Descendo a montanha
A devoção autêntica nasce de um vínculo com o Senhor da vida e do amor. Daí, assim como como flui a água da vertente, brota uma religiosidade apaixonada, entregue e comprometida. Não é forçada, pois, são criaturas que entraram em harmonia natural com seu Deus e criador. É próprio do homem viver em sintonia com quem é a fonte de sua imagem e semelhança.
Jesus convida seus amigos a descobrir realmente quem é. O Senhor e companheiro de todos brilha como o sol no topo da montanha. Descendo da montanha, continua com o seu andar humilde, como filho de seu Pai, e irmão de todos.
Ao associar-se com ele você se transforma completamente. Ele devolve sua dignidade, define sua identidade, e dá sentido aos seus desvelos.
Por outro lado, há também, uma falsa simulação da devoção autêntica. A estrita observância se disfarça de fervor, mas essencialmente, em nada se parece. Quem nunca subiu à montanha com Jesus, às vezes, cai nas garras de “exactismo idolátrico” , desconhecendo o amor apaixonado.
É certo que, em Cristo, não cabem as mediocridades. Para seus discípulos, não há apatia, mas somente radicalidade. Seus seguidores não postergam a opção, deixam tudo para seguir o caminho.
Os que desconhecem o alvor deslumbrante do amor transfigurado fingem seu compromisso radical, dando vazão às suas obsessões pelo cumprimento meticuloso do detalhe, do ritual e da palavra exata. Como bem dizia o Senhor, coam as moscas, mas engolem os camelos. Louvam o Senhor com os lábios, mas pecam pela vaidade espiritual.
Pensam salvar-se por sua própria conta, quando conseguem a ilusória perfeição pessoal.
Pretendem estar sempre com a cabeça metida entre as nuvens, ou pelo menos, que os vejam assim. Não são capazes de descer da montanha, para viver, amar e servir, como o Mestre os ensinou. Suas vidas não dão fruto de misericórdia, pois, querem impor sua doutrina aos demais, mediante obrigações e ameaças.
Eles se preocupam muito com suas próprias virtudes, passando de lado, diante de um irmão necessitado. Oferecem em holocausto os filhos que Deus lhes encomendou.
Não dão testemunho do amor desbordante que se estende aos mais simples, aos doentes e aos excluídos. Repreendem os humildes, por não saber o catecismo de memória. Seu deus é o rigor. Não reconhecem o Senhor que cura, salva e alimenta. Quando excluem aqueles que consideram indesejáveis, sentem-se orgulhosos, como se tivessem feito um grande favor a Deus.
O Reino de Deus não é uma doutrina que se impõe. Pelo contrário, começa com uma maneira de olhar; de ver o Senhor, tal qual é, e deixar ser olhado por ele como você é. Depois, com o mesmo olhar, descendo a montanha, olhar para os outros com os olhos de Jesus, e amar apaixonadamente, como ele amou. Jesus o convida a converter-se, e entrar no Reino.