CF 2009: Fraternidade e Segurança Pública
Maria Clara Lucchetti Bingemer *
Como todos os anos, no início da Quaresma, a Igreja do Brasil realiza um movimento a nível nacional: a Campanha da Fraternidade. Neste ano de 2009, o tema é da violência nas urbes brasileiras e o desafio que isso representa para a segurança pública. Encontra sua raiz no coração da mensagem bíblica, mais exatamente no capitulo 32 do profeta Isaias: a paz não virá senão como fruto da justiça.
No texto-base da Campanha é apresentada uma reflexão sobre o conflito e suas múltiplas dimensões. Não sempre ou necessariamente negativo, o conflito faz parte da vida e da convivência humana. Pode ser um conflito de idéias ou de decisões. Pode acontecer dentro da própria casa, entre membros de uma mesma família. A questão é a maneira como é administrado e resolvido. Pode ser através do diálogo, buscando um consenso; ou da força, da violência, de modo que as opiniões de uma pessoa prevaleçam sobre as do outro.
O texto deixa claro que conflito não é sinônimo de violência e que a convivência humana supõe e deve administrar diferenças e divergências. Estas devem, contudo, ser trabalhadas através do diálogo. E se o consenso se revela mais difícil do que parece, há que entrar em cena a figura do mediador. Atualmente o principal e praticamente único mediador de conflitos é o sistema judiciário que verifica, à luz da legislação, qual das partes tem razão.
A Igreja pretende chamar a atenção para a necessidade da ampliação da mediação de conflitos na sociedade brasileira. Está mesmo disposta a criar, para mediar os conflitos mais sérios, um ministério ou serviço eclesial com essa finalidade. Ao mesmo tempo, dispõe-se a trabalhar junto aos poderes públicos a fim de que a mediação de conflitos se torne uma atividade institucional, e não se reduza a iniciativas isoladas. Existem já propostas de leis no sentido de que não apenas advogados, mas também psicólogos, teólogos, possam atuar como mediadores de conflitos.
Com respeito à violência, já se entra em outro nível. E a CF admite tratar-se de um problema primordial e grave no Brasil. Portanto, deve ser combatido por todos os meios possíveis, desde a denúncia até a defesa explícita, sobretudo daqueles que são mais vulneráveis. Existe a violência doméstica contra a mulher e a criança assim como a do crime organizado. Existe a violência praticada e sofrida pela polícia. Existe ainda o racismo, forma terrível de violência simbólica. E os abusos explícitos contra os direitos humanos: tortura nas prisões, trabalho escravo, miséria das grandes maiorias, que pagam o preço da exorbitante riqueza de uns poucos.
Em todos os casos, o que a Campanha pretende demonstrar é que toda violência encontra sua raiz em alguma injustiça. A perda da maneira correta da relação entre pessoas e grupos humanos será sempre a geradora da violência. A injustiça oprime e pressiona até que a reação exploda em violência. Cria-se então uma cultura e uma indústria do medo, onde as pessoas constróem muros e cercas elétricas para defender-se umas das outras.
A CF sabe não poder fazer milagres. Quer, porém, suscitar o debate para que cada comunidade levante as situações de mais insegurança e violência presentes em seu meio, questione sobre suas causas e procure organizar-se para combatê-las. A paz verdadeira só poderá ser fruto maduro da justiça praticada. O problema da segurança pública que assola o Brasil só poderá ser resolvido quando justiça e paz se abraçarem, tal como diz o Salmo 58,11, apontando para os tempos messiânicos.
* Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, e Diretora Geral de Conteúdo do Amai-vos. É também autora de “A Argila e o espírito – ensaios sobre ética, mística e poética” (Ed. Garamond), entre outros livros.
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maria selma lopes silva
mar 28, 2009 @ 15:00:55
Dentro do quadro de violencia que estamos atravessando, surge a esperança de um novo operador , qual seja “o mediador de conflitos”, vários cursos estão sendo ministrados aos operadores da segurança pública, masnão so a estes devem ser destinados, vamos para todos profissionais, pois dentro de seus conhecimentos todos teem algo a dar. esperando que as Autoridades tomem a paternidade URGENTE, pois não suportamos mais tanta violencia, e mais drastricamente “a violencia domestica”, pois desta, os maleficios são tremendos, envolvendo homicidios, drogas e outros.. vamos lutar, a Igreja com a força que tem pode cobrar e também propagar mais a nível de todas as classes, POIS OS MENOS FAVORECIDOS NÃO SABEM NEM O QUE É CONFLITO, MUITO MENOS QUE SE ESTUDA UM MEIO DE AJUDÁ-LOS.