Jovens: “firmes na fé”
D. Odilo Pedro Scherer
O tema desta Jornada da Juventude, na Espanha, é belo, profundo e tem um significado muito atual: “enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” (cf Cl. 2,7). Na Carta aos Colossenses, São Paulo exorta os fiéis a não se deixarem abalar na fé em Cristo e a não se perturbarem com outros ensinamentos e propostas religiosas, ou não-religiosas.
“Fiquem firmes na fé em Cristo”, equivale a um apelo a não desanimar e a perseverar diante das dificuldades para ser cristãos. O tema aponta para o centro da vida cristã: nossa referência essencial a Cristo. Ser cristão é ser discípulo de Cristo; é estar ligado a ele com uma relação estreita e vital; é receber dele a vida nova, mediante a fé e o Batismo. Para São Paulo, isso significa “estar nele”, ser edificado sobre ele, estar enraizado nele.
Significa que “já não somos mais estrangeiros e estranhos a Cristo e a Deus, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (cf Ef 2,11-19). Sem essa referência a Cristo, o cristão perde o rumo e a Igreja, o seu sentido. A Igreja aponta para Cristo e convida jovens e adultos a encontrálo, a se deixarem encantar por ele, a experimentarem a alegria e a paz de estar em sua companhia; a acolherem sua Palavra e seguirem seus passos vida afora.
Sim, porque ele é o salvador, o pastor, que conduz e ama seu rebanho, que dá a vida pelas ovelhas; é a porta aberta que leva direto ao encontro com Deus; o “pão” que sacia toda fome e faz viver para sempre; a água que mata toda a sede; é a luz que permite caminhar sem tropeços e sem errar o caminho; é a verdade, a vida, o rosto humano de Deus… Isso interessa aos jovens?
Em nossos dias, o cristão encontra- se muitas vezes desafiado a viver sua fé em Deus e em Cristo, num contexto de esquecimento de Deus, numa espécie de “eclipse do sentido de Deus”, quando não, de clara negação e rejeição de Deus. Renascem movimentos de ateísmo militante e de negação e combatedo sentido da fé e da vivência religiosa. Sempre mais se afirma o laicismo na vida pública e se pretende até legislar para tirar dos espaços públicos os sinais e símbolos da fé, sob o pretexto de preservar a liberdade daqueles que não creem. Crer ofende a quem não crê?! Em nome do “Estado laico”, pretende-se relegar a fé e a religião, no máximo, para o espaço da vida privada, sem lhes reconhecer alguma relevância para o convívio social.
No entanto, quando se coloca Deus de lado, também o homem e o mundo perdem seu sentido. Sem uma referência consciente ao Criador, a criatura perde sua identidade e dignidade. O esquecimento ou desprezo de Deus estão na origem de tantos problemas do mundo e da sociedade. Por isso, é neces-sário e urgente que se reconheça novamente o primado de Deus na vida do homem. “Tudo muda, dependendo se Deus existe, ou não existe” (card. Ratzinger, Jubileu dos catequistas, 10.12.2000).
Na sua mensagem para a Jornada Mundial da Juventude de Madrid, o papa Bento 16 escreve: “Deus é a fonte da vida; eliminá-lo, equivale a separar-se desta fonte e, inevitavelmente, privar-se da plenitude e da alegria. Sem o Criador, a criatura se dilui” (Gaudium et Spes, 36). A fé é um dom de Deus, que ilumina a vida daquele que crê e a transforma. Só com a fé em Deus, mediante a qual o homem pode entrar em comunhão com Deus e estabelecer com ele um laço de confiança, é que a vida encontra sua plenitude. “Tu nos fizeste para ti, Senhor, e nosso coração anda inquieto enquanto não repousa em ti novamente, Senhor” (Santo Agostinho).
A fé nos faz aderir firmemente a Deus e a tudo o que ele significa e revelou para nós. Com frequência, o ato de fé é incompleto: “creio em Deus, mas…” Existe a tendência de fazer cortes e exclusões no conjunto das verdades da fé e, sobretudo, de desvincular a fé da vida: na prática, vive-se como se Deus não existisse, ou nada significasse para nossa vida e para o mundo. Um Deus “excluído” do mundo não equivale ao Deus da revelação bíblica e da fé cristã.
Jovens e menos jovens terão, em Madrid, uma bela oportunidade para se firmarem na fé, junto com o papa, os bispos e sacerdotes, e com tantos outros jovens, que para lá acorrerão (ou voarão…), de todas as partes do mundo! Sim, graças a Deus, não há só carentes e sedentos de fé em nossos dias, mas também testemunhas que a vivem alegremente. Em Madrid, veremos muitos jovens firmes na fé!