Economia e Vida (XII): Fé, economia e formação.
Jung Mo Sung
Neste último artigo da série “Economia e vida” eu quero propor algumas reflexões sobre as contribuições que a fé cristã e a teologia podem dar na construção de um sistema econômico-sócio-político que seja capaz de possibilitar vida digna para todas as pessoas.
Em primeiro lugar, é preciso ter claro os limites da fé e da teologia. A fé é, acima de tudo, uma aposta em um modo de viver e de ver a vida. Ela nos dá sentido ao viver e uma perspectiva para entender a vida e o mundo. Teologia cristã é uma reflexão crítica e sistemática sobre a vida e o mundo a partir da fé de que na pessoa de Jesus de Nazaré se revelou para nós a “face” de Deus.
Na medida em que o objeto da reflexão teológica é a vida humana e o mundo – na perspectiva da revelação assumida pela fé -, sempre corremos a tentação de achar que podemos tratar de todos os assuntos só com argumentos religiosos ou teológicos, sem necessidade de auxílio de outras ciências. Isso aparece, entre outros casos, quando vemos pessoas de fé fazendo críticas ou propostas econômicas usando somente argumentos éticos ou teológicos, sem mostrar um mínimo conhecimento das ciências econômicas. É como se a economia pudesse ser bem entendida só com bom senso, as experiências econômicas do cotidiano e algum conhecimento teológico.
Imaginemos esse problema por outro ângulo. Se um grupo de economistas emitisse opiniões sobre o cristianismo e a Bíblia baseado somente nas suas experiências religiosas do cotidiano e senso comum sobre a religião, sem menor conhecimento, por exemplo, da diferença entre linguagem analítico-descritiva e a simbólica, de como a Bíblia foi sendo escrita ao longo de mil anos e da complexa história dos dois mil anos de cristianismo e coisas assim, a comunidade teológica não levaria esse grupo a sério.
Para entender a tradição bíblico-cristã, é preciso conhecer minimamente as ferramentas teóricas que nos dão uma visão adequada do assunto, para além do conhecimento imediato ou do senso comum. O mesmo vale para a economia.
Isso não quer dizer que as pessoas de fé que não tenham conhecimento das ciências econômicas não possam ou não devam emitir nenhum comentário ou juízo sobre economia. Pelo contrário. A fé deve incidir sobre todos os aspectos da vida, também no campo econômico, e por isso ela deve nos impulsionar a defender os direitos e a justiça em favor dos pobres. Mostrando assim que o sentido da vida está em viver na comunidade onde há lugar para todos/as, e não na acumulação de riquezas. E esta é a principal contribuição que podemos dar.
Porém, devemos reconhecer que a fé nos dá o espírito dessa luta, mas não nos oferece as estratégias concretas ou respostas adequadas para as questões operacionais da economia ou da política. Se não distinguirmos bem as especificidades da teologia e das ciências econômicas e sociais, corremos o risco de transformar a teologia em uma sociologia ou economia de segunda categoria.
Para evitar esse risco e também o de separar a fé e a teologia dos problemas concretos e reais das pessoas e da sociedade, a teologia deve dialogar com a economia e outras ciências do social e da vida Este é o segundo ponto.
Em terceiro lugar, para que lideranças cristãs, agentes pastorais e teólogos/as possam exercer com mais eficiência a missão de anunciar a boa-nova aos pobres, precisamos superar a tendência que existe na área de formação de se voltar para “dentro” do campo religioso, para afirmação das doutrinas religiosas (incluindo a doutrina social) da Igreja. É preciso assumir a formação teológico-pastoral como um meio para a missão no mundo. E para atuar e dialogar no mundo, o estudo das ciências econômicas e sociais precisa fazer parte da formação teológico-pastoral e da educação permanente. Não para formar economistas ou sociólogos, mas sim para formar agentes pastorais e teólogos/as capazes de práticas e reflexões teológicas relevantes e pertinentes no mundo de hoje.
Na verdade, essa lógica já acontece há muito tempo em outras áreas da formação teológica. Para entender a doutrina católica da transubstanciação, que ocorre na consagração eucarística, os estudantes de teologia aprendem também o pensamento filosófico sobre substância e acidente, assim como para estudar e praticar o aconselhamento pastoral é preciso aprender as noções básicas da psicologia.
O desafio colocado pela Campanha da Fraternidade de construirmos um sistema econômico que possibilite uma vida digna para todos/as não deve ser mais um entre tantos outros, que por serem muitos acabam sendo todos esquecidos ou relegados ao segundo plano. A vida é o maior dom que recebemos de Deus e “a vida em abundância para todos/as” é o objetivo maior da missão de Jesus e da sua Igreja.
Ivan Tadeu Couto Rojas
jun 28, 2010 @ 21:59:28
Sim, o sr. tem razão.
Não devemos falar daquilo que não estudamos.
Mas corre-se o risco de ficarmos presos no inferno da política e dos políticos corrúptos e perdermos de vista a nossa especificidade que é a salvação das almas.
Jesus não veio ao mundo para nos ensinar sociologia e política.
Veio nos dar os dons necessários à salvação.
Parte da Igreja, nos últimos anos, se perdeu muito, por trocar a sua missão por outra que pertence principalmente aos leigos.
De qualquer modo devemos rejeitar qualquer política de tipo “socialista” que devastou as economias do leste europeu e Cuba.
Só uma sociedade aberta e com livre iniciativa é que pode dar uma eficaz resposta à criação de empregos e a educação.
Aliás, é essa a Doutrina Social da Igreja, como a vemos nos Magistérios de Leão XIII, São Pio X, Beto XV, Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo II e o nosso amado Papa atual, Beto XVI.
Solicito a gentileza de publicarem esse meu parecer.
Grato.
Prof. Ivan Rojas – PUC-SP