Sínodo Extraordinário: Família e desafios para a evangelização

Cardeal Odilo Pedro Scherer*

No dia 8, o papa Francisco anunciou a realização de uma Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, de 5 a 19 de outubro de 2014. Será a 3ª assembleia extraordinária, desde que o Sínodo dos Bispos foi criado por Paulo 6°, no final do Concílio, em 1965.

Já estava prevista para outubro de 2015 a próxima assembleia ordinária do Sínodo, na comemoração dos 50 anos da sua criação. Aquela assembleia jubilar que terá por tema a pessoa humana e a família, já foi definida pelo papa Francisco: “Jesus Cristo revela o mistério e a vocação da pessoa humana e da família”.

A assembleia extraordinária terá como tema: “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”. Os temas são semelhantes, mas o foco em 2014 serão os desafios pastorais para a evangelização relacionados com a família, enquanto em 2015 estarão em pauta as complexas questões antropológicas relacionadas com a pessoa e a família.

A escolha desse tema foi motivada pelos enormes desafios pastorais que interpelam hoje a missão evangelizadora da Igreja no campo da família; mas, sobretudo, porque a Igreja continua a colocar muito valor na família, núcleo vital para a pessoa, a sociedade e a própria comunidade eclesial. As crises que a família enfrenta têm consequências diretas na transmissão da vida, da cultura e da fé.

Por isso, é mais que oportuno esse renovado esforço para propor “Evangelho da família” no contexto dos desafios que a família enfrenta. A assembleia extraordinária do Sínodo terá o objetivo principal de promover uma ampla tomada de consciência sobre as várias questões e situações da família e que hoje interpelam a missão e a ação da Igreja.

Mesmo em ambientes cristãos, encontram-se cada vez mais casamentos desfeitos e refeitos; uniões “de fato”, sem nenhum compromisso formalmente assumido; há ainda as chamadas “famílias monoparentais”, de quem vive a paternidade ou a maternidade sem casamento, nem convivência com o pai ou a mãe dos seus filhos. Há ainda as situações dos filhos confiados aos avós, ou das “mães de aluguel”; a poligamia continua a ser aceita em vários povos e culturas; e há as uniões de pessoas do mesmo sexo, que pretendem ser reconhecidas como casal e, muitas vezes, também adotam filhos.

Em muitos lugares, propaga-se uma cultura anticasamento, antifamília e antinatalidade, que diminuiu drasticamente; enquanto isso, sobretudo no Ocidente, aumenta o número de idosos. Tudo isso justifica bem que a Igreja volte uma renovada e especial atenção à família, partindo da sua convicção de fé e da sua antropologia.

Internamente, a Igreja se vê diante da situação dolorosa de muitos casais que, depois do fracasso do seu casamento, vivem uma nova união, mas, em consequência disso, não podem ter participação plena nos sacramentos. Mas também se depara diante de casamentos celebrados sem fé e sem a consciência do significado do casamento, nem do compromisso assumido. Há, ainda, a necessidade de mais ampla assistência pastoral e jurídica para as situações de nulidade matrimonial, de maneira que possam ser beneficiados os casais diretamente interessados.

Ao mesmo tempo em que a Igreja, a exemplo de Jesus Cristo, precisa ter para com todos uma atitude de acolhida e de misericórdia, ela não pode deixar de fazer um discernimento sobre o desígnio de Deus em relação ao homem e à mulher e sobre o casamento e a família, para proclamar esse desígnio salvador e chamar as pessoas a acolhê-lo como via justa para o seu viver. As duas assembleias anunciadas do Sínodo dos Bispos terão muito trabalho pela frente! E, assim queira Deus, trarão muitos frutos também.

*Arcebispo de São Paulo
@DomOdiloScherer