José Oscar Beozzo: Dom Helder, pastor da libertação em terras de muita pobreza
IHU – Unisinos *
Adital – Ao se completarem os 100 anos de nascimento de Dom Helder Camara, no sábado, 07 de fevereiro, a Igreja do Brasil tem muito a agradecer e a se inspirar na vida e na obra do querido “Dom”, como ficou conhecido.
Nesta entrevista especial, concedida por e-mail a IHU On-Line, padre José Oscar Beozzo, um dos maiores historiadores da Igreja na América Latina, comenta alguns traços da vida do grande arcebispo de Olinda e Recife, um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Para Beozzo, os leigos e as leigas foram os “mestres de vida” de Dom Helder “para a atuação no mundo e para uma espiritualidade longe dos ranços clericais”. O Recife e o Nordeste, segundo o coordenador-geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (Cesep), tornaram-se “sua trincheira de onde fala ao Brasil, mas também à América Latina e ao mundo”. E analisa ainda a atuação internacional de Dom Helder, especialmente durante o Concílio Vaticano II, no qual, mesmo nunca tendo falado na Aula Conciliar, “tornou-se um dos mais ouvidos e respeitados padres conciliares”.
José Oscar Beozzo é padre e teólogo, com mestrado em Sociologia da Religião, pela Université Catholique de Louvain (Bélgica) e doutorado em História Social, pela Universidade de São Paulo (USP). Faz parte do Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina (CEHILA-Brasil), filiado à Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina e no Caribe (CEHILA). Também é sócio fundador da Agência de Informação Frei Tito para a América Latina (ADITAL). É autor de inúmeros livros, entre os quais “A Igreja do Brasil” (Vozes, 1993).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Há 100 anos, nascia Helder Pessoa Câmara, o futuro arcebispo de Olinda, reconhecido mundialmente pelo seu trabalho voltado a uma igreja mais simples, em contato com os pobres e pela não-violência. Quais foram os grandes passos que levaram aquele pequeno menino a ser um bispo católico reconhecido mundialmente, tendo recebido dezenas de prêmios internacionais, com quatro indicações ao prêmio Nobel da Paz?
José Oscar Beozzo – Os passos de Dom Helder não podem ser desconectados de algumas conjunturas nacionais, latino-americanas e internacionais que o interligaram com pessoas e eventos excepcionais.
Desde os tempos do seminário, interessou-se pela imprensa, tornando-se propagandista de O Nordeste, jornal da diocese, para o qual angariava assinaturas, o que lhe valeu memorável encontro com o Pe. Cícero, no Juazeiro. Começou também a publicar artigos na imprensa de Fortaleza, escondido por pseudônimo, até ser proibido pelo reitor do seminário. Posteriormente, imprensa escrita, rádio e televisão foram sempre instrumentos que manejava com maestria para passar adiante seus ideais, valores e mensagem.
O diácono Helder é ordenado padre em 1929, no turbilhão e desmoronamento do mundo econômico liberal na crise daquele ano. No ano seguinte, com as eleições presidenciais e a revolução de 1930, é o Brasil das oligarquias que rui. Entram em cena novos atores sociais no panorama político: os Estados da federação, de modo particular do Nordeste e do Norte, mais Rio Grande do Sul, até então excluídos da partilha do poder, concentrado em São Paulo e Minas Gerais, pela aliança café-com-leite; as classes médias urbanas; a classe operária; os tenentes do Exército, mas também a Igreja Católica alijada dos jogos do poder pelo laicismo republicano. Getúlio Vargas liquidou com a república velha e seu modelo agrário exportador, dando lugar a um projeto de desenvolvimento nacionalista, apoiado na industrialização do país e num pacto populista que uniria o empresariado nacional e os operários, sob a proteção, mas também controle direto, do Estado.
