Militarização da chamada ajuda humanitária está destruindo mais o Haiti
Natasha Pitts
Agência Adital
Com a justificativa de ajudar o Haiti nesta fase pós-terremoto de 12 de janeiro, cresce a cada dia a militarização da ajuda humanitária para o país. Mesmo que as maiores necessidades da população afetada sejam, água, comida, roupas e medicamentos, tropas estadunidenses e brasileiras estão ocupando o território sem data para sair.
Segundo análise de Nildo Ouriques, professor de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (Iela), não há previsão de saída para as tropas estadunidenses, já os militares brasileiros dizem não poder se retirar do país antes de cincos anos.
“A permanência das tropas no Haiti é mais um desastre e mostra que esta militarização da chamada ajuda humanitária está destruindo ainda mais o país. O Brasil e os Estados Unidos estão querendo ficar mais tempo no Haiti. Ninguém está interessado em marcar uma data para sair. Não podemos aceitar a presença permanente dessas tropas, pois, com isso, o povo haitiano nunca vai adquirir musculatura para reerguer o seu país. Mesmo assim, toda ajuda realmente humanitária é decisiva nesse momento para o Haiti.”, afirma.
Há poucos dias, a especulação sobre a presença de petróleo no Haiti foi colocada como o motivo para as tropas militares estadunidenses continuarem ocupando o país. Os militares estariam tomando conta das reservas petrolíferas descobertas há anos que estariam sendo guardadas para quando o petróleo do Oriente Médio estivesse se tornando escasso, o haitiano fosse usado. Outra especulação que justificaria a ocupação é com relação ao uso de portos de águas profundas do Haiti para refinarias de petróleo.
Apesar de todas as informações e evidências, Ouriques acredita que os Estados Unidos não precisam destas desculpas para continuarem no Haiti. “Por enquanto, a presença de petróleo no Haiti é só uma especulação, mas temos que ficar atentos. Os Estados Unidos não precisam dessas desculpas para continuar intervindo no país. Não pode existir este intervencionismo mesmo quando existe intervenção humanitária. Ajuda humanitária e intervencionismo são duas coisas diferentes”, diz.
Outras denúncias sobre a atuação dos Estados Unidos no Haiti estão relacionadas a uma suposta “máquina americana de fabricar terremotos”, conhecida por Projeto Haarp que teria causado a tragédia de 12 de janeiro, o tsunami na Indonésia e terremotos na China, entre outras tragédias de grandes proporções.
“Não podemos descartar a ciência como uma força que organiza nossas vidas e também a vida dos Estados. A capacidade cientifica dos cientistas americanos é muito grande. Essas informações são preciosas, mas não são definitivas. Podem ser verdade, mas é preciso ter cautela. O que nós não podemos fazer é descartar, temos que analisar e seguir acompanhando tudo o que acontece no Haiti”, opina Ouriques.
O professor lamenta ainda que, apesar da gravidade da situação haitiana, a tragédia deva ser esquecida em pouco tempo. “A comunidade internacional, as grandes potências imperialistas, vão abandonar o Haiti no esquecimento ao qual ele sempre esteve submetido. Duvido que os debates sobre o Haiti tenham servido de alerta para a situação a qual o país já estava submetido há anos. E continuará não havendo condescendência com esta nação”, lamenta.