Conhecer para se comprometer
“Só conhece realmente uma pessoa quem a ama sem esperança.”
W. Benjamin
Faz tempo, ouvi a frase “Ninguém ama o que não conhece”. Ora, conhecer significa entrar no mais profundo da essência, estabelecer um grau de intimidade que não requer qualquer explicação ou justificativa, apenas aceita. E amar é se comprometer com o outro, pouco importando as consequências desse ato de entrega. Como se vê, amar e conhecer, conhecer e amar, tudo se complementa, um não existe sem o outro, nem pode.
Quando conheço, torno-me consciente dos defeitos e qualidades do outro. Respeito os primeiros e valorizo os segundos, cultivando-os o quanto possível para que cresçam e deem frutos. Contribuo para que aconteçam mudanças e me empenho em aperfeiçoar o que já é positivo na pessoa, com a qual me relaciono. Detalhe importante: meu envolvimento com esse processo não beneficia apenas o outro, senão que contribui primeiramente para o meu crescimento pessoal.
Isso é amar, e parece-me que de fato ninguém ama o que não conhece. De outra maneira, o amor se tornaria um conceito vago – você certamente já se deparou com pessoas que “amam a humanidade”, ou seja, amam a todos, mas não amam ninguém, porque o amor só existe quando oferecido a uma pessoa real, concreta, num tempo e lugar determinado. Talvez isso explique por que a insistência em ser tudo para todos, seja o primeiro passo para terminar sendo nada para ninguém. Num primeiro momento, o discurso pode impressionar, mas logo revela sua fragilidade, que o torna capaz de conduzir a lugar nenhum.
Quem deseja amar, procura antes conhecer. Quem ama se compromete. Sem limite. Se preciso, com a própria vida.
Rubens Marchioni