Missão: nova evangelização
Cardeal Odilo Pedro Scherer*
O Domingo das Missões, no Ano da Fé, recorda-nos que a verdadeira obra missionária da Igreja é fruto da fé: o desejo de anunciar e de partilhar a experiência gratificante da fé nasce da alegria de crer e da consciência sobre a preciosidade do dom recebido, que não deve ser escondido nem conservado somente para si. Eis o motivo porque no esforço da nova evangelização, a Igreja convidou a todos os seus filhos a celebrarem o Ano da Fé. Sem refazer-se na origem da fé, que é o encontro com Deus por meio de Jesus Cristo, não haverá ardor missionário nem renovação da Igreja. Na linguagem da Conferência de Aparecida, isso significa que, para ser missionários, é preciso, antes de tudo, ser discípulos.
Recentemente, na audiência concedida aos membros do Pontifício Conselho para a promoção da Nova Evangelização, o papa Francisco resumiu em três pontos as necessidades mais prementes da nova evangelização: o primado do testemunho, a urgência de ir ao encontro dos outros e um projeto pastoral centrado no essencial.
O anúncio do Evangelho é confrontado hoje, muitas vezes, com a indiferença de quem já não lhe dá importância e não tem interesse em ouvi-lo. Como despertar nos corações um renovado interesse pela mensagem da salvação? Aqui entra o papel do testemunho de quem crê. É muito importante que os cristãos mostrem a sua fé através de convicções firmes, da vida coerente com ela, da alegria e da serenidade que ela traz. Mostrem, por outro lado, que a fé muda a pessoa para melhor e a torna humanamente rica de virtudes.
Esse testemunho fará com que outras pessoas se interroguem sobre as razões da fé, da alegria, da luz e da fortaleza que ela traz; a fé não livra magicamente de todos os problemas, mas oferece vigor e compreensão nova para as várias situações da vida, mesmo dos sofrimentos. A fé traz consigo a esperança revigorante e a caridade operosa. Hoje, como no passado, esses testemunhas fidedignos da fé são muito necessários para atrair para Jesus Cristo e para a beleza do encontro com Deus!
A nova evangelização também é a renovada busca do encontro com quem perdeu a fé e o sentido profundo da vida. Isso faz parte da própria razão de ser da Igreja: o Filho saiu do Pai e veio ao mundo, ao encontro da humanidade, para lhes trazer a vida; da mesma forma, ele enviou os discípulos ao encontro de todos os povos para lhes levar a Boa Nova da salvação. Cada cristão, fiel a Cristo, também tem a vocação de ir ao encontro dos outros, de dialogar com quem pensa diversamente de nós, ou que perdeu a fé.
Ninguém está excluído da esperança, da vida e do amor de Deus. A Igreja é enviada ao mundo para levar a todos esta esperança,especialmente a quem está sufocado por condições de vida adversas e, por vezes, desumanas. Em toda parte, faz falta o “oxigênio do Evangelho”, o sopro do Espírito de Cristo ressuscitado, que reacende a fé e a esperança nos corações. Disse o papa Francisco: “a Igreja é a casa onde as portas estão sempre abertas, não apenas para que cada um entre, encontre acolhida e possa respirar amor e esperança, mas também para que nós possamos sair e levar aos outros esse amor e essa esperança; o Espírito Santo nos impele a sair do nosso recinto e a nos conduz às periferias da humanidade”.
Isso, porém, não se improvisa, mas requer o esforço comum de um projeto pastoral voltado para o essencial e que seja centrado no essência, ou seja, em Jesus Cristo. “Não devemos nos perder em tantas coisas secundárias e supérfluas, mas é preciso concentrar-se sobre a realidade fundamental, que é o encontro com Cristo e a sua misericórdia e seu amor, e com o amor aos irmãos” (cf. L’Osservatore Romano, ed de 14/15.10.2013).
*Arcebispo de São Paulo
@DomOdiloScherer