Mudanças climáticas
Dom Demétrio Valentini
Nestes dias, as atenções do mundo se voltam para a cidade de Copenhague, na Dinamarca. Mais do que decidir os jogos olímpicos de verão em 2016, nesses dias em Copenhague as Nações Unidas voltam a discutir as mudanças climáticas, na busca de um consenso mínimo para as providências a serem tomadas para limitar sua expansão e diminuir seus impactos.
Os diversos fenômenos climáticos, ocorridos nestes dias, convergem para uma constatação, cada vez mais clara e preocupante. Enchentes, terremotos, tsunamis, parece que o planeta está reagindo às agressões que sofre de nossa parte, pelo impacto causado, sobretudo, pela crescente emissão de gases que produzem o efeito estufa, que tende a elevar a temperatura do planeta, provocando uma série de conseqüências, cujas proporções ainda não temos condições de avaliar com precisão, mas que já se manifestam através de alguns sintomas inequívocos.
O mais evidente de todos é o derretimento das geleiras, seja nas proximidades dos pólos, como nas montanhas. Nestas, concretamente, as mudanças são evidentes e indiscutíveis. Basta comparar, por exemplo, a camada de neve nos Alpes ou nos Andrés. Tempos atrás se falava, figurativamente, de “neves eternas”, tal a constância da situação, que permanece inalterada ao longo dos anos.
Basta cotejar as fotos do ano anterior, e constatar quanto a situação está mudada.
Olhando essa situação em perspectiva, os cenários ficam preocupantes.
Nestes dias tive a oportunidade de passar uma semana em Lima, no Peru. Por circunstâncias curiosas de sua localização geográfica, Lima nunca em chuva. Colocada à beira do mar, no Pacífico, e encostada na cordilheira dos Andes, a cidade pode até ficar coberta de nuvens, mas as precipitações pluviométricas caem nos Andes ou mar a dentro. Porém a água, preciosa e indispensável, acaba chegando abundante em Lima, descendo das montanhas. Sua fonte maior são as geleiras no alto da cordilheira. Acontece que estas geleiras estão diminuindo a olhos vistos. Por enquanto a água continua chegando. Mas todos fazem a mesma pergunta, que por enquanto fica sem resposta: como será quando as geleiras se derretem todas?
A mesma pergunta é feita em Mendoza, na Argentina, pelos donos dos lindos parreirais, favorecidos pelo mesmo fenômeno: nunca chove, mas a água abundante para irrigar as parreiras desce das geleiras dos Andes. E quando elas acabarem?
Outros fazem perguntas mais dramáticas. Pois o derretimento das geleiras, sobretudo as dos pólos, precipitará no mar uma quantidade enorme de água, que forçosamente irá provocar uma sensível elevação dos oceanos, com a conseqüente inundação de extensas áreas que agora estão à beira do mar. Também aqui, a pergunta unânime permanece sem resposta.
O caminho da racionalidade começa perguntando pelas causas dessa situação que vai ficando sempre mais evidente. Por enquanto é apontada uma causa, consistente, mas que por sua vez precisa ser desdobrada em outras causas que a antecedem. É evidente que as geleiras derretem por causa do calor. O derretimento aumenta porque aumenta o calor. Portanto, a causa está no aquecimento global.
Aí se chega ao vilão da história: o aquecimento global é produzido pelo aumento dos gases que produzem efeito estufa. Isto é, aquecem a atmosfera. Em princípio, estes gases são bons, pois sem eles a temperatura da superfície terrestre ficaria perto dos 15 graus abaixo de zero, e não haveria vida nenhuma em nosso planeta. Acontece que estes gases aumentaram muito, pelo crescente lançamento de gás carbono, produzido pela combustão dos motores, que acionam as indústrias, e pelos milhões de automóveis que andam pelas ruas. Pronto, está localizada a causa! Mas quem está disposto a desligar os seus motores?
Por aí se percebe a complexidade do problema. A humanidade, despreocupada com o destino do planeta, até hoje aprendeu a explorar suas riquezas, achando que eram inesgotáveis. . Está na hora de ouvir seus gritos, enquanto é tempo, para reverter um colapso, que não interessa a ninguém.