicação e Intereclesial são momentos de graça para reafirmar o compromisso com o projeto de Deus na história. A comunicação da Boa Notícia de Jesus Ressuscitado continua ecoando nas comunidades como fermento na construção do Reino.