No Ceará, a Liga Eleitoral Católica (LEC) funcionou quase como partido político, tendo na sua coordenação o jovem Pe. Helder Câmara, que se aproximou dos integralistas de Plínio Salgado, abraçando seu ideário político. Em 1935, foi convidado pelo novo governador para assumir uma secretaria de governo, como diretor geral da instrução pública, no que seria hoje a secretaria de educação, num claro sinal desse retorno das hostes católicas ao jogo político. No final desse ano, atritos com o governador, na condução da política educacional, levam-no a pedir demissão e partir do Ceará para o Rio de Janeiro.
Funcionário público e discípulo de Dom Leme
No Rio de Janeiro, foi acolhido pelo conterrâneo Lourenço Filho no Ministério da Educação, dirigido por Gustavo Capanema. Em 1939, passou em concurso público para funções técnicas no Ministério. Na Igreja do Rio, foi recebido pelo Cardeal Dom Sebastião Leme. O Cardeal representou, internamente para a Igreja Católica, um contraponto ao projeto político de Vargas.
Leme tentou superar a atomização da Igreja e o isolamento das dioceses entre si, buscando estabelecer uma estratégia clara de ação e uma articulação do Episcopado para implementá-la. Reuniu os bispos em torno de si em maio e outubro de 1931 e depois para o Concílio Plenário Brasileiro, em 1939, com o intuito de traçar linhas de ação comuns. Tirou a Igreja da defensiva em que fora encurralada pela República Velha, trazendo-a para uma agenda propositiva, numa jornada em que foi auxiliado pela combatividade de Jackson de Figueiredo, da revista Ordem, do Centro Dom Vital, e pela densidade cultural, capacidade de escuta e articulação de Alceu Amoroso Lima à frente das instituições fundadas por Jackson de Figueiredo, da Liga Eleitoral Católica e depois da Ação Católica Brasileira (ACB).
Leme criou ainda, em 1935, a ACB, com abrangência nacional, mobilizando o laicato para uma atuação mais aguerrida nas estruturas sociais, políticas e culturais do país. Na capital da república, Helder trabalhou ainda como técnico do Ministério da Educação, entrando em contato com todo o debate sobre os rumos da educação no Brasil e a crescente atuação governamental nesse campo. Esse trabalho rendeu-lhe preciosos conhecimentos e contatos em toda a estrutura governamental. Essas relações seriam fundamentais no campo das relações entre a Igreja e o Estado, em sua posterior trajetória como bispo auxiliar no Rio de Janeiro e como secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Os leigos e as responsabilidades nacionais e internacionais
Através da Ação Católica de Pio XI, leigos e leigas foram seus mestres de vida, para a atuação no mundo e para uma espiritualidade longe dos ranços clericais. No Rio, o então Pe. Helder Câmara prosseguiu com seu envolvimento com os leigos, iniciado no Ceará com a Juventude Operária Católica, a Legião Cearense do Trabalho e a Liga dos Professores Católicos. Em 1950, tornou-se Assistente da nova ação católica especializada, convertendo em nacional seu raio de ação até então limitado ao Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano de 1950, suas funções de assistente nacional da Ação Católica levaram-no por primeira vez a Roma, para o Congresso Internacional da Ação Católica. Essa viagem propiciou-lhe o primeiro contato com Mons. Giovanni Baptista Montini, principal auxiliar do Papa Pio XII, a quem propusera a criação da Conferência dos Bispos do Brasil.
A criação da CNBB, em 1952, replicou em nível episcopal a plataforma de atuação nacional em que havia operado em nível do laicato. O papel de articulação que havia cumprido Dom Leme, pessoalmente, como cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, até sua morte prematura em 1942, passou a ser cumprido institucionalmente, de certa maneira, pela Ação Católica, mas, sobretudo, pela CNBB. O motor era, porém, o próprio Dom Helder, recém nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro e que assumiu a Conferência como seu primeiro secretário-geral, permanecendo nessa posição estratégica durante 12 anos, até 1964. Sua amizade com o Núncio Armando Lombardi, com quem se reunia a cada sábado, permitiu que uma legião de padres envolvidos na Ação Católica, com trabalhos valiosos na pastoral e na formação, fosse promovida ao episcopado, compondo um novo rosto da Igreja brasileira, mais próxima do povo, mais comprometida em suas lutas por superação da pobreza e por justiça e dignidade.
