Mais ricos ou mais pobres?
Dom Pedro José Conti
Um pai muito rico quis ensinar ao filho, ainda criança, o valor das riquezas que possuíam. Isso para ele aprender desde cedo o valor dos bens materiais e do dinheiro. Nada mais simples para alcançar o seu objetivo do que levar o filho lá onde poderia conhecer a pobreza. Assim vendo pessoas carentes, o filho devia aprender a dar valor aos bens que um dia viria a administrar. O pai decidiu que passariam alguns dias num vilarejo perdido no meio da mata, bem na beira de um rio. A criança fez logo amizade com os meninos do lugar, brincou, pulou, aproveitou bem das novidades. Na viagem de volta, o pai quis indagar ao filho o que ele tinha achado da experiência, e o que tinha refletido vendo a vida simples daquelas pessoas. O garoto estava cheio de coisas para contar. Começou a dizer que era bem verdade que eles tinham uma piscina no quintal da casa, mas nada comparável com o tamanho do rio onde as crianças lá tomavam banho e brincavam. Também se lembrou das árvores que estavam bem enfileiradas no parque da mansão onde eles moravam, porém disse que tinha ficado espantado com o tamanho das árvores da floresta. Lá, sim, deu para subir bem alto. Por fim revelou ao pai que tinha visto animais desconhecidos: dois cachorros e cinco cavalos. Contudo lá havia perdido a conta dos cachorros e, sobretudo, tinha visto um monte de macacos pular entre os galhos das árvores. Tinha visto, ainda, uma cobra grande e até um jacaré.
Nesta altura o pai ficou perplexo e quis perguntar ao filho que conclusão tiraria daquela viagem. A resposta do filho, após ter visto tudo aquilo, foi: “Sabe pai, nós, em comparação a eles, somos muito pobres”.
Como sempre, cada história que conhecemos pode nos levar a conclusões diferentes.
Lembrei-me dessa, porque de 21 a 25 de julho ocorreu, em Porto Velho, Rondônia, o 12º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base com o tema “CEBs Ecologia e Missão”.
Mais uma vez a Amazônia levanta um grito por socorro e por respeito. Devemos sempre nos questionar o que será dessas imensas riquezas que formam o ambiente vital e de sobrevivência para os milhões de pessoas que moram por aqui. O que irá sobrar após ter tirado a madeira da mata, os minérios do subsolo e a água doce dos rios? Há bens que são dádivas da natureza. Continuam ficando para o bem e a alegria de todos, quando são respeitados por todos. Quando se tornam propriedades particulares só enriquecem uns poucos. Entendo que são assuntos grandes e sérios, entretanto o que está em jogo, nesses tempos, não é só o bem-estar de alguns, é, talvez, o equilíbrio ambiental do próprio planeta Terra. Tamanha é a responsabilidade dos poderosos quando tomam as decisões seguindo os seus interesses e não o bem da humanidade inteira.
A mesma reflexão vale se deixamos ecoar em nosso coração a página da multiplicação dos pães e dos peixes que o evangelho deste domingo nos oferece. Jesus nos apresenta o sinal da fraternidade: o pouco que se torna muito, quando o sabemos partilhar. Isso vale quando juntamos as nossas coisas, os nossos saberes, as nossas capacidades, para que todos possam enriquecer-se. Ninguém fica mais pobre, ao contrário todos ficamos mais ricos.
Deveria ser esta a experiência convincente das pequenas comunidades cristãs, animadas não pelo lucro ou o interesse imediato de alguns, mas pela alegria da fraternidade e da solidariedade, com o olhar sereno e confiante para o futuro delas e dos próprios filhos. Se isso é possível vivenciar em pequenos grupos, por que não poderia ser o caminho para um futuro de vida e paz para a humanidade toda?
A página da multiplicação dos pães e dos peixes, mais do que um milagre de Jesus é, portanto, um sinal do seu projeto de amor. Mais uma vez devemos lembrar que o que chamamos de “meu” será desfrutado somente por nós. Talvez satisfaça a nossa ganância e o nosso orgulho. Porém o que é partilhado e é de todos, satisfaz a todos, sobra para todos, faz a alegria de todos.
Vamos rezar, esperar e lutar para que a Amazônia continue a ser um bem precioso para todo o povo brasileiro e para toda a humanidade. Todos ficaremos mais ricos e nada ficará perdido. Ainda há tempo.