Comunicado dos Jesuítas no Haiti
Ellacuria Fundazioa
(Tradução: Agência Adital)
Nós, Jesuítas trabalhando no Haiti em diversos espaços, somos testemunhas do drama diário em que vivem milhares de nossos/as irmãos/ãs haitianos. Como Yahvé, no deserto, nós vemos a miséria de nosso povo e escutamos seus gritos.
“E o Senhor disse-lhe: Eu vi a aflição de meu povo no Egito e ouvi o seu clamor causado pela crueza daqueles que têm a superintendência das obras. E, conhecendo a sua dor, desci para o livrar das mãos dos egípcios e para o conduzir daquela terra para outra terra onde corre o leite e o mel…” (Ex. 3,7-8)
A miséria de nosso povo:
– Milhões de haitianos/as são vítimas do aumento vertiginosos e permanente dos preços dos produtos de primeira necessidade e não satisfazem as necessidades mais essenciais, particularmente, de alimento.
– A diminuição da produção nacional em todos os setores da economia leva à fome e à desnutrição total.
– O empobrecimento vergonhoso e intolerável de nossas populações urbanas e rurais.
– O aumento da insegurança, especialmente o ressurgimento com força total do fenômeno do sequestro e da desesperança entre os jovens.
– Nossa nação está submersa na vergonha e na desesperança com sua soberania de joelhos e a maior parte da população vivendo em condições desumanas.
A miséria de nosso povo é também:
– A incapacidade total da maioria de nossos governantes para enfrentar os problemas fundamentais da sociedade.
– A ausência total de uma oposição política construtiva que controle e estimule a ação governamental em benefício da nação.
– O aniquilamento total da função política do Parlamento, que tem procedido de maneira desonesta (e temos exemplos…), a corrupção etc.
– A irresponsabilidade da comunidade internacional, particularmente dos países chamados amigos do Haiti, das instituições financeiras internacionais (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Banco Interamericano de Desenvolvimento etc.), que não cumpriram sua promessa com o Haiti, assistindo, cinicamente, a sociedade haitiana ‘descer aos infernos’.
O povo haitiano é um povo de valor; porém, agora não está em condições de reagir. Torturado pela miséria, grita. Seu grito se converte em chamada.
O grito do povo hoje:
– Milhares de jovens perambulam pelas ruas para manifestar que já não podem mais; exigindo que os políticos assumam sua responsabilidade.
– Milhões de desempregados, torturados pela fome, gritam sua raiva pelas ruas de Porto Príncipe e pelas cidades do interior.
– Pais e mães de família passam vários dias sem poder comer e gritam sua miséria nas manifestações de rua…
– Crianças das favelas e do campo, abatidas, gritam todos os dias porque não encontram nada para comer e não têm futuro.
Chama, grita, nunca baixa os braços. Oh, tu, povo de valor! Precisas ajudar-me para que eu te ajude. Contigo eu posso fazer muitas coisas. Sem ti, não conseguirei. Tu necessitas de mim, eu sei. Eu sou teu aliado insubstituível; no entanto, eu também tenho necessidade de ti, de teus gritos, de tua unidade, de tua experiência de povo sofredor, de teu valor. Vamos trabalhar juntos.
A vitória estará do nosso lado, já que lutamos por uma causa justa. Tu conheces meu nome: EU SOU O DEUS DA VIDA E NÃO DA MORTE.
Tu conheces meu Projeto. Jesus de Nazaré bem o expressou no quarto Evangelho: “Eu vim para que tenham vida em abundância” (Jo 10,10).
Somos interpelados fortemente por essa situação intolerável e indigna que ameaça a nosso país em cair de novo em um drama; nos sentimos profundamente unidos a esse povo que sofre e, sinceramente, nos solidarizamos com as vítimas. Em nome de nossa fé cristã e de nosso compromisso como religiosos jesuítas, exortamos com força:
Aos responsáveis políticos
– Ao Presidente da República a tomar rapidamente as decisões políticas que se impõem para restabelecer a confiança e a paz, a comprometer-se a uma reforma de fundo das instituições públicas, colocando definitivamente o país no caminho do desenvolvimento.
– Às personalidades do Estado (Primeiro Ministro, Ministros, Secretários de Estado e Diretores Gerais, Senadores, Deputados etc.), a curto prazo a elaborar e a executar, em tempo recorde, um programa de emergência (real e eficaz) para aliviar os sofrimentos da população; e, em largo prazo, utilizar os recursos intelectuais e a sabedoria, tanto de nacionais quanto de estrangeiros, com a finalidade de colocar em marcha um verdadeiro plano de desenvolvimento nacional.
– Aos partidos e às organizações políticas que assumam sua responsabilidade de crítica e de controle da ação governamental, ajudando na busca de soluções adaptadas ao drama vivido por nossa sociedade, participando eficazmente na reforma do Estado, para tirar nosso país da vergonha e do estancamento.
– Aos comerciantes, industriais, importadores, banqueiros e outras forças vivas da nação a contribuir para diminuir o sofrimento de nossos cidadãos/dãs, com a finalidade de tomar consciência da necessidade de atuar conjuntamente para ajudar o Haiti a levantar-se.
– A todos os componentes da sociedade civil: religiosos/as, educadores, estudantes, responsáveis e membros de associações, sindicalistas e operários, artesãos, pequenos comerciantes, agricultores etc. a ficarmos de pé para buscarmos, juntos, as soluções aos problemas de nosso povo.
– À comunidade internacional, especialmente aos países chamados amigos do Haiti; às instituições financeiras internacionais etc. a respeitar seus compromissos com o Haiti, levando em consideração suas inúmeras promessas de cooperação para ajudar efetivamente ao país a sair do pântano. Oh, povo haitiano! Continua a chamar, a grita e a convocar àqueles que pudeste escolher para servir-te. Tua força será a não-violência organizada e sustentada.
A violência nunca é eficaz. Tu me chamas. Sim, eu estarei contigo e em ti pelo poder de meu Espírito.
P. Pérard Monestime, sj
P. Dérino de Sainfariste sj
P. Kawas François, sj,
P. André Charbonneau,sj
P. Molinero Lamothe, sj
P. Claude Suffering, sj
P. Ramiro Pampols, sj
P. Kénel Sénatus, sj
P. Gilles Beauchemin, sj
P. Gontrand de Décoste sj
H. Mathurin de Charlot sj
Thomas Dabady, sj
P. Godefroy de Midy, sj