Chile e Haiti: Ainda a Solidariedade
Dom Demétrio Valentini
Primeiro foi o Haiti, o país mais pobre da América Latina, sacudido por violento terremoto que deixou a cifra espantosa de mais de duzentos mil mortos.
Agora é o Chile, atingido por terremoto ainda mais forte, mas com seu epicentro um pouco mais distante de aglomerados urbanos.
Ambos, porém, com pesadas conseqüências, que levarão anos para serem reparadas. O mais trágico é sempre o que não pode ser reparado, como a perda de vidas humanas.
Em favor do Haiti, a CNBB em conjunto com a Cáritas lançou de imediato uma campanha, que teve adesões surpreendentes, mostrando como nestes momentos emerge com força a solidariedade para com irmãos e irmãs vítimas dessas tragédias.
Agora para o Chile, a Caritas Brasileira se sente no compromisso de lançar campanha semelhante, mesmo que haja diferenças notáveis a serem levadas em conta. Mas não é o caso de fazer contas em cima das evidentes diferenças. O apelo é o mesmo: em ambos os casos, são irmãos e irmãs que estão passando por grave provação, diante da qual não podemos permanecer inertes, nem podemos ficar só nos sentimentos. Percebemos a necessidade de traduzir nossa solidariedade em gestos de ajuda concreta, por pequena que seja. Ela pode se multiplicar em surpreendentes energias nas pessoas que estão diretamente envolvidas no socorro às vítimas.
Impressiona a seqüência de tragédias que estão se abatendo pelo mundo. Muitas delas fora do nosso alcance como os terremotos e outros desastres naturais. Outras provocadas pela ação humana. Todas mostram o quanto nosso mundo está carente de solidariedade.
Colocadas no contexto da campanha da fraternidade deste ano, sobre a economia e sua relação com a vida, estas tragédias reforçam a convicção de que a solidariedade não pode ser olhada como remédio esporádico, ou componente exótico que enfeita um pouco o cotidiano das nossas refregas.
A solidariedade precisa ser cultivada e implantada como parte integrante de todos os nossos relacionamentos humanos, mesmo aqueles mediados pelas diversas atividades econômicas. A solidariedade não é opção secundária e subjetiva, como tempero facultativo para um cardápio que a dispensa facilmente.
Mesmo quando falamos de “economia solidária”, corremos o risco de vender a idéia de que a solidariedade só é componente de ensaios superficiais e periféricos de alternativas econômicas, enquanto a economia deveria continuar sendo praticada sob o comando dos rígidos ditames do lucro e da exploração.
O próprio mercado nasceu sob o signo da solidariedade, que levava as pessoas a oferecerem o que tinham em excesso, para outras que em troca cediam o que lhes sobrava. Dependendo da análise que a partir daí se faz do processo econômico, facilmente a solidariedade é excluída, ainda mais se aparecem outras referências que se dizem as verdadeiras promotoras da dinâmica econômica.
Pois bem, teorias à parte, a evidência é esta: a solidariedade precisa se tornar conatural à existência humana, e a todos os seus relacionamentos.
Agora, por exemplo, com o terremoto no Chile, devia ser mais do que evidente que é preciso colocar em ação nossa solidariedade. Nem deveria se aguardar a “autorização” de alguém, como se a solidariedade fosse opcional. A Cáritas Brasileira também entende que o apelo é evidente, e precisa ser respondido de imediato, sem aguardar autorizações optativas. E´ a dimensão humana que justifica a solidariedade, a serviço da qual a Cáritas coloca mais esta campanha em favor agora do povo irmão do Chile. Teremos a alegria de constatar a grande solidariedade do próprio povo chileno, reconstruindo seu país e deixando-o melhor do que estava antes do terremoto.
Viva o povo chileno!