O XXIX Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro, em 1955, projetou Dom Helder como o grande organizador desse evento internacional e da I Conferência Geral do Episcopado Latino-americana, realizada logo em seguida. Da Conferência, resultou a criação do Conselho Episcopal Latino-americano, o CELAM. Em 1959, Dom Helder foi eleito um dos seus vice-presidentes.
O Congresso Eucarístico deu-lhe oportunidade para transformar a grande mobilização para organizá-lo, em iniciativas sociais de grande vulto, como a Cruzada São Sebastião, que pretendeu erradicar as favelas do Rio de Janeiro. Dom Helder constataria tempos depois, com certo desalento, que as favelas renasciam logo à frente, mais numerosas e esquálidas. A infra-estrutura humana do Congresso ensejou-lhe a promoção da Feira e do Banco da Providência, retaguarda para inúmeras iniciativas no campo social. O CELAM ofereceu-lhe uma plataforma continental para sua atuação e para a difusão de suas idéias e projetos, em perfeita sintonia com seu entranhado amigo, Dom Manuel Larraín, bispo de Talca, no Chile. O Concílio Vaticano II abriu para os dois – mas de modo particular para Dom Helder, com sua retórica inflamada e sua imaginação e audácia sem limites – a cena internacional.
IHU On-Line – O que caracterizou o trabalho de Dom Helder Camara como bispo e arcebispo de Olinda? Quem foi o pastor Dom Helder, tanto para a Igreja local quanto para a Igreja do Brasil?
José Oscar Beozzo – Olinda e Recife fizeram, por primeira vez de Dom Helder, o pastor com inteira responsabilidade, de uma porção concreta do povo de Deus, no coração do Nordeste, em terras de muita pobreza, mas também de tradição, lutas e esperança.
No Rio de Janeiro, como bispo auxiliar e depois como arcebispo, mas sempre auxiliar, teve sua ação cada vez mais cerceada pelo Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, cujas visões de Igreja e de sociedade foram cada vez mais se distanciando.
Dom Helder chega ao Recife em 11 de abril, sob o estigma de opositor do novo regime militar apenas instalado com o golpe de 31 de março de 1964. Logo depois, em outubro, é despojado da liderança institucional de secretário-geral da CNBB.
Recife e o Nordeste tornam-se então sua trincheira de onde fala ao Brasil, mas também à América Latina e ao mundo. Mantém um contato diário com seu povo, pela Rádio Olinda, com meditações diárias; anima a criação de grupos de reflexão, leitura bíblica, oração, solidariedade e ação social, apelidados de Encontro de Irmãos.
Lança a Operação Esperança, levando a reforma agrária às terras da arquidiocese e toma outras iniciativas no campo pastoral: noites de encontro com intelectuais e artistas, mas também com sindicalistas, estudantes secundários e universitários. Percorre os bairros, mocambos e favelas do Recife e do interior em contato direto com a população mais pobre.
De Recife, apoiado por um bom número de bispos do Nordeste e superiores religiosos provinciais e articulado por Dom Helder, partiu o primeiro grito mais consistente de crítica social e política ao regime militar, com o Manifesto de 1973: “Ouvi os clamores de meu povo”. O documento, considerado subversivo pelo regime, só pode se espalhar clandestinamente em edições mimeografadas e prontamente recolhidas pelos militares e pela polícia quando encontradas.
Dom Helder foi calado pelo regime militar e colocado no mais rigoroso ostracismo, mormente após o AI-5, em 1968. Foi proibido pela censura que rádios, jornais e televisões de todo o país retransmitissem suas mensagens ou até escrevessem ou pronunciassem seu nome. Só no exterior podia ele falar livremente a multidões cada vez mais numerosas e entusiastas, num sem número de países, mormente na Europa, Estados Unidos e Canadá. Sua forte presença internacional incomodou alguns episcopados, regimes políticos e finalmente Roma, que também cerceou e limitou suas viagens e pronunciamentos.
