Confiança e responsabilidade

ANTONIO PAGOLA DE JOSE SAN SEBASTIÁN (GUIPUZCOA)

O Evangelho original de Marcos foi acrescido, em algum momento, com um apêndice onde é recolhido este mandato último de Jesus: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. O Evangelho não pode ficar no interior do pequeno grupo dos seus discípulos. Tem que sair e se deslocar para atingir o “mundo inteiro” e levar a Boa Noticia para todos os povos, “a toda criatura”.

Com certeza, estas palavras foram escutadas com entusiasmo quando os cristãos estavam no calor da expansão e suas comunidades multiplicavam-se por todo o império, mas como escutá-las hoje quando sentimos-nos impotentes para reter aqueles que abandonam nossas igrejas por não sentirem mais a necessidade de nossa religião?

A primeira coisa é viver desde a confiança absoluta na ação de Deus. Foi Jesus quem nos ensinou. Deus continua trabalhando com amor infinito o coração e a consciência de todos os seus filhos e filhas, embora possamos considera-los “ovelhas perdidas”. Deus não está bloqueado por crise nenhuma.

Ele não está esperando que desde a Igreja, coloquemos em funcionamento nossos planos de restauração ou nossos projetos de inovação. Ele continua agindo na Igreja e fora dela. Ninguém vive abandonado por Deus, mesmo sem nunca ter ouvido falar no Evangelho de Jesus.

Mas isso tudo não nos dispensa da nossa responsabilidade. Temos que começar a fazer-nos novas perguntas: Quais os caminhos por onde Deus está procurando os homens e as mulheres da cultura moderna? Como Ele quer fazer presente ao homem e à mulher dos nossos dias a Boa Notícia de Jesus?
Ainda temos de nos perguntar mais uma coisa: Quais as chamadas que Deus está nos fazendo para a transformação da nossa forma tradicional de pensar, expressar, comemorar e encarnar a fé cristã de modo a favorecer a ação de Deus no interior da cultura moderna? Não estamos nos arriscando a tornar-nos, com a nossa inércia e a nossa imobilidade, freio e obstáculo cultural para o Evangelho se encarnar na sociedade contemporânea?

Ninguém sabe como será a fé cristã no mundo novo que está emergindo, mas dificilmente será “clonação” do passado. O Evangelho tem a força de inaugurar um Cristianismo novo.

Fonte: Eclesalia Informativo