Jesus Cristo, companheiro de Inácio
Gilda Carvalho
Iñigo. Este era seu nome de batismo. Carregou-o por anos da mesma forma que cultivara dentro de si bons e grandes desejos: tornar-se cavaleiro do rei, conquistar a grande dama de suas afeições, ter sucesso em seus empreendimentos e ser reconhecido em seu meio social. Sonhos humanos. Nem bons, nem ruins. Humanos, apenas. Próprios de seu tempo e normais a qualquer rapaz de sua idade. E por eles lutava, obstinadamente.
Dá-se que em uma batalha foi ferido na perna. Que dor para um soldado fiel do rei: dor física e, maior, dor moral de ter que se afastar da peleja. Em sua convalescência pede livros para ler – de cavalaria, obviamente! Mas a devota cunhada não os tinha e ele – com resignação possivelmente mal-humorada – passa a ler a vida dos santos. E encontra o Santo, o próprio Senhor Jesus Cristo. A experiência daqueles dias no castelo do irmão transforma para sempre a vida de Iñigo, que não mais se chamará assim, mas Inácio. Inácio de Loyola, o companheiro de Jesus.
Experimenta-O na alma: repete e repete e repete orações e experiências místicas que o levarão a escrever o que chamou de Exercícios Espirituais. Essa experiência de relacionamento com Deus levou Inácio a um caminho de descobertas pessoais. Descobre o Senhor que sempre esteve presente em sua vida, que encarna no seio da humanidade para resgatá-la do pecado e, através de Jesus Cristo, chama a todos – homens e mulheres – para mais amar e servir e, assim, participar da glória de Deus.
Servidor de um novo rei passa a dar os Exercícios Espirituais para tantos outros que desejem repetir sua experiência. E não pára mais. Vai a Paris. Vai à Terra Santa. Vai a Roma. Caminha e caminha e caminha. Insere-se na Igreja e a transforma. Nasce a Companhia de Jesus que dará novo ânimo à vida da Igreja e espalhará seus ensinamentos mundo afora.
Ao longo de sua vida percebia a presença de Seu grande companheiro. Escutava-Lhe os conselhos, enxergava-O no mundo contemplando a glória de Deus através das próprias ações. E assim seguiram: Inácio e Jesus Cristo, companheiros.
Há quatrocentos e cinqüenta anos morria para o mundo o fundador da Companhia de Jesus. Para a glória de Deus nascia mais um santo; santidade que tempos depois a Igreja soube reconhecer e proclamar. Santo Inácio de Loyola não é um santo milagreiro. Foi simplesmente homem que caminhou e soube encontrar em suas peregrinações a pessoa de Jesus Cristo. Soube servir a seus Deus. Soube deixar-se mover pelo Espírito, entregue em suas asas. Foi homem que soube reconhecer Jesus Cristo em seu caminho e fazer do Filho de Deus seu companheiro de jornada. Este o seu maior exemplo para nós hoje.
Definitivamente, Inácio de Loyola não é santo milagreiro nem de grandes devoções. Só é capaz de amá-lo aquele que trilhou seus caminhos, que riu e chorou do mesmo riso e choro que ele experimentou, que abraçou o modo de viver que ele viveu, que aceitou o mesmo chamado que a ele foi feito e que, enfim, tornou-se, com e como ele, companheiro de Jesus Cristo.