Nesse sentido, valeu por uma reabilitação, o abraço do Papa João Paulo II a Dom Helder, quando de sua visita ao Brasil em 1980. Ao descer do avião no aeroporto de Guararapes no Recife, ao mesmo tempo em que abraçava o arcebispo banido, exclamou, diante de todos os meios de comunicação do país: “Dom Helder, irmão dos pobres, meu irmão”!
IHU On-Line – Qual foi o papel de Dom Helder dentro do Concílio Vaticano II? Como ele colaborou para que as discussões e mudanças ocorridas em Roma chegassem até o Brasil?
José Oscar Beozzo – No Concílio Vaticano II, Dom Helder cumpriu um duplo papel, de animador e incentivador de propostas e iniciativas corajosas e proféticas, e de articulador incansável da maioria conciliar.
Valendo-se da posição estratégica que ocupava no terceiro maior episcopado mundial, como secretário-geral da CNBB e de sua função de vice-presidente do CELAM, que estreitava laços e de algum modo representava os 600 bispos latino-americanos e caribenhos, quase um quarto do episcopado mundial, Dom Helder mobilizou a ambos os episcopados para uma iniciativa audaciosa. Semanalmente na Domus Mariae, local de residência, durante o Concílio, dos bispos do Brasil, Dom Helder, junto com Larrain do CELAM e Etchegaray, secretário da Conferência Episcopal francesa, com o apoio do Cardeal Suenens, um dos moderadores do Concílio, passou a reunir representantes das conferências episcopais da Europa, Ásia, África, Oceania e Américas.
Essas reuniões influenciaram a agenda, as votações e os conteúdos do Concílio, por sua capacidade de refletir, avaliar, propor e articular uma ação concertada dos principais episcopados, vertebrando de certo modo a assembléia conciliar.
Dom Helder participou igualmente de algum dos grupos informais mais atuantes no Concílio, como o Grupo da Igreja dos Pobres, que reunia bispos dos vários continentes preocupados com o compromisso da Igreja com os pobres e com suas lutas para superar os males da pobreza e da miséria, por meio de maior justiça e de um desenvolvimento integral que atingisse a todos, de modo particular, os mais empobrecidos enquanto países e classes sociais.
Articulou o nascimento do Opus Angeli, grupo que acertou uma forma organizada de teólogos e especialistas nas diferentes ciências humanas e sociais de prestarem uma assessoria qualificada ao episcopado brasileiro. Essa colaboração foi estendida depois a outros episcopados e, sobretudo, às conferências episcopais articuladas entre si no Grupo da Domus Mariae.
Em relação ao episcopado brasileiro, tomou iniciativa e incalculável alcance o ciclo de Conferências, que passou a ser organizado na Domus Mariae a partir da primeira sessão conciliar e que se ampliou e a diversificou nas três sessões subseqüentes. Ali, para cada um dos temas em discussão na Aula Conciliar, foram convidados os melhores teólogos e especialistas dos vários países para falar aos bispos do Brasil, qualificando o episcopado brasileiro para uma participação cada vez mais consciente e fundamentada nos debates, propostas e votações conciliares. Fez assim, da CNBB, um verdadeiro Fórum de debates de todos os temas e assuntos conciliares, por mais difíceis e delicados que fossem.
Essa longa e enriquecedora convivência romana ao longo das quatro sessões conciliares fez da CNBB o episcopado que melhor se preparou para a recepção conciliar, o único a sair de Roma com um plano de aplicação do Concílio, pensado, debatido e votado no seu conjunto e detalhes e que foi batizado de PPP: Plano de Pastoral de Conjunto.
