CNBB em ritmo de Páscoa
Dom Demétrio Valentini
De 22 de abril a primeiro de maio a CNBB estará realizando sua 47ª. Assembléia anual. A data é determinada pela Páscoa. Nesta época, em cada ano, os bispos vêm chegando das 270 dioceses do Brasil, para o seu encontro de dez dias.
Observadas as circunstâncias, é o tempo mais propício para reunir os bispos. Em primeiro lugar, porque na páscoa cada bispo se encontra em sua respectiva diocese, onde sua presença é indispensável para a realização das grandes celebrações que lhe cabe presidir por dever de ofício. Se é para convocar os bispos, é na páscoa que os encontramos em casa.
Mas a assembléia da CNBB em tempo de páscoa não é ditada só pela conveniência de época. A reunião de todos os bispos tem uma evidente semelhança com os acontecimentos do dia da ressurreição.
A cruz tinha desnorteado os apóstolos, e o germe da dispersão já corroía os vínculos da comunhão ente eles. No primeiro dia após o sábado, alguns já estavam se mandando de volta às suas antigas moradias, curtindo a frustração de suas esperanças, como os discípulos de Emaús.
Mas a notícia da ressurreição aos poucos foi de novo congregando os discípulos, tecendo entre eles um novo compromisso e uma nova consciência de serem depositários de uma causa que era preciso assumir e levar adiante. A ressurreição, na verdade, foi dando firmeza à Igreja, que a partir daquele dia foi se consolidando, e foi tomando consistência, toda ela derivada de Jesus Cristo, que então começou na verdade a ser compreendido na sua dimensão divina e na sua missão salvadora.
Assim continua acontecendo hoje. É ainda em Cristo Ressuscitado que a Igreja busca força para se reconhecer e para assumir a missão a ela confiada. Por isto, é muito significativo que depois da Páscoa os bispos se congreguem em assembléia, para de novo se sentirem reunidos em torno de Cristo, e dele receberem a paz, o perdão e a força do Espírito para cumprirem a missão, como aconteceu com os apóstolos.
Se olhamos a temática central da assembléia deste ano, percebemos ainda os reflexos de Aparecida. Aquela reunião representativa de toda a Igreja da América Latina vai se confirmando sempre mais como paradigmática, como evento revelador da atuação do Espírito de Deus, por ter captado a essência do Evangelho, de maneira sintética e dinâmica, expressando-o pelo binômio “discípulos e missionários de Jesus Cristo”. De fato, a atividade de Jesus pode ser sintetizada nestas duas palavras: ele formou discípulos, que se transformaram em missionários.
Nesta dupla dimensão, podemos identificar ainda hoje a tarefa da Igreja. Ela também precisa formar discípulos, para transformá-los em missionários.
Pois aí está o tema central desta assembléia: a formação dos presbíteros. Mas não só eles. Todos os membros da Igreja precisam se tornar discípulos de Cristo. Por isto o outro tema, a iniciação cristã, destinada a todos.
Mas não basta formar discípulos. Se eles não assumem a missão, é vã a sua formação. A assembléia estará atenta a esta dimensão indispensável, analisando propostas concretas da “missão continental”, que Aparecida propôs.
Numa de suas aparições como ressuscitado, Jesus surpreendeu os discípulos pescando no mar da Galiléia. Era de madrugada. Nada tinham apanhado durante a noite. Sob a palavra de Jesus, lançaram de novo a rede, que se encheu de 153 peixes.
Pois bem, o tema central de Aparecida, “discípulos e missionários”, que ainda continua presente nas assembléias da CNBB, é como as duas pontas da rede. Puxando-as, vem a rede inteira. Resta ver se vem vazia, ou cheia de peixes. Depende do compromisso dos discípulos de Cristo com as causas da humanidade. Jesus tinha dito que seriam pescadores de homens. A rede da Igreja precisa estar repleta da problemática humana.
Como no tempo dos apóstolos, o Ressuscitado pede à CNBB que lance as redes na realidade do povo brasileiro. Há um grande cardume de problemas, que aguardam a solicitude missionária da Igreja para serem assumidos à luz da Ressurreição, e transformados em caminho de vida nova para todos.