Mensagem do CELAM diante da crise atual
1. A Presidência do CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano), reunida em Bogotá nos dias 05 e 06 de fevereiro, com os Bispos Diretores dos Departamentos e Centros, no espírito da Missão Continental, manifesta sua preocupação e sua solidariedade diante da grave crise atual. Ao mesmo tempo, chama a atenção sobre a responsabilidade que todos nós temos: governantes, políticos, empresários, trabalhadores, associações civis e comunidades religiosas dos diversos credos, de promover a humanização das estruturas políticas, econômicas e de desenvolvimento, para que estejam a serviço do bem comum, da primazia do trabalho sobre o capital e da produção sobre as finanças. Queremos percorrer juntos este caminho de ameaças e de oportunidades, apostando nos valores da democracia, da participação e do diálogo.
2. “Ninguém coloca um remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo repuxa a roupa e o rasgão fica ainda maior..” (Mt 9, 16), palavras do Evangelho que Bento XVI recordou em sua bênção de Ano Novo. A referência faz clara alusão às medidas que temos de tomar diante da atual crise econômica global. Para o Pontífice, esta crise põe a prova o futuro da globalização. Na realidade, a crise atual não é o resultado de dificuldades financeiras imediatas, mas é uma consequência do estado da saúde ecológica do planeta, sobretudo, da crise cultural e moral que vivemos, cujos sintomas são evidentes há tempo em todo o mundo. (cf. Bento XVI, Homilia de 1º. de janeiro de 2009).
3. À luz do apelo do Papa, esta situação alarmante nos interpela duplamente: de um lado, nos compromete a expressar nossa solidariedade em ações e obras concretas, que facilitem a busca de soluções para os problemas do desemprego; da fome; da migração forçada; a deterioração da saúde e da perda de qualidade de vida dos pobres que, como sempre, são as vítimas mais afetadas das crises; por outro lado, nos estimula a empenhar os melhores esforços das universidades e dos institutos católicos, de investigadores e agentes de pastoral social, para contribuir na formação de um novo modelo de desenvolvimento para a América Latina e o Caribe e de um sistema econômico mundial mais bem regulamentado, que elimine a pobreza e promova a justiça e a solidariedade em nosso Continente, tristemente o mais desigual do planeta.
4. Os Bispos da América Latina e do Caribe, reunidos em Aparecida, advertiram que a “globalização comporta o risco do fortalecimento dos grandes monopólios e de converter o lucro em valor supremo” (cf. Documento de Aparecida, n. 60). Daí, a urgente necessidade de que a globalização deva reger-se pela ética, colocando tudo a serviço da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus. (Ibid.). A atual crise financeira tem manifestado a ambição excessiva do lucro acima da valorização do trabalho e do emprego, transformando-o em um fim em si mesmo.
5. Essa inversão de valores corrompe as relações humanas substituindo-as pelas transações financeiras, que deveriam estar a serviço da produção e da satisfação das necessidades humanas. Ficou evidente que a globalização, tal como está configurada, atualmente, não tem sido capaz de interpretar e reagir em função de valores objetivos, que se encontram para além do mercado e que constituem o que há de mais importante na vida humana: a verdade, a justiça, o amor e muito, especialmente, a dignidade e os direitos de todos, inclusive, daqueles que vivem à margem do próprio mercado (cf. DA, n. 61). A economia internacional tem concentrado o poder e a riqueza nas mãos de poucos, excluindo os desfavorecidos e aumentando a desigualdade (cf. DA, n. 62).
6. Isso nos leva a considerar seriamente a necessidade de estabelecer as bases para uma nova ordem internacional, fundada em novas regras de jogo, que também tenham em conta os valores do Evangelho e os ensinamentos sociais da Igreja, a fim de promover uma globalização marcada pela solidariedade e pela racionalidade, que faça deste Continente, não só o Continente da esperança, mas também o Continente do amor. (cf. DA, n. 64). Para alcançar esse propósito, torna-se indispensável a presença e a colaboração de todos os homens e de todas as mulheres de boa vontade, sem discriminação religiosa, cultural, política e ideológica.
7. Diante do desejo de construir a paz, uma vida mais digna e plena para todos e de abrir caminhos de esperança para os pobres e excluídos, queremos concluir, fazendo nossas as perguntas de Bento XVI: “Como não pensar em tantas pessoas e famílias afetadas pelas dificuldades e as incertezas que a atual crise financeira e econômica tem provocado em escala mundial? Como não recordar a crise alimentar e o aquecimento climático, que tornam ainda mais difícil o acesso à alimentação e à água para os habitantes das regiões mais pobres do planeta?” (Discurso aos Membros do Corpo Diplomático, 8 de janeiro de 2009).
Esses questionamentos fazem ressoar hoje, com mais veemência, a dramática pergunta de Deus a Caim que nos afeta a todos, nos interpela e não nos pode deixar indiferentes: “onde está teu irmão” (Gen. 4, 9).
Bogotá, 7 de fevereiro de 2009
+ Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, Brasil
Presidente do CELAM
+ Baltazar Enrique Porras Cardozo
Arcebispo de Mérida, Venezuela
Primeiro Vice-presidente do CELAM
+ Andrés Stanovnik, OFM.Cap.
Arcebispo de Corrientes, Argentina
Segundo Vice-presidente do CELAM
+ Víctor Sánchez Espinosa
Arcebispo eleito de Puebla-México
Secretário-geral do CELAM
+ Emilio Aranguren Echeverría
Bispo de Holguín, Cuba
Presidente do Comitê Econômico do CELAM
julio
fev 19, 2009 @ 07:56:20
Beleza de mensagem dos Bispos da América Latina sobre a crise global que atinge mais intensamente os mais pobres.Vamos divulgá-la pois os meios de comunicação não irão faze-lo.A proposta da Igreja é uma luz no fim do túnel.