Dom Helder, que nunca falou na Aula Conciliar, tornou-se um dos mais ouvidos e respeitados padres conciliares. Sua voz que não se fez ouvir na Basílica de São Paulo estava quase que diariamente presente nos meios de comunicação social, com inumeráveis entrevistas e conferências, que eram retransmitidas pelas rádios e televisões de todo o mundo.
Sua grande tribuna conciliar foram os meios de comunicação social, tendo-se tornado um amigo de centenas de jornalistas que cobriram regularmente o Concílio de 1962 a 1965. Isso ajuda a explicar e enorme audiência internacional de Dom Helder, também nos anos que se seguiram ao Concílio Vaticano II.
IHU On-Line – Muito se comenta sobre o “Pacto das Catacumbas”, documento assinado por cerca de 40 padres, nas catacumbas de Domitila, em Roma, durante o Concílio, que teve grande influência na Teologia da Libertação. Poderia contar-nos mais detalhes sobre esse pacto?
José Oscar Beozzo – O Pacto das Catacumbas foi firmado pelos bispos pertencentes ao grupo Igreja dos Pobres. Quase 500 outros bispos aderiram ao documento, cujo título era: “O Pacto da Igreja pobre e servidora”, explicando assim seu impacto em praticamente toda a Igreja, indo da Europa, passando pela Ásia, África e chegando a América Latina, onde se encontrava o grupo mais numeroso de bispos comprometidos com essa linha de pensamento e ação.
O Pacto se desdobrava em 13 compromissos assumidos conjuntamente pelos seus signatários no sentido de viverem pobremente, quanto à habitação, vestuário, alimentação e meios de locomoção.
Isso explica porque Dom Helder, assim que pode, deixou o Palácio Episcopal de Manguinhos e foi viver pobremente na sacristia da Igreja das Três Fronteiras, no Recife, ou que nunca tenha tido um automóvel ou motorista ou ainda que usasse sua surrada batina branca, com apenas uma cruz de madeira, como insígnia episcopal.
A entrega das terras da arquidiocese a camponeses pobres que ali trabalhavam, empenhando-se em dar-lhes assistência técnica, jurídica e social para que conquistassem autonomia e cidadania, enquadrava-se nos compromissos do Pacto das Catacumbas que propunha ainda:
“Achando a colegialidade dos bispos sua realização mais evangélica na assunção do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física, cultural e moral – dois terços da humanidade – comprometemo-nos:
– a participar, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos episcopados das nações pobres;
– a requerermos juntos, ao plano dos organismos internacionais, mas testemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção de estruturas econômicas e culturais que não fabriquem nações proletárias num mundo, cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres, saírem de sua miséria”.
O Pacto propunha também uma mudança radical das relações entre os bispos e os leigos e leigas, sacerdotes e religiosos/as:
“Comprometemo-nos a partilhar na caridade pastoral, nossa via com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosas e leigos, para que nosso ministério constitua um verdadeiro serviço. Assim:
– esforçar-nos-emos para “revisar nossa vida com eles”;
– suscitaremos colaboradores para serem mais animadores, segundo o Espírito, do que chefes, segundo o mundo;
– procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores…;
– mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião”.
IHU On-Line – A partir da assinatura do Pacto, qual a relação de Dom Helder com a Teologia da Libertação?
José Oscar Beozzo – Em relação à Teologia da Libertação, Dom Helder instaurou em sua vida e em sua ação pastoral local e internacional, práticas profundamente libertadoras. Tanto no Concílio, como de modo particular em Medellín e Puebla, foi um dos inspiradores e realizadores da opção preferencial pelos pobres.
Sua prática libertadora serviu de inspiração e estímulo à reflexão teológica, e seu Instituto Teológico em Recife, o ITER, foi um dos principais laboratórios e centros de produção de uma teologia da libertação colada à prática das comunidades eclesiais de base e aos movimentos populares.
Dom Helder foi um bispo e um pastor da libertação, não se considerando ele mesmo um teólogo, e sim um inspirador e animador da reflexão teológica libertadora.
(Reportagem de Moisés Sbardelotto)
* Instituto Humanitas Unisinos